PROLEGÔMENOS AO SER CATEQUISTA

Hoje, parece necessário refletir sobre o conjunto do ensinamento catequético da Igreja, e com a finalidade concreta de evocar algumas verdades fundamentais da doutrina católica que, no atual contexto, correm o risco de serem deformadas ou negadas. De fato, formou-se uma nova situação dentro da própria comunidade cristã, que experimentou a difusão de múltiplas dúvidas e objeções de ordem humana e psicológica, social e cultural, religiosa e até mesmo teológica, a propósito dos ensinamentos da Igreja.

Na atual conjuntura a relação com o Sagrado, assume conotações que se inspiram na surrada frase do filósofo alemão, Friedrich Nietzsche, “Deus morreu ”. Tal morte, na concepção do filósofo, é o desmoronamento da fé em de Deus, e sem a base do existir, o ser humano sente-se desorientado e acabará experimentando a angústia que atinge substancialmente o ser: a fragilidade do existir humano. É justamente nisso que a Catequese vem lembrar e convocar todos os cristãos, de que “a fé não é uma teoria, mas uma realidade vivida pelos membros da comunidade” (DNC 52), por isso, quis Deus utilizar-se de pessoas que se propõe a anunciar a sua Boa Nova. Destardes, este é um dos fundamentos do ser catequista, que se inspira na figura de Maria, a qual gera para si o Cristo e, posteriormente, aos demais.

O trabalho realizado pelo catequista na comunidade cristã traz consigo sua dignidade, a qual visa “procurar compreender o significado dos gestos e das Palavras de Cristo e dos sinais realizados por Ele (CaIC 426), tendo como busca o conhecimento espiritual e nem menos importante, o intelectual, para assim melhor anunciar a Encarnação do Filho de Deus, na pessoa de Jesus Cristo. Um conhecimento estacionado no nível intelectual é manco, pois não possui o essencial da vida cristã: a Espiritualidade. Entretanto, muito mais do que transmissão de conceitos; o catequista deve apontar o Cristo que é o fundamento da sua fé, e é nessa íntima relação com Ele que deve-se transformar as palavras em atos. É nesse momento que nasce a finalidade da catequese, que visa “levar à comunhão com Jesus Cristo só ele pode conduzir ao amor do Pai no Espírito e fazer-nos participar da vida da Santíssima Trindade” (CaIC 4626).

“Isso que vimos e ouvimos, nós vos anunciamos, para que estejais em comunhão conosco” (1Jo 1, 3ª), é a comunhão que baseia-se na Trindade, pois, “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco” (1Cor 13,13). Mesmo em comunhão cada qual conserva a sua individualidade, como diz são Paulo “como o corpo é um, embora tenham muitos membros, e como todos os membros do corpo, embora sejam muitos, formam um só corpo, assim acontece também com Cristo. De fato, todos nós, judeus ou gregos, escravos ou livres, fomos batizados de um único Espírito. Com efeito, o corpo não é feito de um só membro, mas de muitos membros. Se o pé disser: “Eu não sou mão, portanto não pertenço ao corpo”, nem por isso deixa de pertencer ao corpo. E se o ouvido disser: “Eu não sou olho, portanto, não pertenço ao corpo”, nem por isso deixará de pertencer ao corpo. E se o corpo todo fosse ouvido, onde estaria o olfato? De fato, Deus dispôs os membros, e cada um deles, no corpo, conforme quis. Se houvesse apenas um membro, onde estaria o corpo? Mas, de fato, há muitos membros e, no entanto, um só corpo. Vós todos sois o corpo de Cristo e, individualmente, sois membros desse corpo” (1Cor, 12,12-20,27).

Um dos “temas centrais da formação do catequista é a sua espiritualidade: ela brota da vida em Cristo, que se alimenta na ação litúrgica e se expressa a partir da própria atividade de educador da fé, da mística daquele que está a serviço da Palavra de Deus”. A Divina Liturgia foi durante séculos e continua hodiernamente sendo aonde há o encontro com a Poesia que se fez carne, Jesus, o Cristo. Perscrutá-la é tentar compreender o mysteryum fides (mistério da fé), sendo a Nova Aliança entre o divino e o humano, em que Jesus é o rosto divino do homem, e o rosto humano de Deus. A palavra liturgia significa originalmente obra pública; serviço da parte do povo e em favor do povo. Partindo do pressuposto que seja uma “obra pública”, as igrejas nada mais são do que a manifestação da fé particular que é comum aos demais, por isso, comunidade de fé. Ela é muito mais do que sacramentos, isto é, sinais sensíveis (palavras e ações), acessíveis à humanidade é o píncaro para o qual tende toda ação, e ao mesmo tempo é a fonte donde emana toda a sua força, sendo Cristo a Cabeça da Igreja (Caputis Eclésiam) o seu coração chama-se Liturgia. Ela é um memorial (uma atualização) da Revelação acontecida no passado, “o catequista experimenta a Palavra de Deus em sua boca, à medida que, servindo-se da Sagrada Escritura e dos ensinamentos da Igreja, vivendo e testemunhando sua fé na comunidade e no mundo, transmite para seus irmãos essa experiência de Deus” (DNC 28).

Há três características da fé, a saber: a fé celebrada, a fé professada, e a fé vivida, por isso, ela engloba o ser humano em sua totalidade, requerendo do catequista a compatibilidade entre as duas primeiras com a terceira. Ajuda-se na compreensão disto a epístola de são Tiago, ao afirmar que “a fé se não se traduz em ações, por si só é morta, continua ele, assim é que se deve dizer: “tu tens a fé, e eu tenho as ações”! Mostra-me a tua fé sem ações, que eu te mostrarei a minha fé a partir de minhas ações” (Tg 3, 17-18). Pois bem, a conseqüência disso será uma melhor aptidão para anunciar o Evangelho e os ensinamentos da Igreja, não querendo tender para o lado duma imposição da fé, pelo contrário, buscar o diálogo com o diferente (o outro) sempre respeitando a história que este traz consigo. Caso uma das partes julga-se saber mais e, a outra pouco ou quase nada, não haverá diálogo, e sim aula, não sendo este o sentido da fé professada, e sim, conduzir o outro ao assombro do mistério do Deus-Encarnado feito Jesus Cristo.

Atualmente, corre-se o perigo de não mais reconhecer Deus nos outros, o que é pior, ignorar que o esse outro é a Epifânia, manifestação de Deus. “O segredo de uma vida de oração profunda não está no tempo que se consagra a esse exercício, ou no método que se adota, mas no amor crescente pelo Cristo. Aparecem aqui, no entanto, as dificuldades. Que é amar o Cristo? Como fazê-lo? Talvez, seja mais fácil amar o próximo, ou mesmo ao inimigo. Mas que significa a amizade pelo Cristo? João Batista, os Apóstolos, e a Virgem Maria viveram com ele: viam-no e ouviram; como não o teriam amado? Mas amá-lo sem vê-lo! [...] é nesse tempo que o mistério da Encarnação atinge o homem em sua vida cotidiana, em sua vida de oração. Se Deus tomou uma fisionomia humana, foi para ser visto e, depois, imaginado. Posso atribuir-lhe este ou aquele rosto, não importa que rosto, não importa que rosto humano, a fim de contempl-lo e amá-lo. De fato, não se ocultou ele próprio, ao mesmo tempo que se revela, depois da Ressurreição, sob aparência de um viajante, os peregrinos de Emaús; de um jardineiro, a Maria Madalena; de um ribeirinho aos Apóstolos que pescavam no lago? Quanto a nós, se cremos que ele vive e está presente, pouco importa que permaneça invisível em sua fisionomia própria. Qualquer rosto de homem pode ser o seu e revelar-nos sua pessoa” (Max Thurian).

Assim sendo, a missão do catequista é de promover através de sua vida ordinária a fé da qual professa. “Como poderiam invocar aquele em quem não creram? E como poderiam crer naquele que não ouviram? E como poderiam ouvir sem pregador? E como podem pregar se não forem enviados?, continua o Apóstolo citando Isaías, Senhor, quem acreditou em nossa pregação? Pois a fé vem da pregação e a pregação é pela palavra de Cristo” (Rm 10,14-17). Por isso, que a fé nasce da capacidade de ouvir e, consequentemente, mostra a toda comunidade de fé que ser catequista equivale a dizer: “sede meus imitadores, como eu sou de Cristo” (1 Cor 11, 1).

Dixit.