A CHAMA VOTIVA DA LIBERDADE

Sempre desejo para os poetas virtuais, no mínimo, a vitalidade poética, a Beleza em plenitude. Claro, tudo ao meu gosto e talante. Tenho alguma estrada e padrões estéticos, sempre buscando a contemporaneidade. Sempre quero dos autores o melhor de sua verve – porque são estes os meus afetos – por intimoratos experimentadores, corajosos e prontos para chegar à Poesia, capazes para ficar nos futuros alfarrábios dos livros didáticos.

Acredito que mais do que nunca o Povo precisa de poesia e arte para poder acreditar num mundo melhor.

Sei que ainda não estou pronto como analista literário, mas compartilho o que pretendo saber. Ofereço o amealhado na cuca com muito zelo e respeito. Sigo a tese da dialética hegeliana: sou sempre a ANTÍTESE, o dedo na ferida, mas também o curativo, quando isto é possível. Acredito na experimentação e na posteridade. Alguém dos meus amados poetas vai ficar como sementeira literária. Impossível que seja somente Machado de Assis a ser saudado como gênio da brasigrafia.

Serão cantados pelo povo – e nisto creio com firmeza – na próxima etapa da humanidade. Mais lidos, mais cultos, filhos e netos de um Brasil mais ousado de inteligência, mais dado à leitura, mais humano em seus carinhos e apreços. No final do século XXI pode ocorrer que não sejamos o poder econômico vivificado, num mundo de economia globalizada, mas lograremos ser alvissareiros de sonhos e fetiches capazes de imantar os construtores de pátria, que nem sempre são os mesmos.

Poeta é o “bobo-da-corte”, como nos primórdios do idioma luso a história da Média Idade nos conta. Divertimos os donos do poder, mas os acossamos a todo o dia. E algo renasce do obscuro das palavras: a chama votiva da Liberdade. A poesia nunca nasce burguesa. Os sonhos proliferam nos espíritos não hauridos de favores e benesses. Poesia é o canto do proletariado, mesmo que nasça na garganta de algum bardo de portentosa família. O canto libertário da boa Poesia é gutural porque é o grito dos oprimidos de pátria, de amor e, quase sempre, de dinheiro.

Um povo como o brasileiro merece a antevisão de um mundo melhor, mais fraterno e lúcido de expectativas. Caminhemos... A estrada é longa e os apetrechos atuais são parcos. Mas não somos parvos nem escravos das formulações de Língua e Palavra. “A minha Pátria é a Língua Portuguesa”, o espírito de Fernando Pessoa repete aos brasileiros. O mago dos heterônimos, morto em 1935, jamais imaginaria um país majestoso: tão pujante e tanto futuro...

Quase duzentos milhões de almas sabem de Pátria, de seus conceitos “de levar vantagem em tudo”, e parece que estão aprendendo a valorizar mais e mais o colóquio histórico entre o passado e futuro. A América Latina já nos chama de imperialistas, na economia, e de campeão mundial no esporte das massas, pelos resultados das Copas do Mundo e Olimpíadas, no futebol masculino e feminino. Agora surgem as reservas de petróleo e o mundo amazônico brasileiro chama a atenção dos imperiais do dinheiro, a imponderável mola do mundo.

O idioma é grandiloqüente por suas cabeças em prosa e verso. Que cuidemos da Educação e dos hábitos de leitura e reflexão. É nisto que acreditou Osório Duque Estrada na criação do Hino Nacional. Talvez, por idealista e antevisor do futuro, tenha se apercebido do gigante “deitado em berço esplêndido.”

É sempre assim o universo de quem ama: nunca há nuvens tristes nos céus dos contemplativos!

– Do livro O HÁLITO DAS PALAVRAS, 2008/11.

http://recantodasletras.com.br/artigos/1210311