"Poemar é Preciso" (Dia do Poeta)

Bons tempos os primitivos ...

A linguagem era concebida como o único meio de integração do homem com os fenômenos da natureza e com as entidades divinas. O ser humano mantinha com a linguagem uma relação mágica e criativa.

Bons tempos os primitivos ...

A linguagem apresentava um caráter poético.

Os mitos eram criados a partir da necessidade de explicar aquilo que não era entendido.

A expressão poética era um ato de criação praticado por todos nos rituais, onde era estabelecido o contato com as divindades e suas forças.

Vieram as transformações sociais e econômicas ...

A linguagem passou a ser utilizada, na maioria das vezes, como meio de dominação e a poesia ficou restrita ao artista.

Sensível à vida, ao homem e a natureza, o artista conserva, com sua arte, a magia e a criatividade dos rituais. Invoca os homens para que retornem aos bons tempos, quando todos se expressavam poeticamente.

A poesia está no mundo. Seu criador é o Artista que compôs a música das esferas; criou os passos da dança do espírito com a alma e desta com a matéria; esculpiu todas as formas e escreveu o poema das mortes e dos renascimentos.

Antes da poesia invadir o poeta e refletir-se em poemas, encontra-se espalhada nas imagens perdidas entre a luz das estrelas e a sombra dos seres. Entretanto, o artista só consegue refletir a poesia do mundo por meio da arte, porque carrega no seu íntimo essa mesma poesia.

Urge que aprendamos a nos defender da mesmice da mídia de massa e experimentemos a aventura de voar com as asas das expressões poéticas, entre elas, o poema.

Poemar é preciso. Pouco importa se o poema é clássico, moderno ou marginal; se é metalinguístico ou popular; se é épico ou lírico; se é elegia, balada, soneto, cordel ou sem métrica; se é com ou sem rimas. O importante é que os poemas ampliam a realidade, revelam segredos e intimidades, idealizam utopias, enfim, nutrem a alma com idéias e emoções.

Do mesmo modo como a natureza e seus elementos se apresentam regidos pela polaridade: vácuo/matéria, luz/sombra, duro/mole, cheio/vazio, também na linguagem dos poemas existe a polaridade - silêncio/palavra, de cuja dinâmica brotam os versos e florescem os poemas.

Papel, lápis, ritmo e tempo são os elementos necessários para o registro de um poema. Entretanto, a origem do seu nascimento está no devaneio, no livre pensar e na sensibilidade do poeta, que captam, tal como uma parabólica, as imagens: matéria prima do dizer poético.

Com o silêncio, a prospecção das imagens, depois a palavra.

Quem faz ou lê poemas viaja por caminhos encantados, transportados pelas palavras e versos. A satisfação é garantida.

“Poemar” é preciso. Silenciar, para perceber a poesia do mundo e refleti-la em poemas, é um dos caminhos para que o homem redescubra e volte a expressar a sua poesia interior.

“Suplica ao Poeta" é nosso pedido, em rimas, aos poetas, para que nos ensinem o "caminho das pedras", que nos levará de volta aos poemas.

Súplica ao Poeta

Ó Poeta:

Tu, que sabes o segredo

de colher imagens pelo infinito,

com a quietude do teu silêncio.

Tu, que, tal como um mago,

as transformas em palavras

e as transportas nas asas do tempo.

Tu, que dás ritmo aos versos

e melodia aos poemas.

Tu, que, na madrugada,

escutas, dos amantes, o gemido,

das prostitutas, a risada

e dos desesperados, o grito.

Tu, que entendes a perseverança

de qualquer uma das vagas do mar,

que, do infinito, viaja na esperança

de perder-se em espumas e a areia beijar.

Tu, que percebes os atributos dos atos,

dos seres, das coisas, dos gestos e dos fatos.

Tu, que intuis o sagrado no fogo,

que adormeces nos mil seios da aurora,

que enxergas as lágrimas do crepúsculo,

quando ele chora.

Tu, que pintas, com palavras, a alma do povo,

que sentes o ritmo das nuvens,

quando elas dançam.

Tu que escutas a voz das estrelas,

quando elas cantam.

Ó Poeta,

me responda e me ensina por favor:

como expressar, com rimas, os sentimentos meus?

como cantar em poemas, a morte, a liberdade e o amor?

Como religar-me à poesia, para voltar a falar com Deus?

como religar-me à poesia, para voltar a falar com Deus?

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J Coelho
Enviado por J Coelho em 24/10/2008
Reeditado em 30/06/2012
Código do texto: T1246536
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