A IMAGEM E SEMELHANÇA DE DEUS OU DO HOMEM?
Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, ou o homem criou um deus à sua imagem e semelhança. Isso é fácil de se ver na Bíblia. Lendo-se o Antigo Testamento um religioso americano fez a contagem de todos as pessoas mortas por Deus ou a mando Dele e chegou a impressionante marca de dois milhões e trezentos e setenta mil mortos aproximadamente. Por sua vez, o Demônio, o ente mais escorraçado no planeta, depois dele somente Judas, pelo menos no mundo cristão, tem em seu currículo apenas a morte de dez pessoas.
No mundo das pessoas, ou seja, nesta história que fazemos, quando alguém mata outra é considerado assassino, a não ser que prove legítima defesa. Entretanto, se uma pessoa mata milhares ou manda matar, torna-se herói, desde que o lado dele seja vencedor. Se perdedor passará à história como um ditador, ou facínora, um ente que será vilipendiado mundo afora pelo resto dos tempos. Entretanto, se for o vencedor, esquecem as atrocidades, não importa quais foram.
Foi assim com Hitler, que somente a Igreja Católica não o considera um monstro, devido à sua relação promíscuo com Pio XII, que sempre o apoiou. Não estou aqui defendendo Hitler, apenas fazendo uma comparação. Veja, que Napoleão é um herói, mesmo tendo matado milhares e milhares de pessoas apenas para satisfazer sua ambição. Alexandre é chamado de o grande. Gengis Chan é cultuado, mesmo não tendo passado de um assassino frio e perverso.
Átila, que combateu os romanos, mas perdeu, é chamado de o flagelo de Deus. Ora, os romanos até hoje têm sua história estudada e é fonte de referência mundial. Ninguém fala das atrocidades cometidas por aquele povo, suas matanças indiscriminadas. Fala-se da época romana com muito charme. Da história romana. Se Átila não tivesse vacilado, teria vencido os romanos e hoje seria um herói. Roma estaria sendo mostrada ao mundo como um antro de monstruosidade e perdição. Das orgias de Calígula, que prostituiu a própria mãe, fez de seu cavalo senador romano às loucuras de Nero que incendiou a cidade. Mas assim caminha a história.
Os americanos, os russos, os ingleses não causaram menos atrocidades do que Hitler durante a Segunda Guerra Mundial. Wellington, o general que venceu Napoleão, era tanto criminoso com este.
Tudo isso mostra que somos a imagem e a semelhança de Deus, enquanto este matou quase três milhões de pessoas, nós o reconhecemos como a perfeição. Vemos todos os dias mortes e mais mortes na Terra por causa de violência. Não falo da violência física, mas de todos os tipos de violência, principalmente, a pior delas que é a econômica, que leva milhões e milhões de pessoas a morrerem de fome todos os dias. E muitos ainda agradecem a Deus por ter comida, quando vemos imagens tenebrosas de uma África faminta, somente para citar um exemplo.
Mas que Deus é esse que dá a uns e tira de outros? Se somos a imagem e semelhança da perfeição, a perfeição não é tão perfeita assim. Com todos os nossos defeitos e ambições, somos bem melhores do que deus, pois um pai, dificilmente, daria comida a um filho e negaria a outro, por pior que este filho fosse. Deus não. Nega a quase todos seus filhos, pois milhões e milhões de filhos Dele vivem na miséria, sobrevivendo de restos de comida quando há, ou dividindo com outros animais.
A imagem e semelhança é muito melhor, mesmo não valendo nada, pois como disse os pais daqui da Terra defendem seus filhos e não os deixa ao sabor da própria sorte.
Agora, o Demônio, coitado, matou dez pessoas, muito mais muito menos que um famoso pistoleiro aqui da minha terra, o Ceará, que somente numa emboscada para cumprir um contrato, matou quatro: uma era a encomenda, os outros três foram queima de arquivo, mesmo assim, o Demônio é o ser mais odiado na Terra. Acredito por praticar atos tão pífios, ou seja, por matar e mandar matar ninguém pouca gente.
Portanto, partindo dessa premissa, vê-se que seguimos os ensinamentos bíblicos. Damos ares de heróis a quem extermina seres humanos e tachamos de criminosos aqueles que matam uma única pessoa. Não que defenda qualquer um dos dois. Os heróis e os criminosos. Defendo a vida e desta forma, seriamos bem melhores representados se deus fosse o demônio e o demônio fosse nosso deus, que não é vingativo e muito menos vive escrevendo livros e mais livros nos ameaçando constantemente de seus castigos.
Henrique César Pinheiro
Fortaleza, setembro/2008