Os leigos em busca de sua espiritualidade

O grande desafio da espiritualidade cristã leiga é compatibilizar uma vida voltada para os apelos do Espírito na ambigüidade da vida material a que todos estão sujeitos. A palavra espiritualidade é compreendida como a ação do Espírito Santo no cristão; age nele e através dele. O que Jesus disse aos discípulos se aplica aos leigos: “Vocês são a luz do mundo... Não se acende uma lâmpada para colocá-la sob a mesa, mas no ponto mais alto da sala, para que ilumine a todos os que estão em casa”.

A nossa Igreja em geral não costuma valorizar adequadamente o potencial teológico-pastoral dos fiéis leigos. Embora haja uma ponderável plêiade de leigos e leigas bem preparados, salvo algumas exceções (entre as quais eu me incluo), poucos são chamados a exercer atividades que passem além da catequese, ministérios “extraordinários” ou serviços de “sacristão sênior”. Certas paróquias, por exemplo, em suas novenas, preferem pregações de padres, muitas vezes vazias e inconsistentes do que a oratória sacra e o testemunho de determinados leigos. O que se observa é que, em termos de espiritualidade, aos leigos é atribuída uma capacidade muito superficial, como se espiritualidade só fosse a prática espiritual de ordenados e monges.

Há tempos, depois de alguns confrontos e incompreensões, um conhecido teólogo franciscano pediu dispensa de seu ministério. Logo depois a Igreja anunciou que, em atendimento ao seu pedido, ele havia sido reduzido ao estado laico. “Reduzido?” A idéia de redução, se não estou enganado, se aplica a algo como um rebaixamento, o que não é o caso. Mesmo porque, como não eram sacerdotes nem integrantes de quaisquer hierarquias, Jesus e seus apóstolos eram leigos.

Eu entendo que nossa Igreja experimentará aquela expressiva renovação, de dentro para fora, preconizada desde João XXIII, quando aprender a aproveitar melhor o potencial profético de seus leigos, homens e mulheres. Para muitos, a espiritualidade dos leigos deve se restringir a três estágios: a) ir à missa; b) pagar o dízimo e ajudar a Igreja em suas necessidades; c) assistir novenas tríduos e procissões. O fato é que o laicato arregimenta o maior percentual de pessoas, e não pode, qual uma massa meio informe, ser ignorado ou sub-utilizado como costuma acontecer.

A espiritualidade requer de todos uma visão de fé prática, mística e crítica, em mesmas proporções. Nesse particular a fé vê o invisível, espera o impossível e recebe o inacreditável. Vivemos na carne com olhos no Infinito; movimentamo-nos na matéria, com o desejo das realidades sobrenaturais; caminhamos na esperança, expectando a certeza. Espiritualidade é uma atitude humana, prática, com conseqüências espirituais. Nessa firme convicção, Jesus deve ser para nós o Senhor que salva e liberta.

O autor é um leigo, Doutor em Teologia Moral