MANAUS DE TODOS OS TEMPOS
Quando comemoramos nosso aniversário tentamos sempre explicar como era no tempo em que nascemos. O que acontecia no mundo naquela época. Quais eram as outras coisas que existiam ou que nasceram na mesma época que nós. Por mais insignificante que pareça, nós somos autores da história. Alguns de nós são apenas números, outros são nomes que marcam seu espaço na História.
A população de Manaus sempre teve e continua tendo seu número questionado. Os habitantes, que hoje se estima serem dois milhões, brigam com os números oficiais que apontam mais para baixo. Na elevação do Amazonas à categoria de Província, havia um levantamento que foi questionado pelo primeiro presidente Tenreiro Aranha. Um dos primeiros atos foi determinar um novo levantamento populacional, cuja veracidade ele mesmo contestou.
A Manaus do século XVII existia mais como uma aldeia indígena que como centro populacional. Evidente que, do cálculo habitacional que os historiadores fazem no mínimo de 4 milhões de índios e no máximo de 6 milhões em toda a Amazônia, antes da invasão do branco, muitos deles com certeza moravam às margens do Rio Negro.
Já haviam se passado mais de 100 anos em que Francisco Orellana estivera por estas plagas. O medo das “terríveis” Amazonas ainda devia habitar o imaginário de muitos. Quando, em 1850 se fez o levantamento populacional, havia uma separação estanque entre brancos, índios e negros. Hoje a miscigenação não permite mais uma separação tão clara.
Contudo, 339 anos se passaram desde o primeiro registro do vilarejo de Manaus e até hoje a cidade não pode dizer que tenha uma identidade. Os descendentes dos primeiros habitantes desconhecem sua origem étnica. O que pode não ser tão importante. Talvez o mais importante seja ver o resultado deste caldeirão miscigenado.
Não foi só o povo que foi clareando, ou escurecendo com o passar dos anos. Também os hábitos mudaram muito. O mundo mudou, Manaus mudou com o mundo. Às vezes como agente ativo, outras vezes apenas acompanhou. Se no início do Pólo Industrial de Manaus os dirigentes das fábricas ficaram deslumbrados com a capacidade manual deste povo de origem indígena, que faz tudo com as mãos, hoje vemos os manauaras comandando estas mesmas fábricas. O artesão que no início manipulava a ferramenta, agora passou a ser ferramenteiro, isto é: projeta a ferramenta que será utilizada por outras mãos humanas ou mecânicas.
A Manaus de todos os tempos é uma cidade pujante no meio da selva. Com um pé no passado e outro no futuro. Manaus tem consciência da enorme responsabilidade que tem na conservação da exuberante natureza que todo o estado é parte. Mas, não pode esquecer que concentra uma população eclética que não quer ser apenas a observadora do progresso mundial. Não quer fabricar produtos de alta tecnologia para ser utilizada por outros.
Por conservar a natureza e suas origens sem se fechar ao progresso, por aceitar pessoas de todas as procedências e etnias Manaus conquista seu espaço na modernidade. Grandes futuros são construídos com o somatório de tudo que há de bom na miscigenação. Por conhecer esta lição Manaus sabe que o um grande futuro está pela frente.
Luiz Lauschner – Escritor e empresário
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