ELEIÇÃO É DIA DE TRISTEZA
Hoje, eu gostaria de dar um conselho aos responsáveis pela segurança pública: “A vida continua, apesar das proibições.” Parece que, por qualquer motivo, a primeira coisa que se faz é fechar bares e restaurantes e proibir o consumo de bebida alcoólica. Mais uma vez tivemos um dia de lei seca para festejar o direito ao voto. Verdade seja dita: não é dos responsáveis pela segurança de hoje o mérito em estabelecer lei seca em dia de eleições. A tolice vem de muito tempo.
A demagogia que vê Satanás num copo de cerveja ultrapassou o púlpito de igrejas ditas evangélicas e encastelou-se no alto escalão do poder executivo, legislativo e judiciário em todos os níveis. Altos funcionários e mesmo juízes repetem um refrão, totalmente contestável, de que o álcool é responsável por 90% da violência. Por violência entenda-se agressões domésticas, acidentes de trânsito, assaltos à mão armada, estupros, violações de toda espécie.
Para concordar com isso deveríamos acreditar que o álcool, mesmo não ingerido, também teria esse efeito danoso. Ou por outra: o álcool ingerido por alguns teria o efeito sobre todos, como na famosa marchinha “nós é que bebemos e eles que ficam tontos”. Já se passaram mais de dois anos que uma lei estúpida, copiada sem o menor critério está sendo aplicada em Manaus. A lei municipal 155 que, por um conluio judicial, foi considerada constitucional, continua prejudicando empresas, tirando empregos e aumentando a receita de policiais corruptos. Contudo, não há uma única estatística que prove que diminuiu a violência. Por falar em estatísticas: aquelas iniciais sobre a lei de tolerância zero também estão sendo desmascaradas uma a uma. Houve até um jornal, o Amazonas em Tempo, que estampou o aumento de acidentes de trânsito após a implantação daquele estrupício jurídico.
Acontece que o cidadão está cada vez mais cercado de controles e controladores e os direitos pelos quais tanto lutamos estão indo pras cucuias. Interessante observar que muitos dos atuais legisladores, juizes e agentes de segurança, que enfiam goela abaixo as barbaridades legais, também se manifestaram contra o controle do estado na época que os ditadores eram outros. Na época da Ditadura Militar censurava-se músicas, peças teatrais e filmes além, é claro, a imprensa que manifestasse alguma idéia diferente da do regime. Mas tinha-se liberdade assegurada para sentar numa calçada, num bar e beber uma cerveja à qualquer hora do dia e da noite. Os demônios para a população eram os militares que, por sua vez enxergavam demônios subversivos em todo lugar.
Hoje, os demônios são os bares e restaurantes. Demonizaram o lúdico numa cópia dos anos cinzentos da idade média, onde era proibida qualquer demonstração de alegria por parte dos cristãos. Quanta distorção da realidade. Quem não sabe beber deve sofrer as conseqüências. Bebida não é desculpa para praticar atos faltosos. Todo o bêbado libera em si a pessoa que gostaria de ser em estado normal. Se o proibirem de beber, pode ser que deixe do faz de conta que a bebida provoca e parta pra violência sem o incentivo do álcool que acaba funcionando com agente inibidor.
Na maior festa da democracia, que é o exercício do voto para escolher os governantes, o povo não pode comemorar. Não pode festejar como está acostumado a fazer. Está proibido pelos controladores da democracia, como se a democracia devesse ser controlada. Vibrar com o copo na mão, nem pensar.
Sempre me vem à cabeça o caso dos muçulmanos. A religião os proíbe de beber. Uma pessoa alcoolizada pode ser punida com açoites em praça pública ou, dependendo do país, pode ser condenada à morte. Naqueles países a violência contra a mulher atinge índices estratosféricos, a violência urbana e rural registra mortes em níveis altíssimos, os motoristas cometem estripulias no trânsito. Isso tudo sem contar com a intolerância religiosa e o espírito belicoso sempre presente. Lembremos apenas que Hitler, o maior e mais cruel líder do século XX, era totalmente abstêmio. Foi derrotado pelos aliadas, comandados por Winston Churchill que incluía em seu cardápio diário o consumo de 5 garrafas de campanhe.
Se o álcool é responsável por 90% da violência, nos países onde não se bebe não deveria haver 90% de violência a menos?
Manaus, que já estabeleceu que ônibus não deve trafegar de madrugada, porque aquela é a hora do ladrão; que está fechando estabelecimentos às 23 horas; que tem uma igreja em cada esquina onde se vocifera contra o consumo do álcool, deveria ser a cidade mais pacífica do mundo. Se não é, e todos sabemos que não é, então as medidas de segurança devem ser revistas e os cidadãos, que são culpados sem saber de que, terem seus direitos devolvidos.
Luiz Lauschner – Escritor e Empresário
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