Do despreparo ao desespero - O retorno de Nayara ao cativeiro
Absurdo! Essa é a palavra ideal para sintetizar o retorno da adolescente Nayara Rodrigues ao cativeiro do sequestro em Santo André. Nunca se ouviu falar sobre a "devolução" de reféns em casos como este.
"Inacreditável, inaceitável e vergonhoso" é o que mais se ouve nas ruas do país a respeito da polêmica e questionável orientação da polícia. Mas por que a polícia exporia a imagem da corporação dessa forma? Por que exporia a vida de uma adolescente a tamanho risco de morte? Seria incompetência? Ingenuidade? Impotência? Avaliemos o caso:
O criminoso tinha em seu poder armamento e munição. Tinha também o "escudo humano", Eloá, que era, da mesma maneira, o objeto principal de seu delito.
Por sua vez a polícia tinha - ou deveria ter - armamento, munição, negociador e pessoal necessário e preparado para resgatar as reféns e assegurar a prisão do sequestrador.
Por quê então a operação não foi bem sucedida? Por quê cederam à absurda exigência de Lindemberg em retornar Nayara ao cativeiro?
Despreparo! A polícia não é incompetente, não quando trabalha com fatos. A "hipótese" do tiro antes da explosão, fato que levou a ação da polícia a ser questionada, corrobora para a idéia de que não houve planejamento, não houve estratégia e não houve controle ao longo do extenso sequestro do ABC paulista.
A polícia acreditou nas palavras de um sujeito em claro desequilíbrio emocional, não se pode negar.
Por sorte, e haja sorte, a adolescente não perdeu a vida, o que teria sido irremediavelmente trágico, e desencadearia num jogo de empurra entre comandantes e políticos, que gastariam energia tentando fugir da responsabilidade.
O fato é que a polícia deixa clara a situação na qual se encontra: frágil, despreparada e precisando de ajuda, tanto quanto a população. O Estado tem duas opções: ou investe nas polícias, dando-lhes condições de trabalhar com segurança e eficácia, ou investe em seus hospitais e cemitérios, para abrigar feridos e mortos nessa desleal guerra entre um crime organizado e uma sociedade frágil e perdida.