Um pouco sobre tratamento de dependência química

Sempre gosto de voltar a um tema que é visto pelos profissionais de saúde com certa indiferença que é a questão da espiritualidade no tratamento realizado pelas Comunidades Terapêuticas. Tenho certas dificuldades em entender o porquê disto ocorrer.
Minha dificuldade de entender vem por anos atuar neste tipo de tratamento e ver ser algo tão benéfico e que só tem trazido benefícios e mais benefícios para aqueles que têm procurado este tipo de tratamento. Uma resistência que não sei de onde vem.
Este tipo de tratamento veio da necessidade de muitos dependentes químicos não conseguirem encontrar uma solução pela sua doença e necessitar de mais atenção, carinho e um local de acolhimento.
A metodologia das Comunidades Terapêuticas foi construída pelos próprios recuperandos por terem através de suas próprias experiências de adicção conhecido quais os mecanismos usados por eles para se auto manipularem e mascararem suas dependências.
A abstinência surgiu das experiências dos recuperando em outro tipo de tratamento que são os grupos de mutua ajuda aqui o A. A, N. A.
A espiritualidade surgiu da própria necessidade de convivência entre os recuperando internados, pois a espiritualidade passou a fazer parte de um contexto de vida em comunidade. Foram os próprios recuperando que foram adequando a espiritualidade como um fator importante na superação das dificuldades. Então os pastores e sacerdotes entraram para ajudá-los a refletirem e cultivarem dentro de si valores espirituais.
Eu particularmente, não vejo a atuação de um trabalho multidisciplinar tão fundamental e interessante para ajudar pessoas que buscam tratamento químico, embora veja que teoricamente é interessante, mas que na prática o tiro pode sair pela culatra.
Porque digo isto, por ver que, quanto mais envolvemos pessoas com técnicas diferentes, com estudos diversos atuando com uma mesma pessoa isto pode criar certo desconforto para o paciente e desentendimento entre a equipe, vou dar um exemplo pratico: um paciente passa por um psicólogo que acha desnecessária uso de psicofármacos, no entanto este mesmo paciente passa pelo psiquiatra que pensa diferente, como resolver este impasse? E ainda. Um paciente é analisado por um conselheiro e por um psicólogo e os dois tem pontos de vista diferente sobre ele, e ai como resolver a questão? Ainda. Uma paciente tem uma abordagem espiritual e o profissional da saúde não concorda como resolver este impasse?
Este tipo de ocorrências é comum vermos na pratica todos pacientes que nos chegam que passaram por equipe multidisciplinar em tratamentos anteriores e que se precisa refazer toda uma historia para iniciarmos o tratamento.
Certa vez convidei uma psiquiatra para fazer uma palestra na Comunidade Terapêutica, que desserviço ela prestou, iniciou sua palestra dizendo que eles não deveriam permanecer na entidade, pois lá estavam fugindo de uma realidade, disse isto sem conhecer o histórico de nenhum dos internos.
Quando ela foi embora o grupo se reuniu para fazer uma avaliação da palestra e quase todos foram unânimes em dizer que a médica estava por fora do assunto e que para eles, ela não conhecia nada de dependência química, embora dissesse ser uma especialista no assunto.
Finalizando, é fundamental conhecer mais determinadas metodologias e filosofias de tratamentos para nao se tirar conclusões precipitadas. Cada um dentro de sua área pode ser especialista em determinado tema, porém quando o tema é o mesmo, mais a abordagens , metodologias são diferentes e não se conhece em profundidade, não se pode considerar especialista naquele tipo de tratamento que desconhece.
Ataíde Lemos
Enviado por Ataíde Lemos em 12/03/2006
Reeditado em 13/03/2006
Código do texto: T122350