Maomé solta pipa no Buracão

Num bairro simples de Borda da Mata, pequena cidade do sul das Minas Gerais, vivem dezenas de crianças que perambulam pelas ruas a pedir esmolas. Lamentável que ainda hoje os seres humanos tenham que se sujeitar a tal humilhação.

Alguém pode dizer que os pequeninos fazem isso porque são pobres, suas famílias são sem cultura ou que são todos uns bandidos. Mas qualquer juízo a ser feito nesse sentido é mera discriminação.

Tudo o que acontece com as nossas crianças é fruto de uma sociedade que desde cedo faz com que os menos favorecidos sejam ultrajados. Desde o pré-natal as mães pobres têm de enfrentar suplícios na saúde pública. Mais tarde os bebês choramingam nas filas que suas mães têm de enfrentar no pediatra. E quando maiores, essas crianças são oprimidas pelos professores na escola. Não que essa seja a índole dos professores, mas sem querer eles também são frutos de uma sociedade manipuladora.

O quê o poder tirânico e persuasivo quer com isso? Deseja formar uma massa crítica acéfala que desde cedo ficará iludida com o mundo e nunca será um percalço em suas ambições absolutistas.

Porém, não é total essa martirização de nossas crianças menos favorecidas. Dentre elas sempre tem uma que resiste ao embuste da corja capitalista que controla os poderes constituídos ditos democráticos. Sempre haverá uma que se sobressairá e vencerá na vida, será um exemplo para contagiar outras a seguirem o mesmo caminho.

O profeta Maomé, o beatle John Lennon, o conquistador Gêngis Khan, o pacifista Mahatma Gandhi, o navegador Marco Polo, a rainha Ginga, a religiosa Madre Teresa de Calcutá e muitos outros vultos de nossa história foram crianças um dia e não sabemos em que condições viviam. Talvez alguns deles podem ter vivido de forma ainda mais precária que nossas crianças pobres, mas eles se tornaram grandes pessoas. Venceram porque acreditaram em seus sonhos e seguiram em frente, sem desistir.

Então, quando uma criança dessas vier nos pedir esmolas, a melhor ajuda que podemos lhe oferecer é cidadania, é fazer florescer nelas a vontade de viver e a capacidade de ter sonhos. É preciso fomentar naquela criança que todos os dias solta pipa no campo de futebol do bairro a certeza que se ela quiser ela pode vencer na vida. Que hoje ela empina uma pipa e amanhã poderá estar pilotando um avião.

Léo Guimarães
Enviado por Léo Guimarães em 16/10/2008
Reeditado em 16/10/2008
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