O Mito da Caverna - Período Socrático (comentário crítico)
O Mito da Caverna & Período Socrático
Para os gregos, o mito está relacionado à narrativa. E, a veracidade da mesma está efetivamente ligada à confiabilidade e autoridade daquele que narra, seja porque testemunhou os fatos, ou simplesmente porque acredita na narrativa recebida por alguém que observou diretamente os fatos narrados. O mito é também uma narrativa sobre a origem de inúmeras coisas, que vai desde a origem da Terra, das raças, das guerras e assim sucessivamente. O mito da caverna é na verdade uma metáfora, idealizada pelo filosofo Platão, discípulo de Sócrates, ao simbolizar o homem contextualizando a parte sensorial e a material, o mundo interior e exterior tendo como instrumento de libertação a dialética e a Filosofia como a visão realística do mundo iluminado.
Entende-se que, para os homens imobilizados vivendo na condição de prisioneiros desde a infância, sem contato com a realidade exterior, só poderiam ter por verdadeiro, as sombras projetadas pelos objetos fabricados. Na verdade, se alguém retirar o homem do seu natural habitat e conduzi-lo a um mundo novo com o qual ele não está familiarizado, impondo-lhe condições, desfazendo seus costumes, crenças sua cultura enfim, a aculturação e adequação a uma nova forma de vida seria no mínimo, difícil, conflituosa e sofredora. Para exemplificar, citemos a colonização portuguesa no Brasil. Para os índios, o que seria a verdade? Para Platão seria a luz exterior do sol. Percebe-se então, que a racionalidade, a visão exterior, a realidade concreta do mundo material, a discriminação real das coisas é o que se pode considerar como mundo verdadeiro, desassociado do mundo sensorial.
Nesse ponto específico discordo dessa teoria, porque concebo o ser humano dotado de três corpos: mental, físico e emocional, ou seja, ora ele é mais emoção, ora mais razão, às vezes, extremamente materialista. A predominância de um corpo sobre o outro, vai depender dos fatos, dos acontecimentos vivenciados no seu cotidiano. A liberdade, a sabedoria, a democracia e cidadania proporcionadas pela prática da filosofia, de maneira socializada com a razão\emoção, possibilitam nova visão de mundo e de novos paradigmas. A Filosofia, na visão platônica, seria, portanto, o instrumento de transformação da natureza e dos seres humanos. A explicação da origem do mundo e dos seres em geral. Mas, se o mundo sensível está intriscamente ligado ao material (a sombra das estatuetas) e se o mundo em que vivemos (a caverna) não está de forma alguma desassociado da ilusão, da utopia? Seria a filosofia no mundo moderno, tecnologicamente avançado, informatizado, o caminho da luz, a verdade contra a ignorância dos que vivem nas cavernas subterrâneas do submundo do crime? Seria ela a solução para a transformação desses indivíduos? No mundo das ciências, não existem verdades absolutas, tudo é mutável. E a filosofia desafia a religião judaica - cristã ao afirmar que o mundo não foi criado do nada é eterno, assim como a natureza. Para a Filosofia, alguma coisa pode perder algo relacionada à sua particularidade, mas jamais sua matéria, essa é de fato perene. Nessa discussão em torna da origem do mundo, dos seres etc. onde a subjetividade é parte crucial, as hipóteses navegam, as teorias dançam, as crenças passeiam, fica difícil tomar partido, haja vista, ser tudo muito miscigenado, quase nada comprovado, muita fantasia e suposições. O pensamento dentro desse contexto seria o olho que de fato consegue enxergar o eterno, o perene, imortal e imprescindível, o physis, ou seja, a natureza eterna e em perpetua transformação, que dá origem a todos os seres planetários diversos e mutáveis, porém mortais, diferentemente do principio gerador que é eterno.