A Literatura, O leitor e o Ensino-Aprendizado: um VIÉS
Jonathan Culler discute o literário e o não literário a partir das várias concepções que floresceram no mundo, desde o século XVI até os formalistas russos.
A partir do fragmento “a literatura inglesa do século XIX geralmente inclui Lamb (mas não Bentham), Macaulay (mas não Marx) e Mill (mas não Darwin ou Herbert Spencer) (CULLER). Pode-se inferir por esta definição, que os textos meramente científicos não possuiriam, por assim dizer, um caráter literário, mas o autor mostra no decorrer da escrita que estão longe os “padrões categóricos” que podem definir o que é ou não literário. Partindo destes pressupostos expostos por Culler, pensa-se num modo de tornar a leitura instigante e prazerosa para os alunos das séries iniciantes ou mesmo para os do 2º. ciclo do ensino médio. A grande questão que se coloca é: como proceder para que esse interesse seja despertado e os estudantes motivados?
Ao analisar superficialmente o livro Linguagem, Criação e Interação, de Cássia Garcia de Souza e Márcia Paganini Cavéquia, da Editora Saraiva. S.P. 2005, constata-se que as autoras apresentam uma obra dirigida à 7ª.Série do primeiro ciclo. Verifica-se que o ensino de Língua Portuguesa está atrelado ao ensino da Literatura. Nota-se que há pouco cuidado na seleção dos textos e, predominantemente, a linguagem mais usual são as charges bem curtas, algumas tiras, ou somente um quadro. O livro é essencialmente visual. Quando há uma seleção de textos, privilegiam-se os contos de terror ou mesmo fragmentos de contos dos grandes autores como Manuel Bandeira (Estrela da Vida Inteira). (trabalham exclusivamente “fragmentos”)
É visível o descuido na seleção dos textos, erros pontuais de impressão são encontrados ao longo da obra. Não querendo fazer deste estudo um trabalho crítico, mas apenas constatando os fatos, volta-se a Culler e à questão do que é literário ou não. Na verdade, a literatura é tida como o “texto por excelência”. Apresentar aos alunos “a escrira literária” seria uma boa maneira de expô-los à arte. Reduzir nos livros didáticos os textos, resumi-los de forma a descaracterizá-los ou “apagar-lhes” o sentido, é uma maneira de não levar o conhecimento aos estudantes ou, o que é pior, não levar o conhecimento adiante.
“O discurso literário torna estranha, aliena a fala comum”. (CULLER, CITANDO JACOBSON)
Ao livro didático cabe a tarefa de levar os grandes escritores aos alunos, provocar esse “estranhamento” que leva à curiosidade, que leva o leitor à pesquisa, que sustenta o sonho e a imaginação de forma a poder proporcionar ao leitor suporte para o diálogo com outras linguagens e interação/participação no mundo é função dele.
A discussão empreendida do que é ou não literário está descrita em Culler com características não definitivas, há uma ampla margem nestas possibilidades da literariedade das obras.
A seleção dos textos nos livros didáticos é confusa e desfragmentada. O ensino de literatura no Brasil tem sido feito pela perspectiva da historiografia literária, ou seja, em vez de o aluno aprender a ler os textos literários, passa os três anos do ensino médio aprendendo a situar os autores e obras na linha do tempo, a identificar a estética literária a que pertence etc. Em pesquisa realizada com alunos de escola municipal em Niteroi, verificou-se que a insatisfação com o ensino de literatura é geral. Normalmente, os estudantes apontam a “monotonia” das aulas ou a aula extremamente expositiva. Constata-se, por assim dizer, que há um “engessamento” no ensino desta disciplina. Abrir uma forma de diálogo e estabelecer relações para que não se estude somente a literatura brasileira nas aulas, mas sim todos os autores da literatura universal é mais do que conveniente para oferecer possibilidades de reflexões sobre o que o crítico soviético R.Jacobson nomeia de violência organizada contra a fala comum.
O texto de Culler reflete sobre o literário, mas não exclui o não literário. Esses limites estão subordinados aos conceitos sócio-culturais vigentes em cada época, em cada sociedade que impõe juízos de valor para as obras, classificando-as desta forma como literárias ou não.
Conhecer estas fronteiras, entender como a literatura emprega a linguagem de forma peculiar, é abrir um leque de oportunidades aos professores para trabalhar com esta disciplina que, por muitas vezes, esteve fora da grade curricular de ensino por ter sido considerada “não importante” para o ensino fundamental e médio.
Conhecer as obras literárias é conhecer o mundo. Permitir ao aluno o acesso às diversas manifestações culturais que se “desdobram” da literatura, é instruí-lo não só sobre um determinado saber, mas sobre um saber de “si mesmo” e do mundo É instruí-lo de forma definitiva e libertária.
Italo Calvino, em Por que ler os clássicos, ensina: dizem-se clássicos aqueles livros que constituem uma riqueza para quem os tenha lido e amado. Despertar esta paixão pela literatura é tarefa árdua, mas não impossível! Um caminho precisa ser construído, ”métodos de sedução” precism ser criados para que o interesse possa ressurgir. Trocar hoje o “bombardeio” das imagens visuas (sempre empobrecedoras) por textos literários seria um bom começo. O hábito é a segunda natureza do homem. (ARISTÓTELES). Cumpre refletir sobre esta tarefa ( o hábito da leitura ) e torná-la parte de um compromisso que, se não trará resultados a curto prazo, com certeza semeará campos que se harmonizarão com uma colheita farta e promissora.
Jonathan Culler discute o literário e o não literário a partir das várias concepções que floresceram no mundo, desde o século XVI até os formalistas russos.
A partir do fragmento “a literatura inglesa do século XIX geralmente inclui Lamb (mas não Bentham), Macaulay (mas não Marx) e Mill (mas não Darwin ou Herbert Spencer) (CULLER). Pode-se inferir por esta definição, que os textos meramente científicos não possuiriam, por assim dizer, um caráter literário, mas o autor mostra no decorrer da escrita que estão longe os “padrões categóricos” que podem definir o que é ou não literário. Partindo destes pressupostos expostos por Culler, pensa-se num modo de tornar a leitura instigante e prazerosa para os alunos das séries iniciantes ou mesmo para os do 2º. ciclo do ensino médio. A grande questão que se coloca é: como proceder para que esse interesse seja despertado e os estudantes motivados?
Ao analisar superficialmente o livro Linguagem, Criação e Interação, de Cássia Garcia de Souza e Márcia Paganini Cavéquia, da Editora Saraiva. S.P. 2005, constata-se que as autoras apresentam uma obra dirigida à 7ª.Série do primeiro ciclo. Verifica-se que o ensino de Língua Portuguesa está atrelado ao ensino da Literatura. Nota-se que há pouco cuidado na seleção dos textos e, predominantemente, a linguagem mais usual são as charges bem curtas, algumas tiras, ou somente um quadro. O livro é essencialmente visual. Quando há uma seleção de textos, privilegiam-se os contos de terror ou mesmo fragmentos de contos dos grandes autores como Manuel Bandeira (Estrela da Vida Inteira). (trabalham exclusivamente “fragmentos”)
É visível o descuido na seleção dos textos, erros pontuais de impressão são encontrados ao longo da obra. Não querendo fazer deste estudo um trabalho crítico, mas apenas constatando os fatos, volta-se a Culler e à questão do que é literário ou não. Na verdade, a literatura é tida como o “texto por excelência”. Apresentar aos alunos “a escrira literária” seria uma boa maneira de expô-los à arte. Reduzir nos livros didáticos os textos, resumi-los de forma a descaracterizá-los ou “apagar-lhes” o sentido, é uma maneira de não levar o conhecimento aos estudantes ou, o que é pior, não levar o conhecimento adiante.
“O discurso literário torna estranha, aliena a fala comum”. (CULLER, CITANDO JACOBSON)
Ao livro didático cabe a tarefa de levar os grandes escritores aos alunos, provocar esse “estranhamento” que leva à curiosidade, que leva o leitor à pesquisa, que sustenta o sonho e a imaginação de forma a poder proporcionar ao leitor suporte para o diálogo com outras linguagens e interação/participação no mundo é função dele.
A discussão empreendida do que é ou não literário está descrita em Culler com características não definitivas, há uma ampla margem nestas possibilidades da literariedade das obras.
A seleção dos textos nos livros didáticos é confusa e desfragmentada. O ensino de literatura no Brasil tem sido feito pela perspectiva da historiografia literária, ou seja, em vez de o aluno aprender a ler os textos literários, passa os três anos do ensino médio aprendendo a situar os autores e obras na linha do tempo, a identificar a estética literária a que pertence etc. Em pesquisa realizada com alunos de escola municipal em Niteroi, verificou-se que a insatisfação com o ensino de literatura é geral. Normalmente, os estudantes apontam a “monotonia” das aulas ou a aula extremamente expositiva. Constata-se, por assim dizer, que há um “engessamento” no ensino desta disciplina. Abrir uma forma de diálogo e estabelecer relações para que não se estude somente a literatura brasileira nas aulas, mas sim todos os autores da literatura universal é mais do que conveniente para oferecer possibilidades de reflexões sobre o que o crítico soviético R.Jacobson nomeia de violência organizada contra a fala comum.
O texto de Culler reflete sobre o literário, mas não exclui o não literário. Esses limites estão subordinados aos conceitos sócio-culturais vigentes em cada época, em cada sociedade que impõe juízos de valor para as obras, classificando-as desta forma como literárias ou não.
Conhecer estas fronteiras, entender como a literatura emprega a linguagem de forma peculiar, é abrir um leque de oportunidades aos professores para trabalhar com esta disciplina que, por muitas vezes, esteve fora da grade curricular de ensino por ter sido considerada “não importante” para o ensino fundamental e médio.
Conhecer as obras literárias é conhecer o mundo. Permitir ao aluno o acesso às diversas manifestações culturais que se “desdobram” da literatura, é instruí-lo não só sobre um determinado saber, mas sobre um saber de “si mesmo” e do mundo É instruí-lo de forma definitiva e libertária.
Italo Calvino, em Por que ler os clássicos, ensina: dizem-se clássicos aqueles livros que constituem uma riqueza para quem os tenha lido e amado. Despertar esta paixão pela literatura é tarefa árdua, mas não impossível! Um caminho precisa ser construído, ”métodos de sedução” precism ser criados para que o interesse possa ressurgir. Trocar hoje o “bombardeio” das imagens visuas (sempre empobrecedoras) por textos literários seria um bom começo. O hábito é a segunda natureza do homem. (ARISTÓTELES). Cumpre refletir sobre esta tarefa ( o hábito da leitura ) e torná-la parte de um compromisso que, se não trará resultados a curto prazo, com certeza semeará campos que se harmonizarão com uma colheita farta e promissora.