A Crise da Pré-Meia Idade

É comum ouvirmos falar sobre as mulheres passarem pela crise da meia idade, ou a famosa “idade da loba”, que parece se iniciar aos trinta anos.

Mas não menos crítica, porém muito menos discutida, é a que eu chamarei de crise da pré-meia idade, ou como eu costumo dizer de uma forma bem humorada entre minhas amigas: “a idade do husky siberiano”. É aquela idade em que a mulher ainda não é exatamente uma loba, mas também já não é mais uma dócil cachorrinha poodle. Creio que minhas amigas que estão entre os vinte e cinco e os trinta anos compreendem o que eu quero dizer. Principalmente se ainda não se casaram e ou ainda não têm uma profissão definida.

Esse é um tempo onde tudo parece um meio termo. Você já passou daquele tempo em que havia terminado o ensino médio e estava esperando um tempo para decidir que profissão escolher, mas em contrapartida, permanece tão ou mais perdida do que quando era uma criança e alguém lhe perguntava o que iria ser quando crescesse. E o que é pior, mesmo para aquelas que já terminaram a faculdade, a insegurança ainda é grande, pois embora tenha um diploma, você ainda não é uma profissional bem-sucedida. Junte-se a isso um outro dilema cruel, aquelas que ainda não se casaram, não conseguem mais se sentir a vontade na casa dos pais, porém não conseguem decidir se esse é o momento certo para terem o seu próprio canto ou se devem esperar um pouco mais, afinal pode ser que nesse ínterim, o seu tão sonhado príncipe encantado apareça.

Mas não se iludam, as casadas também tem seus dilemas "profissionalescos", pois essa é geralmente a hora de decidir se você será irá se dedicar à sua profissão ou se abrirá mão de tudo para se dedicar exclusivamente à não menos nobre carreira da maternidade.

Mas pelo menos por hora, deixemos de lado os problemas ligados à área profissional e sejamos um pouco mais românticas, afinal nem só de diplomas e empregos vive a nossa querida husky.

Por mais independente e resolvida que você seja, ainda que de vez em quando, principalmente naquelas noites de inverno, para aquelas que ainda não possuem o famigerado cobertor de orelhas, vem aquela pergunta sutil: “Será que eu ainda vou me casar?” E que atire a primeira pedra aquela que nunca pensou assim!

Bem, você não está velha demais para se casar, mas também já não está mais naquela idade em que as pessoas diziam: “ Ah, não se preocupe com isso não, você ainda é muito nova!”

É queridas, o tempo passa para todas, parece que foi ainda ontem que eu andava de loja em loja experimentando vestidos e escolhendo a decoração da minha festa de debutante.

A adolescente de quinze anos se foi, e a mulher madura de trinta e cinco ainda não chegou. Eis-me aqui sem saber muito bem o que fazer com essa garota-mulher, meio husky, meio loba, meio independente, meio carente ou como diria Odete Barros:“entreaberto botão, entrefechada rosa, um pouco de menina, um pouco de mulher.”

O fato, é que não temos pressa de nos tornarmos na rosa inteiramente desabrochada, mas também não temos mais vontade de voltar a ser o tenro botãozinho de dez ou treze anos atrás. E verdade seja dita, esse período não é feito de crises apenas; afinal nos tornamos mais belas nessa fase, por dentro e por fora, basta olhar com um pouco mais de apreço.

Temos nossos dias de medo pelo desconhecido que vem pela frente, mas ainda podemos olhar no espelho e adiar o uso do renew por mais alguns anos. Somos mais inteligentes hoje que éramos aos quinze anos. Não temos mais os belos e rosados rostinhos que ganhamos na adolescência, e nem temos a beleza segura das mulheres que como minha querida amiga Vera permanecem belíssimas aos quarenta. Mas, já possuímos uma bela profundidade no olhar, a beleza de alguém que começa a entender quem realmente é.

Enfim, ainda não somos ainda um vinho muito apurado, mas essa idade pode ser muito apreciada se a degustarmos com o paladar adequado.

O que eu quero dizer com tudo isso, é que as crises foram feitas para serem vencidas, as dúvidas, algumas vezes serão respondidas.

Algumas de nós, um dia conquistará isso tudo, outras não. Algumas realmente serão apenas mães, outras, grandes profissionais, e ainda outras serão ambas as coisas. Outras, nem uma nem outra.

Algumas ainda serão belas aos quarenta, outras talvez um pouco menos, algumas encontrarão o príncipe encantado, outras farão do seu próprio canto um reino, ainda que sem príncipe, e ainda outras talvez morem com os pais a vida inteira.

Não podemos prever com muita segurança esses detalhes, mas uma coisa está em nossas mãos e cabe a nós faze-lo: cuidar da pequena mulher e da menina crescida que existe em nós hoje, preparar a nossa vacilante husky para transicionar para a próxima fase. E enquanto ela não chega, vivermos com intensa alegria a fase presente.

E permanecermos certas de uma coisa: com ou sem filhos, mães ou profissionais, independentes ou na casa dos pais, com ou sem príncipe encantado. De uma coisa não podemos abrir mão. Não importa a idade, cumpre a nós trazer para fora a princesa que desde a infância existe em nosso interior e que com certeza merece ser guiada por nós com todo o nosso amor.

Patrícia Ferreira
Enviado por Patrícia Ferreira em 10/10/2008
Reeditado em 16/10/2008
Código do texto: T1221681
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