Festival de Cinema do Paraná

Respeitável público.

Luz, câmera, ação.

Tudo começou quarta-feira da semana passada. Soube, através de um grande amigo meu, da existência de um Festival de Cinema do Paraná. A grande mídia, curiosamente, não falou sobre o assunto. Fui informado também que esse festival estava sendo realizado no Museu Oscar Niemeyer. Ou seja, nas proximidades de meu Lar Doce Lar e ao lado do meu local de trabalho.

Sendo assim, corri em direção ao "Olho" e, logo de cara, pude rever dois adoráveis companheiros. Leandro Hammerschmidt e Igor Viana Muller lá estavam, prontos para saborear o Festival. Após um bom tempo fora do Brasil, é sensacional rever figuras que fazem parte de nossas Vidas...

Logo em seguida, entramos numa sala onde estavam ocorrendo palestras, seminários e oficinas. Neste recinto, pude assistir, do início ao fim, um tal de "Terra em Transe", de um tal de Glauber Rocha. Na faixa. Não paguei nada, e pude mergulhar num dos melhores filmes da história do cinema brasileiro. Surreal. Real. Absurdo. Vivo. Insano. Verdadeiro. Psicodélico.

Continuei pelas redondezas, admirando a beleza arquitetônica do local, e entrei no auditório "titular" para conferir uma mostra de curta-metragens. Filmes bons e ruins ao mesmo tempo. Destaque para o documentário "Solitário Anônimo", de Debora Diniz. A diretora brasiliense soube conduzir com maestria a trajetória de um idoso sábio, andarilho e descontente com a vida, que resolve abandonar sua casa, morar nas ruas e deixa de se alimentar, entregando-se ao caminho da morte. Ele, porém, não consegue alcançar esse objetivo, pois acaba sendo internado num hospital e é alimentado "na marra". Um filme que coloca em xeque a questão do livre arbítrio, se podemos ou não realizar as nossas escolhas.

Após acompanhar mais um solítário anônimo nesse mundo injusto em que vivemos, permaneci no auditório e acompanhei o filme argentino "As Mãos" (Las Manos), de Alejandro Doria. Película redonda, fotografia interessante, estética apurada. Peca, porém, no teor excessivamente religioso do enredo em questão, muita embora com ótimas interpretações do elenco em cena.

Sexta-feira chegou, e as celebridades também. Apesar de não ser um dia de número 13, José Mojica Marins lá estava. ZÉ DO CAIXÃO, em carne, osso e unhas nos brindou com sua simpática presença. O mito ainda vive, e veio à Curitiba para lançar a sua "Encarnação do Demônio", completando uma trilogia idealizada há mais de quarenta anos. Particularmente, adorei o resultado final. Sangue, psicopatias, fortes mensagens e belas mulheres nuas foram servidos num delicioso prato. Viva Mojica!

Antecedendo o Zé do Caixão, o cinema paranaense foi destaque com a bela obra "Cortejo", de Marcos Stankievicz e Joba Tridente. Sem conter diálogos, o filme mostra uma inovadora forma de linguagem, onde as cenas se desenrolam de forma poética. Contando com uma bela e sedutora protagonista, "Cortejo" possuem também uma inspirada trilha sonora. Tudo isso filmado, claro, em película.

Ainda na sexta-feira, chegou a vez de "Mystérios", que ganhou o prêmio de melhor direção. Beto Carminatti e Pedro Merege, os diretores premiados, realizaram esse filme, baseado em textos de Valêncio Xavier. Inteiramente rodado em Curitiba, "Mystérios" traz Carlos Vereza na pele do impagável protagonista. Contando também com outros atores globais, esse filme transporta o espectador para uma Curitiba da década de 60, do Passeio Público, da chegada do homem em terrenos lunares. Os mistérios que envolvem as noites curitibanas e as mentes das pessoas são brilhantementes narrados por Vereza, que observa, com muita poesia, o charme e os segredos da bela Stephanie Brito, a eterna Lolita dos apaixonados de plantão...

Sábado em cartaz, e curta-metragens também. Antes de conferir os filmes do dia, mais reencontros memoráveis. Eduardo Rohn e Eduardo Amatuzzi (sim, xarás!) lá estavam. Após mais esse "momento máximo da consagração", volto à sala de exibição, e deparo-me com sonolentas e interessantes obras, que se alternam com incrível maestria. Gostei de "Sete Vidas", dos diretores Marcelo Spomberg e Zé Mucinho, de São Paulo. Muito feliz a escolha por Selton Mello para narrar o filme. Um gato (felino) é o carismático protagonista.

Domingo, então, marcou o encerramento do festival. Premiação aos vencedores e a exibição de mais alguns bons curtas, tais como "Os Dias Cinzas", de Bruno de Oliveira e "Com as Próprias Mãos", de Alysson Muritiba. Psicopatia, sangue e violência marcam ambos filmes, que exploram algumas mazelas humanas, tais como a sede de vingança e a mente doentia do homem/mulher "modernos". "Satori Uso", do diretor londrinense Rodrigo Grota, encerrou a noite como um belo exemplar do "cine-arte", de um filme alternativo que prima pela beleza fotográfica.

Outros ótimos reencontros também marcaram esse domingo. Franco Caldas Fuchs, Emanuela Khalil, Rafael Dias e Ana Niculitcheff deram o ar de suas graças.

Eu só esperava a presença de um maior número de alunos e ex-alunos de Comunicação da UFPR. Vou supor que todos estavam muito ocupados durante todos os dias do Festival. Tudo bem, espero ver vocês em outras ocasiões. E a cobertura da mídia local também deixou a desejar. Rivalidades entre governo do Estado e emissoras de televisão ficaram evidentes.

E, antes de ir embora do Niemeyer e do Festival, ainda houve tempo para um coquetel de despedida, onde o ator Selton Mello gentilmente me "colocou para dentro", pois só "convidados" poderiam entrar no início do "comis-e-bebis". Descolamos também o telefone da casa do ator Carlos Vereza, que gentilmente atendeu os repórteres do jornal Tira Gosto - Leandro Hammerschmidt e Jackson Sardá - e disponibilizou seu telefone residencial no Rio de Janeiro, visto que Vereza não possui e-mail nem computador, e não pretende ter um. Entendo perfeitamente ele.

Rodrigo Juste Digão Duarte e Maurício Olinda Cio-ri-mau também estavam presentes no Festival. É isso aí galera, vamos fortalecer cada vez mais o Cinema Paranaense!

Jackson Sardá.

13/10/2008.