UM RAIO DE SOL
 
         Amanhece como sempre em todos os dias, com sol, chovendo ou simplesmente nublado e ele está lá. Sua discreta e pequenina banca onde expõe e vende há anos os paninhos que lhe provém o sustento a si e a sua família. Mais do que comercializar panos naquela esquina, Renatinho com sua humildade e simpatia angariou amizades e companheirismo.
         Confesso que até conhecê-lo nutria grande antipatia pela figura de qualquer político em conseqüência das falcatruas e artimanhas realizadas por estes ilustres senhores que surgem a cada período eleitoral como anjos sorridentes e salvadores, com dúbias promessas as quais sabem eles de antemão que não irá cumpri-las, mas que serve para enganar a boa fé do povo que por não ter opções de voto depositam nestes elementos suas esperanças. Certo dia, conversando com um amigo e explicando a minha posição contrária a política mas dizendo simpatizar com as atitudes coerentes de Heloísa Helena, este em algumas palavras definiu-me não como apolítico mas como político de esquerda, contestador e socialista. Perguntou-me por que se eu simpatizava com Heloisa Helena, não me aproximava do PSOL. Diante de sua definição em relação a mim relutei em responder e aí ele me disse: Tenho um amigo que é vereador do PSOL e ele gostará de conhecer você. Dito isto deu-me o telefone do gabinete do vereador Renatinho e eu liguei agendando uma audiência.
         No dia seguinte eu adentrava pela primeira vez na Câmara Municipal de Niterói com uma indisfarçável admiração pelas instalações e por outro lado perguntando-me o que eu estava fazendo ali, um ambiente de convívio de políticos que eu tanto detestava. Passavam por mim mulheres em trajes finos como se estivessem indo ou vindo de uma festa e homens finamente vestidos com ternos alinhados e vistosas gravatas. São eles: os políticos. Pensei em abandonar a idéia de ir até o gabinete do Renatinho porém resolvi fazê‑lo já que estava ali no saguão da Câmara. Segui adiante e em pouco tempo estava conversando com um dos seus assessores. Era uma espécie de pré-entrevista antes da audiência marcada com o vereador, para se constatar o teor do assunto a ser tratado. Enquanto eu conversava com o assessor entrou um senhor trajando fino terno preto com camisa amarela e imediatamente o rapaz me disse: este é o vereador Renatinho. Cumprimentei-o sendo gentilmente correspondido e o rapaz disse ao vereador que eu agendara uma audiência para terça-feira. Era quinta feira e a audiência seria na semana seguinte. Surpreendi-me quando o vereador Renatinho falou: que terça que nada, estou com tempo agora, entre aqui na minha sala para conversarmos. Pediu água ao rapaz e me ofereceu enquanto tirava o paletó para ficar mais a vontade. Em pouco mais de meia hora conheci um pouco do universo político do PSOL e daquele homem simples enquanto expunha também minhas idéias. Ele mostrou-se fascinado com o meu modo de pensar e eu com o seu jeito simples de ser. Saí daquela sala para a sala anexa onde me foi entregue pelo assessor a ficha de filiação do PSOL que preenchi devidamente e com um indisfarçável orgulho por preencher segundo me fez entender Renatinho o perfil de político do partido. Desde então sempre que posso participo atentamente das reuniões onde constato que política não se faz com discursos fabricados e com belas palavras mais com ações efetivas e realizações concretas para o bem de todos sem visar minorias.
         Depois de ter conhecido o vereador Renatinho e a filosofia do PSOL percebi que nem só de promessas e sorrisos fartos devem se moldar o político assim como pelo modo impecável de vestir que aparentemente o torna a primeira vista uma personalidade distinta, mas sim de atitudes coerentes e sensatas para com o cargo que ocupa e que a sua forma de vestir não quer dizer nada, porque ao contrário do ditado que diz “o hábito faz o monge” as vestes de um político não dizem nada pois de ternos finos, camisas impecáveis e caras gravatas vestem-se os piores bandidos deste país que a despeito de imunidade parlamentar cometem atrocidades contra o povo que os elegeu.
         Renatinho é uma rara exceção de político pois no seu idealismo e na sua filosofia representa essencialmente o povo dentro daquela casa parlamentar . É um cidadão estranho naquele ninho que deveria ser composto por pessoas vestidas de simplicidade e tomando decisões para o povo, pelo povo e com o povo, segundo a égide da Democracia. Que dure o Renatinho entre as raposas e que sobreviva com o apoio popular. Parabéns ao amigo Renatinho em mais um mandato de vereador.
 
* Esta crônica está no livro "Ponto de Vista" a ser lançado brevemente com artigos, contos e crônicas. É proibida a cópia ou a reprodução sem a minha autorização. Visite meu site: www.ramos.prosaeverso.net  
Valdir Barreto Ramos
Enviado por Valdir Barreto Ramos em 10/10/2008
Reeditado em 21/06/2009
Código do texto: T1221893
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