Quem ama não mata, - Giselle Sato

Em nome do amor iniciamos guerras, negociamos a paz, prometemos enganos e forjamos mentiras. 
Em nome do amor enlouquecemos, perdemos a noção da decência e cometemos desatinos.

Este amor desesperado, que pulsa inconstante, é um amor doente, nocivo e virulento. 
Ele nasceu torto e cresceu fadado ao destino trágico. A palavra amor tem inúmeros significados na língua portuguesa, entre os mais expressivos: afeição, compaixão e misericórdia. 

Dizem que em excesso, o amor priva os sentidos, que ficamos cegos de ódio quando a afeição termina e somos rejeitados. Estamos vivendo dias nublados, existem bombas explodindo, famílias sofrendo, doenças dizimando populações. 
Não é tempo de conjugar o singular: compaixão é um ato de amor e solidariedade.

Caminhando à sombra da vida, o lado obscuro tece enredos angustiantes. Onde perdemos a misericórdia? O dom da benevolência, amor capaz de renunciar, sublimar, perdoar e libertar. 

Era somente um pedacinho de cor, solto no espaço, descobrindo e experimentando. Ser objeto de desejo, sem direitos, destruiu um mundo de possibilidades. 

Dizem que o amor embotou os sentidos, que foi uma atitude passional, que o desespero incita as maiores loucuras. Desculpas! Quem ama não mata!

A afeição transformou-se em obsessão, privou os sentidos, esmagou a compaixão e não teve misericórdia. 





Nota- ''Quem ama não mata'', é um nó que está engasgado nas nossas gargantas. 
Nasceu da  tristeza de todos os brasileiros diante dos crimes bárbaros que somos obrigados a presenciar. Impotentes.

Texto publicado pelo Globo Online- Opinião 22.10.2008
Giselle Sato
Enviado por Giselle Sato em 21/10/2008
Reeditado em 21/11/2008
Código do texto: T1240457
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