Pastores e lobos. (política)
Um homem e seu cajado. Essa é a figura tradicional do pastor. Tem a responsabilidade é zelar pelo seu rebanho. Sua missão é cuidar pela integridade do grupo; salvá-lo dos ataques dos predadores, socorrer as fêmeas nos partos, sanar os feridos, levá-lo ao córrego para saciar a sede, garantir-lhe, enfim, segurança em pastagens abundantes. Mas, para isso, constrói-se cerca de arame farpados para impedir a fuga dos seus protegidos. Vivem presos: pastores e carneiros em seu aprisco e obrigados a conviverem uns com os outros.
Tal qual uma manada, os homens também são obrigados a se inclinarem perante líderes que se dizem zelosos pela sua felicidade. As necessidades são parecidas. Humanos dependem de espaços, liberdades, aprendizados; de alguém que cuide de suas chagas, que lhes proporcionem alimentos de boa qualidade. Contudo, para o cargo de dirigente deve-se ter sobriedade, ser respeitado por sua conduta, ter bom diálogo e índole incontestável. Ele tem que conhecer as necessidades de seus conduzidos e, juntos, buscarem o bem comum.A realidade, entretanto, mostra-se contraditória. O rebanho humano há muito vive disperso. Isso os tornou preconceituosos, marginalizados, gananciosos. Por serem mal administrados, se apegam aos subornos, ignoram o óbvio e se proclamam auto-suficientes. Na verdade, comem na mão de falsos condutores e rezam para que amanhã seja um novo dia...
O pastoreio, se a ovelha é arredia, amarra-lhe as pernas, fere no focinho, mete-lhe canga para que não fuja. Quanto às pacíficas, rouba-lhes o leite, a lã e as crias.
Os líderes humanos, com as omissões evidentes, permitem que os apriscos duelem entre si criando facções ideológicas, chantagens e latrocínios. Dos que sobrevivem, sangram-lhes os bolsos com propinas, impostos e taxas exorbitantes. Negam-lhes a cultura e os mantêm acuados, sem empregos, sem destino e confinados na vala do subdesenvolvimento...
Típico de todo pastor, o qual cuida do seu rebanho não lhe visando a felicidade, mas tão somente a tosquia e o abate!
A Notícia. junho 2000.