Os três níveis da vida psíquica e o desenvolvimento humano

A personalidade constitui-se a partir de três níveis que são interconectados. Eles têm a função de especificar os interesses, os conhecimentos, a observação da pessoa e do mundo ao seu redor, relaciona-se, em parte, com a teoria das necessidades de Murray. No processo de desenvolvimento intrapsíquico, a pessoa suprassume um nível inferior em vista de alcançar o nível superior, ou seja, encontrar um sentido para sua vida. Tais são eles: o psicofisiológico, o psicossocial e o racional-espiritual.

O nível psicofisiológico determina a atividade mental para a satisfação das necessidades fisiológicas básicas. Ele se origina pelo sentimento da fome, por exemplo. Portanto, necessita de um objeto concreto, bem específico, que será apropriado pelo sujeito, no caso, o alimento. Nesse nível, o sujeito se define com base no próprio corpo, ele só consegue observar a realidade em vista de satisfazer a sua necessidade, ou seja, matar a fome. Constitui uma interpretação individualista e utilitária da vida numa relação entre sujeito e objeto.

No nível psicossocial, o sujeito age em relação à necessidade de desenvolver relações sociais, deseja constantemente “estar com” alguém. A sua motivação se dá na consciência de necessidade do outro e que só se satisfaz no relacionamento. Busca de relação em profundidade e pessoas que tornarão esta relação gratificante, aqui não existe relação sujeito-objeto, mas entre sujeitos. Nessa dimensão da intersubjetividade, o indivíduo se define baseado em talentos socialmente valorizados.

Quanto ao nível racional-espiritual, este é o mais profundo de todos, ele faz com que o sujeito busque o sentido da vida. Nesse nível, o sujeito tem a capacidade de abstrair a essência das coisas. Através da inteligência, a pessoa busca a verdade, e pela liberdade ela busca o bem. O objeto buscado não pode ser apropriado nem interpretado, aqui não é possível satisfazer-se plenamente, pois o sujeito nunca alcança a totalidade da verdade e do bem, mas há uma busca constante.

Percebe-se um distanciamento do imediatismo instintivo e social, há uma nova maneira de relação do indivíduo com o ambiente. Ocorre uma abertura do sujeito sem intenção de recompensa, é uma abertura espontânea de relação. O sujeito racional-espiritual se define não pela satisfação de desejos nem pelo reconhecimento dos outros, mas baseado no próprio projeto de vida.

Quando o sujeito alcança o terceiro nível de desenvolvimento em todas as dimensões da vida psíquica, pode-se dizer que ele alcançou a maturidade plena. Contudo, a unidade da pessoa não impede a variedade de níveis, essa ocorrência é chamada dinâmica reducionista, ou seja, primazia de um nível inferior num sujeito teoricamente maduro. Este é um aspecto que necessita ser trabalhado por ele.

A realidade intrapsíquica da pessoa é um mistério, pois toda experiência interna é subjetiva. Desse modo, a maturidade é alcançada pelo sujeito capaz de integrar a grande variedade de experiências vividas.

Segundo Lima Vaz (Antropologia filosófica I, 2002), a pessoa é constituída de três categorias: primeira, o corpo, que situa o homem no mundo, é a dimensão expressiva do ser humano, ou seja, é responsável por captar experiências do mundo externo. A segunda é o psiquismo, que tem como principal característica ser o modo como o sujeito traduz no seu mundo interior as experiências do mundo exterior. A terceira é o espírito, esta constitui o ápice da unidade da pessoa, pois suprassume as demais e possui como característica principal possibilitar ao homem uma abertura radical, que é constituída pela dimensão da inteligência que busca a verdade e a dimensão da liberdade que busca o bem.

Portanto, toda pessoa humana possui em si a potencialidade de abertura à verdade e ao bem, é imprescindível que todos busquem o crescimento e estejam abertos às mudanças normais e necessárias da vida.