O "rendez-vous" da República.
A palavra "rendez-vous" está em desuso nos dias atuais. Talvez os mais jovens nem saibam do que se trata. Antigamente se falava muito mais em "rendevu" do que hoje. Basicamente o verbete tem um significado que se aproxima de “ponto de encontro” ou apenas “encontro”.
Na acepção mais popular, "rendez-vous" apontava para um lugar, casa ou apartamento destinado a encontros amorosos. A palavra tem quase o mesmo sentido que “motel”. A diferença está no furtivo que envolvia os "rendez-vous" do passado, opondo-se à liberalidade escrachada dos motéis de hoje.
O conforto deixava a desejar. Não eram suítes luxuosas, mas meros quartos, a maiorias com banheiro no corredor, já que eram casas ou apartamentos precariamente adaptados para os fins nefastos. Mas a finalidade era a mesma. Alguém ia lá para comer alguém.
Hoje o motel é indicado por um luminoso de néon; as casas de encontro eram furtivas. O casal, constrangido batia na porta e perguntava a uma porteira, em geral velha e mal-humorada, se tinha vaga. Não havia o discreto estacionamento privativo. A gente nem carro tinha. Lá não havia mulheres; cada um tinha que levar a sua.
Para lá eram levadas prostitutas, colegas de trabalho e de escola, namoradas, mulheres dos amigos, alunas, vizinhas, professoras, estranhas, mães de amigos, etc. Diferente de hoje, havia um código de mínima ética: era homem com mulher; sempre.
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No Brasil a cada semana pipoca uma crise, um escândalo, uma safadeza. Não se sabe mais quem diz a verdade e quem mente. São favorecimentos imorais, apropriações indébitas, propinas, compras de mansões, avanços nas merendas escolares, desvio de verbas públicas, serviços superfaturados, etc. Até o STF que parecia sério está, na pessoa de seu Presidente, sub judice da visão moral e da ética.
No antigo "rendez-vous", de comum acordo e furtivamente alguém penetrava em alguém. Na política de hoje os safados compulsoriamente e às escâncaras ferram o povo ingênuo e (c)ordeiro.
O nome deste artigo é o título de um livro que estou escrevendo sobre as desordens da vida política nacional, seja nos Três Poderes da República, como também nos Estados e nos Municípios. A idéia geral que perpassa a obra aponta para uma “zona” geral, onde a desfaçatez e a imoralidade converteram-se em um deboche contra os princípios morais dos cidadãos de bem. O motivo do título é que eu não achei melhor comparação com o atual momento da política brasileira do que com um "rendez-vous". Casas dos Três Poderes, Repartições, Estatais, Empreiteiras, está tudo convertido num imenso bordel.
O problema é que toda a vez que dou por terminado o livro, surgem novos escândalos federais, estaduais e municipais e me vejo tentado a reabri-lo para incluir mais uma safadeza de nossos políticos ou administradores de todas as áreas. É por isso que se fala na semelhança de homens públicos com fraldas: de tanto em tanto devem ser trocados. Pelos mesmos motivos.
No Paraguai, cansados da sacanagem dos leigos e militares, elegeram um bispo. Tomara que dê certo. A verdade geral é que quando os grandes perdem a vergonha, fica liberada aos pequenos a perda do respeito.
Filósofo e escritor