Decifra-me...ama-me...ou te mato.

Desde sempre, amor e ódio, paixão e ciúme são marcas registradas do humano.O paradoxo entre o tudo e o nada, entre o amar e não amar, entre o apaixonar e o desapaixonar, sempre atormentou o coração. A contemporaneidade coloca tudo isso em xeque, dando-lhes novos sentidos, novas possibilidades interpretativas e existenciais.Criando assim outras formas de angústias, de desintegração e de prisão.A sociedade torna-se vítima desses próprios novos conceitos.

A busca da satisfação imediata estimula a impulsividade e a hiperatividade.É uma situação de escravização ao desejo, alimentada por essa sociedade.Assistimos a radical idade do consumismo:viver é satisfazer imediatamente os desejos.

Em meio a esse contexto pergunto:como pode uma menina de 15anos ser assassinada por um caso de amor?

Aos 12anos já namorava “firme” um rapaz de 19anos.

É notória a incapacidade cada vez maior dos pais imporem limites aos seus filhos.

Os adolescentes ditam as regras aos pais. Esses atordoados, por vezes desprovidos e isentos de princípios que norteiam seus próprios passos, acomodam-se e desistem, dando total autoridade aos filhos adolescentes.

Contudo, esses limites e princípios que vão nortear a vida de um adulto são formados na infância.

A espera de uma mamadeira que demora...ser colocado no berço acordado, para então aprender a adormecer em sua própria cama....a negação de um brinquedo por birra...ouvir um não frente às diversas situações que vivenciamos quando ainda somos crianças na fase da onipotência. Tudo isso...o famoso LIMITE, demonstra o amor paternal de forma intensa. Pois é a preocupação amorosa dos pais em tornar a criança um ser equilibrado, que sabe lidar com as alegrias, mas também sabe viver  de forma saudável suas frustrações.Muitos pais não percebem que, não permitindo que suas crianças se frustrem, tornam-os  jovens muito mais vulneráveis frente frustrações e dores da vida adulta.

“O limite é a circulação do afeto”.Impor limites é demonstração de Amor.

Cabe a nós pais oferecer ferramentas para as crianças aprenderem a ter equilíbrio emocional frente uma frustração. Quando isso não ocorre, os desvios comportamentais na adolescência e na fase adulta, são inevitáveis.

A capacidade de suportar a frustração é um tijolo edificante no muro da nossa personalidade. Viver de forma madura é estabelecer trocas. Respeitar as diferenças e opiniões contrárias.É encontrar um lugar socialmente aceitável para substituir o desejo frustrado ou adiar a sua realização.

O psiquiatra Içami Tiba chama atenção para o fato de assistirmos, com mais freqüência, jovens que agem com a irresponsabilidade de uma criança, mas com a força de um adulto.

O caso Eloá é um exemplo extremado e doentio da intolerância de administrar limites e frustrações. Do sentimento de “eu posso tudo”...”eu sou o cara”...”eu decido se outro vai viver ou não”.

Aqueles que não foram educados a desenvolverem maturidade para aceitarem e respeitarem o outro como ele é , tendem a enxergar a outra pessoa como um prolongamento de um desejo seu, ou seja, sua propriedade.

Enfim, os vínculos afetivos da contemporaneidade não têm se constituído muito saudáveis, por isso quando há frustração, a violência aflora. Tudo isso porque no seu inconsciente desenvolveu-se o estigma de que o outro existe em função dele. Buscando assim somente ganhar com a presença do outro, só recebendo e tomando posse da vida do outro.  

Não estou aqui culpando , por exemplo, os pais da menina Eloá que permitiram namorar aos 12anos. Creio que é um conjunto de fatores que contribuíram e contribuem nas tragédias que assistimos cada vez com mais freqüência.

A sociedade desprovida de valores saudáveis , o consumismo, a falta de limites em tudo, a busca incessante pelo próprio prazer sem medir conseqüências, o despreparo da polícia,o despreparo dos adultos em orientar os jovens , a “adultescência” como diz Içami Tiba...e, pessoalmente, acredito que a falta de Deus na vida das pessoas. “

Psicopedagoga Karina

Um olhar psicopedagógico sobre o caso Eloá.