O Paraguai é logo ali.
Invasão paraguaia
A empreitada executada pelo Exército no início de março de 2006 em busca de armas que foram subtraídas de uma de suas unidades, foi recebida com aplausos pela população ordeira da cidade do Rio de Janeiro. Passamos quase duas semanas dentro de um clima suportável de violência, pois sabemos que a mesma jamais chegará a zero mesmo dentro de um país estabilizado. Quanto mais num que é gerenciado por incompetentes, como o Brasil.
Diversas favelas foram cercadas com estardalhaço nas entradas e uma operação minuciosa do trânsito local foi realizada a bom termo apesar do ambiente complexo com o qual esta força militar não está acostumada a lidar. O comando militar prometeu não afrouxar o cerco enquanto as tais armas surrupiadas não aparecessem. Chegamos a torcer para que as mesmas não fossem encontradas para que a presença de militares se tornasse uma constante em nossas ruas, abandonadas pela equipe policial que deveria executar a tarefa de nos dar alguma segurança.
Com o passar dos dias, com as equipes de militares na base do morro e os traficantes no topo em melhor posição de tiro, começamos a desconfiar que na verdade não estava em andamento nenhuma operação efetiva para extirpar de vez o câncer do comércio de drogas que lentamente contamina nossos jovens herdeiros. A estratégia estava incompleta por um pequeno detalhe: faltaram os helicópteros desceram no topo de cada favela para empurrarem os bandidos montanha abaixo para serem capturados.
Com certeza o tráfico de drogas sofreu uma queda acentuada em suas vendas em função do aparato montado. Mas o impasse criado pelo comando militar começa a se desgastar em função das declarações emitidas e dos resultados definidos não alcançados. O tal cerco começa a incomodar gente do alto escalão do governo, os verdadeiros líderes do comércio de drogas. E certamente eles estão pressionando a direção militar para afrouxar a operação, alegando que a mesma está custando muito aos cofres públicos e que esta não é a missão precípua desta entidade. É claro que tal custo não é baixo. Mas se foi dada a partida para o processo, bastaria mais duas semanas para se concluir a operação com sucesso, com a prisão dos malfeitores que infernizam as vidas dos honestos indivíduos que residem nestas áreas carentes pelo abandono da sociedade. O valor das vidas ceifadas cobre os gastos com a tal empreitada.
O recuo da cruzada nos dará algumas suspeitas (ou certezas) sólidas:
A – A pressão dos ratos do poder que lideram as quadrilhas de dentro de seus gabinetes refrigerados é muito elevada e já não pode ser contida apenas com as palavras dos cidadãos honestos que ainda sonham com um país justo para seus filhos.
B – O Exército, assim como as demais forças militares, não estão preparadas para enfrentar bandos de 20 ou 30 marginais instalados em locais conhecidos e facilmente monitorados e penetráveis.
C – As valorosas forças das quais chegamos a sentir enorme orgulho pelo que a história nos conta sobre nobres integrantes que deram suas vidas pelo orgulho de pertencerem à esta terra, atualmente não fazem mais questão de manter sua credibilidade junto à população que por décadas chegou a lotar arquibancadas sob Sol escaldante para prestigiar os desfiles militares que enalteciam nossos ídolos.
D – Se o Paraguai resolver se vingar de todo o mal que fizemos a eles nos idos do século XVIII, corremos o risco de sermos facilmente dominados, oferecendo uma clara oportunidade para que as forças de “paz” da ONU aqui aportem para nos “libertar” dos inimigos vizinhos, com a mesma estratégia usada no Iraque e com o mesmo objetivo de abocanhar de vez nossas riquezas naturais. A principal diferença é que nosso povo não tem a fibra do povo iraquiano para defender sua terra, preocupado que está regularmente com os finais de novelas, resultados dos desfiles das escolas de samba, com a recuperação do artilheiro de seu time de futebol e com a decisão do cachê da vencedora do Big Bobo Brasil para posar nua numa revista semanal.
Haroldo P. Barboza – março/2006
Autor do livro: Brinque e cresça feliz