EDUCAÇÃO E PROPAGANDA ENGANOSA

EDUCAÇÃO E PROPAGANDA ENGANOSA

POR WILLIAM PEREIRA DA SILVA

A rede privada de ensino sempre lança suas campanhas publicitárias exaltando suas qualidades para atrair os clientes, isto é, pais de alunos, e neste chamamento chegam aos absurdos.

Tudo perfeito, cada uma melhor que a outra não existe escola ruim, cada uma tem a oferecer aquilo que o cliente realmente deseja em qualidade, eficiência, estrutura física, modernidade, tecnologia, quadro docente e discente qualificado e aí vai. Temos verdadeiras escolas de primeiro mundo.

Com mais de dez anos de experiência ensinando na rede privada de ensino posso afirmar que tudo é propaganda enganosa, onde na realidade não existe nada do que é anunciado, pouquíssima são as escolas em Mossoró que tem autoridade e competência para anunciar e oferecer qualidade de ensino aos Mossoroenses, não mais de cinco a seis escolas são exceções, se não for muito.

Vamos começar analisando pela situação de muitos professores, que sem exagero, ganham menos que um gari da prefeitura, isso mesmo, menos que um gari da prefeitura, que somente precisa de qualificação de primeiro grau, isto em escolas que alardeiam terem em seus quadros excelentes professores. Quem quiser provar peça um contracheque de um gari e compare-o com o dos professores da maioria das escolas particulares de Mossoró. Muitos deles no ensino médio. Os do ensino fundamental a maioria trabalham em regime de quase escravidão, forçadamente chegam a um salário mínimo principalmente os que lecionam do pré-escolar a 4ª série e tem de trabalhar dois expedientes inclusive aos sábados e saibam que só aceitam professores com curso superior. Um gari do quadro da prefeitura recebe em média seiscentos reais mensal, muitos com direito a salubridade, adicional noturno, horas extras, periculosidade, diga-se de passagem merecidamente e talvez ainda seja pouco pelo que fazem.

Agora deduza; estes professores estão satisfeitos com sua condição salarial? Eles trabalham com dedicação e zelo? Tem como ser respeitado pelos alunos e comunidade em geral? Tem tranqüilidade e cuidam bem das crianças e dedicam-se de corpo e alma na educação destas crianças? A escola pode dizer que tem qualidade com professores e funcionários mal remunerados? Só quem viveu esta realidade pode afirmar que não. Em conversas informais com esses educadores mal remunerados sentimos nos seus depoimentos a revolta interna e o descontentamento com a sua realidade profissional. Aceitam iludidos pela necessidade de ter alguma remuneração para ajudar em casa e não depender do esposo ou esposa ou ainda de seus familiares. Calam-se diante das injustiças com medo de perder a ninharia que pouco lhe trás benefícios materiais necessários a sua dignidade neste sistema capitalista desumano. O resultado de tudo isso e uma educação de baixa qualidade disfarçada pelas fachadas bonitas das escolas e as propagandas enganosas. Ainda podemos dizer que a maioria destes profissionais não tem carteira assinada e quando tentam reivindicar alguma melhoria são tachados de rebeldes, perturbadores, não querem trabalhar e os Diretores ou PATRÕES logo resolvem demiti-los para não influenciar os demais, “fica quem quiser ninguém esta obrigando a nada, existem outras escolas” despacham logo OS PATRÕES. E suas escolas sempre crescem e prosperam em patrimônio.

Os diretores ou PATRÕES geralmente são os DONOS da escola que não tem um minimo preparo administrativo pedagógico e muitos dirigem as escola por ser parente, cônjuge, ou correligionário político. Aqueles que têm algum curso superior ou cursos de administração ou pedagogia reza nas cartilhas dos mais poderosos que tem em mente a escola mercenária que só visa o lucro em detrimento da qualidade de ensino e respeito aos profissionais da educação.

Algumas escolas particulares, principalmente na periferia, não atende aos requisitos básicos que a lei determina no que se refere ao espaço físico, iluminação, material didático, qualificação dos profissionais, sendo verdadeiros cubículos onde pobres crianças são colocadas para permanecer meio dia e muitas vezes o dia todo. Verdadeiras gaiolas adaptadas de casas desestruturadas para tal fim.

Concluindo a realidade destas escolas podemos ainda citar que em muitas delas reina a indisciplina dos alunos mais perspicazes onde estes percebem por seus pais pagarem, muitos são aprovados, sendo apadrinhadas da direção e passam a achincalhar e desrespeitar os professores dizendo na frente dos mesmos que não ligam por que sabem que vão passar e não precisam dos professores. Realmente triste, mas verdade. Certa vez uma professora contou a história de um aluno que dizia não querer estudar porque o pai dele e ele mesmo nunca precisaram estudar para ter carros luxuosos, mansão, casas na praia, roupas de grife e ela sendo professora não ia conseguir isso nunca e ficava na sala acanalhando a aula. A professora respondeu: - Posso não ter o que vocês tem, mas tenho saber, cultura e educação que são valores maiores do que o dinheiro e seu pai e você não tem. Bela resposta. Muitos donos de escolas deviam saber disto também.

Muito ainda poderia ser esclarecido como a questão dos livros didáticos, mensalidades, descumprimento das leis de defesa do consumidor, etc.etc., mas fica para outra oportunidade.

Seria bom que os poderes constituídos como o Ministério do trabalho, Conselhos de Educação, Ministério Público com a promotoria de Defesa da Educação, Sindicatos, tivessem mais interesse em fiscalizar e autuar estas escolas que existem somente para “mercantilizar” a educação não respeitando normas, leis, critérios, pedagogias, metodologias, sendo organização de mercenários que só visam o lucro e nada mais.

Sugiro aos profissionais da educação e pais de alunos para num futuro bem próximo criarmos uma ONG para atuar no contexto educacional para combater a corrupção, a humilhação, a escravidão, o descaso, que existe nas escolas, tanto na esfera municipal, estadual e privada de ensino.

Lanço o desafio para todos aqueles que comungam com os fatos narrados e estão cansados de tantas injustiças para através de reuniões começarmos a planejar e criar uma ORGANIZAÇÃO NÃO GOVERNAMENTAL – ONG, para juntos combatermos as injustiças, exploração e maus tratos que acontecem nos bastidores da educação e combater frente a frente às verdadeiras máfias que utilizam a educação para enriquecimento ilícito, desvio dos recursos públicos e apadrinhamento político e desprezam a cultura, a arte e o saber. Os interessados entrem em contato pelo e-mail: wilpersil@hotmail.com.

PROFESSOR WILLIAM PEREIRA DA SILVA
Enviado por PROFESSOR WILLIAM PEREIRA DA SILVA em 03/10/2008
Código do texto: T1209140