Brasil: ser ou nao ser.
To be or not to be…
Terça, 23 Setembro 2008 00:36
Por Artur Alonso Novelhe
A Bolívia ardia, e o Brasil apagou o lume, e não o fez de maneira simples, mas usando uma hábil diplomacia. Por um lado impedindo aos Estados Unidos tornarem a fogueira em incêndio. Depois indicando à Venezuela que limites devem ser respeitados, a seguir convidando ambos os contendores para se sentarem a negociar. Não é a primeira vez que o país do samba nos surpreende, já o fez no conflito entre a Colômbia, a Venezuela e o Equador, impedindo nesse momento uma escalada bélica.
Isto tem uma série de conotações a ser compreendidas, entre outras muitas uma de grande relevo: O pátio traseiro dos USA já não chega até à Patagónia, o Brasil agiu como a nova potência regional que é: aproveitando a conjuntura de debilidade imperial o Brasil tem fiado com suma originalidade diplomática um novelo muito complicado: por um lado a figura de Chavez veio servir a Brasília para convencer o Império de que eles são o melhor caminho para representar os seus interesses na zona, a sua fortaleza económica tem criado à vez alianças no seio de países com perspectivas diferentes que até o de agora o Brasil soube conciliar.
Não tem sido nada fácil combinar esses distintos aspetos em que se assenta o domínio brasileiro: uma aliança táctica, com desenvolvimento incluído de manobras militares conjuntas, com EUA, uma aliança económica virada à formação do UNISUL, uma aliança político militar estreita com países como a Argentina, que se fomenta inclusive em tratados energéticos e bancários conjuntos, para daí fornecer mais autonomia ao sul do continente sob a sua liderança.
O Brasil é consciente de que está na primeira fase de desenvolvimento potencial em que se esta afiançar como potência regional. No entanto, o Brasil não deve desatender outros foros que o podem cimentar nesse caminho, com o objetivo de chegar a ser no futuro uma potência global. Assim seria um grande erro centrar todos seus esforços no cone sul do continente americano.
Deve escrutar mais outras sendas, nesse andar o Brasil tem de se reafirmar também como líder indiscutível do mundo lusófono. Desenvolver um plano para afiançar uma unidade Lusófona é vital para os interesses de Brasília. Qualquer potência deve ser consciente de que a sua língua e cultura são pilares fundamentais da sua expansão. Realizando convénios para o intercâmbio cultural com os distintos países onde essa influência consegue abrir mercados para a sua cultura ao mesmo tempo que para os seus produtos, e utilizando o próprio imenso mercado interno para promover convénios que exportem o modo brasileiro e portanto lusófono de vida.
Isso sabe bem o Brasil, que tem uma atitude correta neste sentido no sul da América. Mas também esses esforços devem ser orientados para fortalecer o conjunto do mundo luso. Assentar a língua nas regiões onde fraqueja, fomentar o uso da mesma nos cantos onde ainda resiste como a Galiza, a Namíbia, a Guiné Equatorial, o Senegal, Díli, Damão na Índia, Macau na China... combinar intercâmbios multiculturais com países de que é sócio estratégico como no caso da BRIC... um plano afinado de conquista e sedução por meio da cultura, riqueza e diversidade brasileira e lusófona em geral, fazendo-se porta-voz da lusofonia perante a Rússia, a China, a Índia, e demais países com que o Brasil está a ter ótimas relações no plano internacional, seria uma ponta da lança para esse projeto de viabilidade futura como potência global e cabeça da lusofonia.
Pequenos passos de intercâmbio através de Universidades, câmaras de comércio, delegações desportivas, geminações entre vilas, cidades... são um começo interessante que prolongam uma visão multicultural e multilinguística tão necessária na nossa era.
Mudar as formas achegando um compromisso de domínio compartilhado também será num futuro uma nova etapa que superará o modelo atual que se afunde: depredador sistemático e colonizador insaciável.
Quanto à Galiza, a relação primordial com Espanha faz com que o Brasil possa e deva fazer muito mais pela língua comum que esmorece no seu berço nativo, do que um simples não querer olhar, para não intrometer-se em assuntos que se supõe lhe são alheios. O genocídio linguístico que se está a cometer na Galiza terá graves repercussões no mundo lusófono.
A Galiza não é só parte do nascente onde a língua comum deu os primeiros passos, senão também um futuro revulsivo anímico e espiritual dentro do mundo galego-português, pela sua capacidade e recursos, tanto humanos como técnicos, científicos e de capital. Movimentar a genial diplomacia brasileira em favor da Galiza é um pequeno mas grande contributo que de certeza há de repercutir em beneficio próprio.
Dois vetores podem compor esta iniciativa, por um lado priorizar o relacionamento cultural, através das organizações e instituições brasileiras formadas a tal fim, com os representantes galegos do setor reintegracionista, beneficiando as organizações, organismos e academias galegas que usem o galego internacional, quer dizer, o português, como veículo de expressão, em detrimento dos organismos, organizações e academias que usem o galego isolado, afastado do tronco comum, e que beneficia de uma ortografia castelhana que como um pequeno cancro vai corroendo as suas entranhas.
À vez que convencendo os diferentes interlocutores galegos do mundo empresarial, desportivo e cultural que se desloquem ao Brasil, da necessidade de uma ortografia comum com os galegos, e o formidável que seria que a Galiza aderisse ao Acordo Ortográfico, para um desenvolvimento mais fluido e dinâmico dos negócios, desporto e cultura.
Outro vetor seria o afastamento táctico dos medos que a Espanha lhe puder entrar no caso de uma Galiza lusófona vir à luz. Afirmando que uma Galiza lusófona não só não seria um fator desestabilizador no âmbito peninsular mas pelo contrario seria uma ponte formidável de crescimento mútuo e enlace entre o mundo lusófono e hispano a um e outro lado do Atlântico.
São retos novos, complicados e complexos, mas fornecem um barómetro adequado das capacidades e valores sobre os que se vai assentando uma futura potência global.
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