De quanto, mesmo, estamos falando?

Depois que exterminaram o idealismo, o patriotismo desinteressado, o respeito e a vergonha na cara, muitas coisas se modificaram na face da Terra. A velha brincadeira do “de quanto estamos falando?” se tornou patente no comportamento brasileiro.

É uma realidade crua que se destaca, justamente, nos momentos importantes de nossas vidas. Os exemplos são muitos, nos mais diversos segmentos de nossa falida sociedade. Vale a pena analisar, por exemplo, a seleção brasileira de futebol. Muitos dos nossos principais jogadores, com contratos milionários fechados em clubes europeus, quando são convocados para representar o país em disputas internacionais, será que vêm por amor à camisa?

Não me parece que seja assim. Claro que vêm – até porque estão ganhando pra isso, o que é errado – mas pouco se importam com o resultado da vinda. Afinal, por que o jogador “A” ou o “B” iria correr o risco de suar a camisa, provavelmente se contundir e ficar afastado da equipe do Velho Mundo, que lhe paga uma fortuna e faculta contratos paralelos milionários? Alguém já viu um desses demonstrar tristeza diante de uma derrota canarinha? Terminado o jogo, vamos mais é festejar a pequena licença porque amanhã teremos que estar de volta aos palacetes europeus.

Agora vem a campanha política para renovação das câmaras municipais. O que deveria ser um ato de brasilidade, de interesse coletivo, se torna uma disputa pelo cargo, ou melhor, por quanto vale uma cadeira no plenário, não importa a forma como deva se desenvolver a campanha.

Qualquer pessoa pode pleitear uma vaga, a democracia garante isso. Mas há que se ter alguns limites, no mínimo por respeito ao cargo em disputa. Mané da Linguiça, Carlão do Lixão, Porco-espinho, Boca Nervosa, Caixão Preto, Zureta do Litoral, Gostosa do Povão e outros achincalhes vêm servindo de base publicitária, sem qualquer limite, sem a mínima dignidade, sem respeito ao eleitor.

A luta agora não é pelo cargo, e sim pelo din-din que ele gera. Eu me ponho a pensar se a grande maioria desses “candidatos” têm consciência que, se eleitos, terão por obrigação gerar e aprovar leis quando, na verdade, são os primeiros a desrespeitar as já existentes porque sequer as conhecem.

Se o cargo de vereador não valesse dinheiro – como era até o início da década de 70 – estaríamos assistindo a espetáculos tão deprimentes como vemos em quase todas as cidades? Eu duvido. Na época, havia uma consciência, hoje há um interesse. “E que se dane a população, quero mais é estar lá na mordomia”.

Particularmente, eu acho que cargos como vereadores, prefeitos, deputados, senadores, governadores e presidente deveriam exigir de seus pleiteantes um mínimo de formação escolar, acima do ensino médio. Talvez assim nossas leis não fossem tão absurdas, incoerentes, inconseqüentes e interesseiras.

O peso da responsabilidade do voto, parece-me, ainda não está pesando o suficiente para sacudir os brios verde-amarelos. Nem deve pesar, posto que mesmo nas mais altas estrelas nacionais a futilidade orbita livremente. Então, saudemos a incompetência,

Recentemente um acontecimento econômico da mais alta importância para o Brasil foi anunciado. A Petrobras chegou a grandes reservas de petróleo na camada pré-sal, que poderão garantir nossa soberania, emancipação financeira e respeito no exterior.

O inusitado veio justamente da mais alta autoridade do país. Por duas vezes (que se tem notícia), em solenidades de nível internacional, o presidente senhor Lula fez gracinhas inadmissíveis ao cargo que ocupa. Em um discurso, disse que se a Petrobras continuar perfurando a terra em grandes profundidades vai acabar espetando um japinha lá embaixo, do outro lado do mundo.

A segunda gracinha presidencial foi durante a inauguração do primeiro poço a extrair petróleo da camada pré-sal, em solenidade de projeção internacional. Em seu discurso oficial, o senhor Presidente da República saiu-se com essa: “Por isso que a água é salgada? É por causa do pré-sal? Eu pensei que fosse por causa do xixi que as pessoas fazem na praia, no domingo”.

Eu acho que, com essas duas brilhantes atuações, quando deixar o mais alto cargo do país, para felicidade geral da nação, no mínimo o sr. Lula terá garantido um novo emprego : uma vaga na Turma do Didi, que já está precisando renovar as gracinhas dominicais.

Elber Suzano
Enviado por Elber Suzano em 20/09/2008
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