A vitória do Padre
(Com este artigo, quero agradecer e homenagear as
inteligências que me apoiaram na coordenação de
uma das campanhas mais deliciosas entre todas as
que já coordenei. Dico Serrano, William Laranjeira,
Jauro e Jaci Peixoto, Lauro e Luiz Garcia, Alana
Freitas, Leandro Dourado, Polly, Ísis Rígoh, Dalva,
Karine, Lucas e toda a comunidade de Buritizeiro:
a vitória é de vocês)
Hoje é meu aniversário. Poucos sabem disso. Os poucos que sabem, mesmo que queiram, não saberão como me parabenizar. É que vim para bem longe de todos numa tarefa inadiável: estou conversando comigo mesmo; temos que nos avaliar muito antes da próxima ousadia.
Encontrar-me tem sido uma terapia nem sempre muito pacífica. Somos geniosos. Mas sempre nos entendemos, custe o que custar. Agora mesmo tenho defendido a continuidade da coluna Palavra de Poeta nos jornais de São Paulo, a atualização diária dos textos no Recanto das Letras, a retomada das palestras sobre literatura e arte, a volta aos palcos com os recitais, até mesmo um novo programa de rádio. Mas aqui, de mim para mim, não existe acordo satisfatório. Talvez devesse realmente me dedicar apenas ao livro que planejo desde os anos 80.
O certo, o indiscutível, o concreto e incontestável entre todos os últimos acontecimentos é que lá, nas barrancas do Velho Chico, no Norte de Minas Gerais, no extenso município de Buritizeiro, uns “sem-dinheiro” venceram vários endinheirados.
É exatamente por causa disso que ainda existe esperança. Ora, se o povo pode dar ao pobre o poder, por que é que o pobre não pode dar ao povo o conhecimento?
Em Buritizeiro, o Padre virou prefeito porque fizemos a coisa certa. Agora — na opinião pública — ele deixa de ser um pobre padre. Ele agora não está mais em confronto com os ricos candidatos. O povo fez sua parte. Sai de cena o Padre, entra em campo o prefeito. E a voz de Deus, mais do que nunca, agora se torna a voz do povo: Deus agora exige emprego, saúde, exige educação de qualidade, justiça social, melhor distribuição de renda; Deus agora troca a benevolência das eleições pela autoridade implacável de quem tem pressa.
Aí está o desafio do Padre. Ele quis e o povo lhe deu a batuta. A mim, cabe a ousadia dessa análise. Tenho autoridade suficiente para fazê-la porque foi a mim que o povo atendeu quando chamei todos para o desafio de enfrentar os “imbatíveis”. Alerto os eleitos, porque lhes ensinei o caminho da vitória. Ou já se esqueceram que dei o exemplo, que fiz um planejamento de trabalho e que conduzi todas as estratégias, as peças de propaganda, as pesquisas, o programa de governo, o mapeamento e que emprestei minha voz, meu entusiasmo, meus conhecimentos e experiência para vencer o “domínio dos coronéis”.
A receita para o sucesso guarda os mesmos ingredientes: planejamento de trabalho, estratégias, propaganda, pesquisa, compromisso do governo com a população, mapeamento (banco de dados), conhecimento, experiência e entusiasmo. É basicamente essa a fórmula que, se aplicada com eficiência, resulta na autoridade e no sucesso de qualquer governo.
A luta agora é contra as vaidades e contra a incompetência.
Brasil, 30 de outubro de 2008 - 16h