SE DEUS QUER FAZER UM HOMEM
Recebi e repasso.
Se Deus quer fazer um homem
I
Se Deus quer fazer um homem
E Eletrizar o coração de um homem,
E adestrar à força quer, um homem,
Se Deus quer treinar um homem
Para cumprir uma genial missão;
E quando quer, de todo o coração,
Criar um homem tão ousado e grande
Que a sua fama ao mundo inteiro mande
Observai o seu método e caminhos!
Como coroa sempre com espinhos
Aquele com quem Ele simpatiza;
Como o desbasta e como o martiriza,
E a poderosos golpes o converte
Num esboço de argila que diverte
Somente Deus que o compreende
Enquanto o torturado coração
Aos céus levanta a suplicante mão!
Quando o seu bem Deus empreende,
Como o abate, sem jamais quebrar,
Como se serve de que vai sangrar!
Como o derrete e não o deixa em paz,
E com que artes Ele sempre o traz
A apresentar ao mundo sua luz...
Ah! Deus sabe o que Ele faz!
II
Se Deus quer pegar um homem,
E se deseja sacudir um homem,
E se pretende despertar um homem;
Se Deus quer fazer um homem
Que, no futuro, cumpra-lhe o desejo;
Quando Ele tenta, com habilidade,
Quando deseja e quer, com ansiedade,
Fazê-lo vigoroso, são, completo,
Com que sagacidade Ele o prepara!
Como o aguilhoa com a sua vara,
De que maneira o amola e como o enfeza
E o faz nascer em meio da pobreza...
Com desapontamentos sempre punge
O coração daquele que Ele unge;
Com que sagacidade Ele o esconde
E oculta, sem olhar ao menos onde,
Soluce, embora o gênio, desprezado
E seu orgulho guarde esse passado!
Manda-o combater mais arduamente,
O deixa tão solitário que somente
As mais altas mensagens do Senhor
Consigam penetrar a sua dor
É assim que Deus lhe clareia
Da hierarquia a impenetrável teia.
E embora Ele não possa compreender,
Dá-lhe paixões ardentes a vencer!
Como impiedosamente Ele o esporeia,
Com que terrível entusiasmo o fere
Se acaso, acerbamente, Ele o prefere!
III
Se Deus quer nomear um homem,
E se Ele quer dar forma para um homem,
E se Ele quer domar, acaso, um homem;
Quando Ele quer dar brio para um homem
Executar missão quase celeste,
Quando Ele tenta o seu supremo teste
Que há de imprimir a inconfundível marca
No que há de ser um Deus, ou o Monarca
Quando o dirige, e quando que o refreia,
De modo a que seu corpo mal contenha
A inspiração ardente que o incendeia;
E a sua ansiosa alma se mantenha
Sempre anelante por um sonho esguio!
Engana com ardis sua esperança,
Lança-lhe em rosto novo desafio,
No instante em que ele o alvo quase alcança
Faz uma selva - que limpar-lhe custe;
Faz um deserto - para que se assuste,
E para que ele o vença, se capaz...
Assim Deus um homem faz!
IV
Então, para provar a sua ira,
Uma montanha em seu caminho atira -
E põe amarga escolha a sua frente:
"Sobe ou perece!", diz-lhe, sorridente.
Meditai no mistério da Intenção!
Deus o plano é tão clemente:
Se compreendêssemos a sua mente!
Os que o chamam cego, tolos são,
Pois com o pé sangrante e lacerado
É que o espírito sobe, descuidado,
Com entusiasmo e com vigor dobrado,
Esses caminhos todos, que ilumina
Com essa força ativa, que é divina;
E do ardor manja a espada de aço,
Para enfrentar o peso do fracasso;
E mesmo na presença da derrota,
Inda esperança em seu olhar se nota!
Eis que é chegada a crise! Eis o grito
Que estas a pedir um chefe ao infinito!
Só quando o povo implora salvação,
É que Ele vem governar a Nação...
Então Deus diz-nos: Tomem:
Eu lhes entrego, finalmente, um homem!