Essência humana
A banalidade do mundo moderno tem levado a valorização desmedida e incontrolada da aparência e/ou do ter em detrimento do ser. No afã de fazer riquezas, de apropriar-se dela e de cada vez mais acumulá-las, o ser humano moderno baseia o sentido de sua existência e de sua essência, certamente de forma inconsciente, nas engenhosas atividades industriais e tecnológicas, que tem aparência de salvadoras, mas que traz intrínseco, verdadeiro poder de desvirtuar o alvo da real essência humana.
Os aspectos reversos oriundos da globalização, estabelecida como a “forma ideal” para a vida humana, evidenciam que a essência do ser humano não pode ser o que ele faz, nem o âmbito da sociedade onde vive. Segundo Erich Fromm (1969) o homem era – e ainda é – facilmente seduzido para aceitar determinada forma de ser humano como sendo a sua essência. Mas a essência do ser humano não se define pela sociedade com a qual se identifica. Os grandes homens e mulheres foram aqueles que visualizaram algo que é universalmente humano.
A verdadeira essência humana tem sido camuflada pelas ideologias da sociedade contemporânea. A tendência dos indivíduos, à deriva no “oceano” da massa, é deixar-se conduzir pelo “vento” da maioria, escondendo-se atrás de uma essência que não lhes pertence, visto ser determinada pelos condicionamentos culturais e sociais do espaço e do tempo. A massificação tem proporcionado a tirania, que se sente mais livre na escolha dos métodos de supressão do livre pensamento do indivíduo, transformando sua liberdade em escravidão física e espiritual.
A realidade é que por trás de cada indivíduo há um ser humano que, pela sua própria natureza vive na inquietude de buscar a realização dos seus desejos. A corrida por essa realização leva muitas vezes, quando a realidade é desfavorável, o indivíduo a um estado de frustração. Todavia, pode também, despertar a consciência adormecida, fator essencial a humanização do ser, da necessidade de construir um novo mundo, ciente de que para essa construção, será necessário enfrentar a realidade presente que é o ponto de partida.
Segundo Rolfh Linton (1979), durante a vida do indivíduo jamais termina o processo da criação e integração das novas reações e de extinção das antigas.Sem essa flexibilidade, seria impossível ao indivíduo sobreviver em um mundo em que tanto o meio externo, como as suas próprias potencialidades se encontram em constante fluir.
A verdadeira essência do ser humano consiste, portanto, no equilíbrio e integração de suas dimensões física, intelectiva, espiritual e social, o que possibilita o alcance à capacidade sensitiva, compreensão do âmago das coisas, reconhecer as imperfeições e limitações da vida e consciência de que a perpetuação da espécie depende da relação social. A harmonia destes fatores e a implementação prática, isto é, a vivência, que como é perceptível, depende exclusivamente do próprio indivíduo, impulsionam a vida ao significado pleno e, remete o ser a sua verdadeira essência que é o amor.
Amor no sentido de atentar para nossa maneira de tratar o outro; no sentido de abrir-se a realidade do outro como ele é sem procurar transformá-lo conforme as nossas expectativas. Amor, no sentido do sentimento que nos liga conosco, com os outros e com o mundo.