Professores: luta ao respeito e à autoridade
Não é novidade para pessoa alguma em nosso país que os professores brasileiros – principalmente de escolas públicas – são desvalorizados e desrespeitados, tanto por parte dos alunos quanto da sociedade. Preocupado com isso, o Instituto de Estudos da Educação – Educa Brasil (uma associação civil sem fins lucrativos, fundada em 2005 e com sede em Curitiba, no estado do Paraná) promove, neste mês de outubro, a produção de um manifesto “pelo resgate da autoridade e do respeito pelos profissionais da classe”. Nada mais justo e merecido.
Segundo Esther Cristina Pereira, que está à frente da organização do evento, o documento deverá ser enviado “para as autoridades envolvidas com a educação e para a imprensa”. Isso é bom, para que também a sociedade tome conhecimento, desde que enviado para a mídia em âmbito nacional. Ela também afirma que o “pessoal que comanda a educação no Brasil não conhece a realidade da sala de aula e, se nada for feito para melhorar essa situação”, dentro de pouco tempo não mais teremos professores em nossas escolas. De maneira quase geral, isso é fato.
Um dos intuitos do movimento é resgatar “a belle epoque da educação”, uma vez que esse também deve ser “o objetivo comum de todos os envolvidos com o ato de ensinar”. Mas de que belle epoque se trata? Em que época e em que sentido? No sentido de o professor (leia-se principalmente as professoras do ensino primário) ser valorizado e respeitado pelos alunos e pela sociedade e era bem pago ou tempo em que tínhamos uma excelente educação? E que tipo de educação: repasse de informações decoradas ou contextualização e internalização do conhecimento em benefício do modus vivendi? Aliás, houve belle epoque na educação em nosso país, desde o Brasil colônia até os dias atuais?
Trazer de volta a autoridade e o respeito ao professor e evitar que em um futuro bem próximo nossa sociedade sofra com a falta deles urge e faz-se necessário. Esse manifesto vem em boa hora (ainda que já um tanto tardia, pois no final do século passado as coisas já se arrastavam e de mal a pior em nossas escolas). Entidades como essa, que “desenvolve projetos de reflexão e discussão educacional e inclusão da sociedade no ambiente escolar” já deveria estar em ação a décadas.
Entretanto, não somente a elaboração desse documento deve ter a participação dos professores, mas também a sua leitura para que reflitam e discutam a situação da classe. O que eu estou querendo dizer é que é necessária uma mea culpa. A situação de nossos professores não chegou a esse nível de degradação profissional somente porque o “pessoal que comanda a educação no Brasil não conhece a realidade da sala de aula”, conforme a afirmação supramencionada. E por quê?
Primeiramente, porque grande parte dos que se encontram ensinando nas salas de aula por esse país continental deveria estar em qualquer outro lugar, menos ali diante de nossas crianças, nossos adolescentes e nossos jovens. São os não-professores, aqueles que não tiveram outra opção de fazer outro curso de graduação que não uma Licenciatura ou Pedagogia e que também não conseguiram outro emprego que pagasse, ainda que pouco, o salário que recebem.
Em segundo lugar, nossa classe é bastante desunida, acomodada, que mais reclama do que age para mudar o rumo das coisas, sem interesse em buscar aperfeiçoamento; mais preocupada em fazer greves por melhoria de salário do que pela melhoria das condições de trabalho e pela melhoria das péssimas e descontextualizadas formações iniciais oferecidas pelas faculdades e universidades públicas e particulares; que transfere a culpa de tudo para o aluno e para o “pessoal que comanda a educação” nos municípios, nos estados e no Brasil.
Em terceiro e último lugar, a valorização dos professores deve começar em casa, ou seja, com cada professor em particular, haja vista que muitos não mereciam nem receber tal titulação e envergonham nossa classe, e os poucos que restam, os professores de fato, esmoreceram no campo de batalha, não se dispuseram mais a se levantar e encontram-se sentados em suas mesas nas salas de aula com a boca escancarada esperando a aposentadoria chegar.
“A pressão sofrida dentro da escola, juntamente com a perda da autoridade e do respeito dos alunos”, e que “faz os professores desistirem da profissão”, então, não se deve tão-somente à falta de limites dos alunos e ao desinteresse dos que comandam a educação.
“Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.
Portanto, meu caro professor, comece a mudança em seu interior que ela se refletirá, contagiará outros e mais outros e, unidos, farão a diferença.
* Prof. Maurício Apolinário é autor do livro “A arte da guerra para professores”.
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Referências:
http://www.nota10.com.br/novo/web/noticia_view.php?noticia_id=1159. http://www.institutoeducabrasil.com.br/estatuto.html)