Por que ainda respiras?

A sobrevivência do cristianismo até nossos dias me intriga, pois Deus está morto a muito tempo, o que sobrevive? Já vou desestimular o leitor que desconhece o conceito nietzscheano. Se desconhecer o conceito, a leitura deste será inútil. Mas, vou ajudar aqueles que eventualmente tiverem dificuldade para compreender coisas mais profundas. É da essência do texto filosófico ser de difícil assimilação. Não é como o texto frouxo e na maioria das vezes falacioso dos jornalistas. Abomino a superficialidade. Se é para pensar, que pensemos sobre coisas grandiosas. Nosso cotidiano já torna nossa vida bastante medíocre com todas as suas demandas.

Deus está morto (Gott ist tot). Frase proferida pelo filósofo Nietzsche (1844-1900). Uma das frases mais mal interpretadas da história da filosofia. Deus está morto não significa que este ser metafísico morreu fisicamente, não é uma declaração de ateísmo, também não é a morte do nazareno. A morte de Deus significa que o conceito de Deus que era tomado como base para todos os valores morreu. Não é mais possível tomar como base para estabelecer nossos valores a noção de Deus.

Uma observação fria, livre de romantismo e sentimentalismos infantis, pode constatar que mais do nunca, o que marca o ser humano é sua sanha em acumular montanhas de coisas inúteis, de criar coisas desnecessárias, ter necessidade das coisas desnecessárias e sofrer quando não as têm.

O cristianismo atual inverteu a lógica da vida no além-túmulo, por uma vida de prosperidade material aqui e agora. Deus é apenas um nome forte que sobreviveu, Jesus também. O sentido de uma vida de dedicação e centrada em valores cristãos perdeu-se por completo. Jamais encontraremos algum cristão que dê a outra face para batermos, que não cobice a mulher do próximo, que perdoe seu irmão 70 vezes 7, que ame seu próximo como ama a si mesmo e Deus sobre todas as coisas. Seria uma loucura dizer a um cristão: busque primeiro o reino de Deus e a sua justiça que as outras coisas lhe serão acrescentadas. O leitor pode constatar que cristão foi apenas Jesus e que seu evangelho morreu quando este foi crucificado.

O cristianismo em si não tem nada de grandioso. O que o torna objeto que questionamento são os desdobramentos que esta seita trouxe ao mundo. Vivemos sob uma perspectiva cristã. Embora o cristianismo pátrio seja uma religião predominantemente oral, ele ainda tem muita força. Digo religião oral, pois os cristãos, vergonhosamente, desconhecem seu documento sagrado. Os católicos conhecem alguma coisa por meio da fala do padre, o evangélico, apesar de carregar a bíblia debaixo do braço, apenas a conhece de maneira descontextualizada. Ficaria horrorizado se percebesse as contradições e as coisas tolas e impraticáveis que as “Sagradas Escrituras” dizem.

O homem contemporâneo, brasileiro, representa uma caricatura de ser humano. Em nada aproveita suas potencialidades, evidentemente, não pode ter nenhum tipo de valor transcendental, pois Deus está morto há muito tempo. Não lê e não compreende o mundo. O cristianismo brasileiro é dos mais frívolos que existe, os cristãos tupiniquins são, na sua religião, como em tudo, superficiais. O que sobreviveu? Nomes sagrados e instituições que se pretendem sagradas. Nomes e instituições pelos quais o cristão acha que pode conseguir aquilo que deseja. E o que ele deseja não é uma vida virtuosa, mas uma vida materialmente próspera. Nada pode ser tão distante de uma espiritualidade.

Frederico Guilherme
Enviado por Frederico Guilherme em 14/09/2008
Reeditado em 14/09/2008
Código do texto: T1176987
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