INDEPENDÊNCIA OU MORTE: do Ipiranga para o Brasil.

No dia 7 de setembro, comemora-se a Independência do Brasil, um fato memorável, Dom Pedro I as margens do Ipiranga ergue sua espada de forma imponente, estufa o peito e grita com toda força dos seus pulmões “Independência ou Morte”, a força deste grito ecoaria por muitas décadas e nos levaria a sentir orgulho de um puro herói nacional (apesar de tratar-se de um português).

Com a vinda da família real para o Brasil, os Portugueses sentiram-se órfãos, enquanto Portugal deixava a condição de sede do Governo Português (Metrópole), passando a ocupar uma postura de reino sem rei presente, Dom João fugira para salvar a própria pele, diante da ameaça de invasão das tropas Napoleônicas, a insatisfação era evidente, culminando-se com mobilização política exigindo a volta do rei, Souza (1873) nos esclarece como as mobilizações eram intensas:

Foi nesse contexto que uma revolução constitucionalista tomou conta dos quadros políticos portugueses em agosto de 1820. A Revolução Liberal do Porto tinha como objetivo reestruturar a soberania política portuguesa por meio de uma reforma liberal que limitaria os poderes do rei e reconduziria o Brasil à condição de colônia.

A força do movimento era tamanha que o rei chegou a temer que a revolução o depusesse do trono, com isso podemos imaginar a organização e força política deste movimento revolucionário, conforme Souza:

Os revolucionários lusitanos formaram uma espécie de Assembléia Nacional que ganhou o nome de “Cortes”. Nas Cortes, as principais figuras políticas lusitanas exigiam que o rei Dom João VI retornasse à terra natal para que o mesmo legitimasse as transformações políticas em andamento. Temendo perder sua autoridade real, D. João saiu do Brasil em 1821 e nomeou seu filho, Dom Pedro I, como príncipe regente do Brasil.

Vemos que, Dom João VI veio para o Brasil fugindo de Napoleão e saiu daqui para manter o trono, ameaçado pelos conterrâneos, deixou o filho no poder como príncipe regente, causando a insatisfação da burguesia tupiniquim, que não mais aceitavam retornar a condição de mera colônia portuguesa.

Tivemos neste período uma transição, de colônia para país independente, de forma singular e porque não dizer cômoda, pois Dom Pedro I permanecia no poder como monarca do Brasil, cargo que lhe fora concedido por seu pai e rei de Portugal, sendo assim contornou-se os descontentamentos advindos da saída de Dom João VI do Brasil e a volta do Brasil a condição de colônia Portuguesa, compreendemos que o fato da insatisfação das populações portuguesas e brasileiras, concentrava-se na não aceitação de uma submissão quanto ao status de colônia junto a outro território, que nos leva a crer na existência de uma rivalidade entre Portugueses e Brasileiros, ainda não explicita nos livros históricos. Quanto à ruptura de marcou a independência brasileira, Pinsky (2006) nos diz:

Por outro lado, a emancipação política do Brasil dá-se de forma sui generis, liderada que foi pelo próprio filho do rei de Portugal e com anuência deste, em 1822. Uma transição sem mudança, típica de um país que não reforma, concilia. A chamada “Independência do Brasil” ocorre graças ao entusiasmo de camadas urbanas, rarefeitas e educadas em Portugal, mas precisamente devido ao interesse dos latifundiários proprietários de escravos que pretendem com isso livrar-se do mercador português, ao seu ver beneficiário duplo da estrutura sócio-econômica, na medida em que trazia escravos para o Brasil e levava o açúcar, o fumo e outros produtos para o mercado europeu.

Mais uma vez os interesse comerciais falaram mais alto e definiram a os rumos que o país iria tomar, como na maioria das revoluções ocorridas o sentimento popular foi usado por uma elite pouco preocupada com os sentimentos nacionalistas, uma burguesia que tinha os olhos voltados para o próprio bolso. Com a independência o Brasil manteria a abertura dos portos e poderia negociar seus produtos com todos os paises do mundo, enquanto na condição de colônia toda sua produção deveria ser entregue a Portugal.

Dessa forma vemos que não foi por amor ao Brasil que D. Pedro I, proclamou a “Independência do Brasil”, tão pouco houve uma resistência mais forte por parte de Portugal, se analisarmos criticamente o fato de em 1808 a nação deixar de uma hora para outra de ser colônia e passar a ser Metrópole, com a vinda do rei, jamais aceitaria retornar ao papel de mera colônia. Isso explica a necessidade da Declaração de Independência. Em 1808 D. João VI resolveu um problema, fugindo das tropas Napoleônicas, para preservar o poder e a vida, porém iniciou a pavimentação da estrada que levaria ao desprendimento do Brasil e Portugal.

Porém para construir uma verdade que atendesse aos anseios das classes dominantes necessitava-se de um personagem que fosse detentor do poder de perpetuar os acontecimentos históricos em uma versão pouco próxima da verdade. E para isso empregou-se um personagem já usado na própria história brasileira: o historiador.

O historiador assume um papel maior que o de narrador histórico, ele também é um visionário, um tradutor de situações, é na sua leitura de mundo que se desmancha o emaranhado de fatos que compõem a história local. Jaime Pinsky (2006, p. 11) nos diz:

O historiador é um pouco menos ignorante (ou um pouso mais pretensioso) que o comum dos mortais. Enquanto a humanidade busca sem sucesso, resposta às eternas questões de onde viemos, para onde vamos? O historiador acha que pelo menos consegue ser o profeta do passado, capaz de antever... o que já aconteceu.

Mas, e quando o historiador tem uma visão alheia aos fatos, buscando transmitir uma informação, sem preocupar-se com sua veracidade, sem buscar provas ou estudos capazes de sustentar mesmo que momentaneamente o fato a ser descrito; Pinsky (2006, p 12) nos cita como exemplo a carta do descobrimento do Brasil:

...encarregado de narrar os eventos, registrava que a “terra era dadivosa” e que “em se plantando tudo dá”. Com isso, Pero Vaz de Caminha inscreve seu nome entre os “explicadores” do Brasil, um daqueles seres privilegiados que por horror ao empirismo, elaboram engenhosas teorias destinadas a explicar o global, sem contudo guardar qualquer compromisso com os fatos. Se o escriba tivesse tentado plantar alguma coisa veria que grande parte do país é coberta por cerrados inadequados para a maior parte das lavouras, outra é semi-árida e uma terceira só matem sua umidade por conta de imensas árvores que, uma vez dizimadas, expõem ao agricultor um solo seco e arenoso. Pero Vaz já é, portanto, um daqueles historiadores que quando levados a estabelecer um contraponto entre teoria e fatos, não tem dúvidas: pior para os fatos.

Dessa forma comprovamos que a visão do historiador, ou sua tendência, seja política ou religiosa, influi de forma preponderante na construção do relato histórico, criando ou modificando verdades, enaltecendo personagens históricos ou desacreditando-os.

Criamos heróis nacionais, talvez impulsionados pelo desejo de assumirmos uma identidade que glorificasse nossos antepassados e inflasse nosso ego de grande potência, país de um nacionalismo forte e enraizado no seio popular. Talvez por nossa educação que engatinhou os primeiros passos nas mãos dos Jesuítas, que ora buscavam criar não heróis, mas, santos; sendo esta a experiência mais eficaz de educação, nos primeiros séculos de nosso país.

De toda forma, concluímos que a Independência do Brasil, nada mais foi que uma forma de acalentar o descontentamento popular, remetendo nosso povo a uma euforia e toda sorte de ilusões quanto ao futuro do Brasil.

REFERÊNCIA:

PINSKY, J.., et.al. O ensino de história e a criação do fato . 12ed. São Paulo: Contexto, 2006.

Por Rainer Sousa – disponível no site:

http://www.brasilescola.com/historiab/independencia-brasil.htm

acessado em 09 de setembro de 2008.