“Todos dizem que era bela quando jovem, vim dizer-lhe que para mim é mais bela hoje do que em sua juventude, que eu gostava menos de seu rosto de moça do que desse de hoje, devastado.”
O rosto de moça da garota branca da Indochina, que tanto fascinou os homens de Saigon, hoje “devastado”, como descreve Marguerite Duras, pertence à protagonista de L’Amant, publicado pela primeira vez em 1984.
Aos quinze anos, a menina transforma-se em mulher, ainda confusa, ainda disforme, incompleta. O amante, chinês rico, é o mais amante do mundo, e ama-a com o corpo, o desejo carnal, e a alma, e todo o seu amor. Duras quebra a linearidade do tempo, e mistura as noites ardentes dos amantes aos medos da doce menina. Uma mãe sofrida, dois irmãos, uma família frágil que rui no decorrer do romance. Apenas quinze anos e rejeitada pela sociedade, rejeitada pela loucura da mãe, encontra asilo nas tardes quentes, nos banhos de água fresca preparados por seu amante num quarto escuro de hotel.
É o amor demonstrado através do ato, da realização de um desejo insaciável. Qual é a idade do desejo? Quem são os amantes? São os que amam incessantemente e fazem deste amor tão importante quanto o ar que respiram. Jovem prostituta? Não, amante!
Marguerite Duras exala sensibilidade quanto às diferenças raciais, às discriminações, quanto ao sexo. L’Amant torna-se, então, uma das principais obras da autora, devido à sua exuberante narrativa repleta de cortes, um estilo cinematográfico, flashes, digressões... Em meio ao choque violento causado por preconceitos e pela rudeza momentânea da linguagem, surgem paisagens chinesas no melhor e mais belo estilo, o estilo Duras.
Em 1991, O amante recebe uma versão para o cinema, dirigida por Jean-Jacques Annaud, transformando-se, então, num grande sucesso de crítica e público. A fotografia perfeita, a trilha sonora emocionante, a interpretação fascinante de Jane March, tudo contribuiu para que o filme recebesse uma indicação ao Oscar e ganhasse dois prêmios César de cinema francês.
Marguerite Duras nasceu em 1914, na Indochina Francesa, ex-colônia da França com forte influência das culturas chinesa e indiana, devido à localização. Duras mudou-se com a família para a França, mas nunca esqueceu suas raízes orientais, retomando-as sempre em seus romances. A escritora faleceu em 1996, aos 81 anos.
Achei o texto interessante e divido com todos