SABOR DE COMUNISMO
Quando ouço um adolescente falando já espero ouvir um monte de bobagens, mas quando ouço uma pessoa madura falando espero alguma coisa um pouco mais elaborada. Invariavelmente fico decepcionado. Fico decepcionado quando alguém que não conhece alguma coisa ou pessoa resolve criticar sem nenhuma base.
O século XX deixou uma grande saudade. Era um tempo em que ainda havia pessoas que pensavam, pessoas interessadas em profundas mudanças na sociedade. E mesmo que suas experiências não tenham sido as melhores, não ficaram inertes nem venderam sua dignidade. Vivemos em tempos ainda mais sombrios do que a “Age of Extremes”. Tempos em que pensar é repetir lugares-comuns.
O pretenso articulista de jornal apenas repete idéias bastante desgastadas, discursos vazios que não trazem nada de novo. Nossa era dos extremos deixou a saudade de um tempo onde havia ideais e idéias. Um tempo no qual podia se chamar um amigo para conversar sobre assuntos relevantes. Ao contrário da saudosa época, hoje tratamos de nossos celulares, MP3s, notebooks e principalmente do “eu”. Vivemos a era do “eucentrismo” exacerbado. Um tempo em que o outro é apenas um meio para que possamos atingir nossos fins.
Sou contra qualquer tipo de massificação, mas o ideal comunista possui uma grande virtude; ele faz pensar. Meus olhos e meus óculos não dizem quem sou, um deles enxerga, o outro ajuda a enxergar. E quando vejo uma pessoa não a julgo pela aparência. Meus olhos e óculos não enxergam com uma tendência já formatada pela revista Veja ou pela Folha de São Paulo. Além do mundinho classe-média destes meios de comunicação existem pessoas muito mais interessantes para conhecer. Obviamente estas já estão mortas há muito tempo, aqueles que tinham alguma substância no que falavam deixaram pouquíssimos herdeiros.
Uma percepção grosseira e preconceituosa costuma generalizar todas as coisas, não vê as sutilezas dos fenômenos. E aí parte para ofensa pessoal. O Estado brasileiro, para aqueles que parecem viver em outro país, certamente possui infindas mazelas, mas uma análise menos generalizante e mais contextualizada percebe que também há avanços. Avanços significativos, principalmente para os pobres.
Aqueles que sempre foram privilegiados não conseguem se conformar com uma economia estável, controlada por um homem que não fez faculdade. Para infelicidade dos anticomunistas, a ditadura militar acabou. Mesmo que apenas formalmente, estamos num Estado Democrático de Direito. E isso já é um grande avanço para quem conhece um pouco de história do Brasil.
Falar sobre generalidades num discurso pobre e falacioso é muito fácil. Um discurso que se pretende crítico, mas é vazio. Aquele que possui algum patrimônio tem calafrios quando se diz alguma coisa com “sabor de comunismo”. O comunismo é uma ameaça a seus privilégios, pois ele se julga superior e merecedor do que “conquistou”. Daí o medo dos “cheira cola”, “trombadinhas” e “ladrões de celulares”.
O comunismo faz pensar, pensar no outro como um igual. O comunismo não pretende que a “mão invisível” solucione os problemas econômicos. Talvez o comunismo efetivo, como foi idealizado por Marx, nos deixaria despreocupados com a segurança. Já tinha tido um insight em relação a isso, mas agora eu confirmei. Percebi que a pobreza de espírito de nossos contemporâneos não está somente na juventude. Há homens formados que dizem coisas absurdas e nos envergonham por serem nossos compatriotas.