PÃO COM GELÉIA

1 quilo de morango, 1 quilo de açúcar, duas colheres de sopa de suco de limão. Esta é a receita mais comum de geléia de morango... 2 quilos de trigo, 2 colheres rasas de fermento biológico (fermento para pão), 5 colheres de açúcar, 1 colher rasa de sal, 1 ovo, leite. Esta é uma receita bem comum de pão caseiro. Agora é só tirar o leite da vaca, colher o os grãos de café, torrar e moer... Temos tudo então para um perfeito e saboroso lanche da tarde, ou café da manhã, não é mesmo? Não, não é mesmo, porque envoltos na comodidade que a modernidade proporciona são pouquíssimas as pessoas que usufruem destas especiarias preparadas pelas próprias mãos, geralmente só quem o faz são moradores do campo. E por que ao menos tentar fazer, se posso ir ao mercado ao lado de casa e comprar minha geléia favorita... Aquela ainda com as sementinhas do morango bem salientes, e o pão fresquinho, bem assado e quentinho da última fornada? A realidade nos engana e cai, porque temos de confiar uns nos outros... Dizem que o ser humano é o mais desprezível, e também, desconfiado dos seres, mas é na hora do consumo que ele tem de confiar cegamente nos outros, em quem ele nem mesmo conhece, em pessoas distantes do qual não se sabe nem a inicial do nome. Ficamos a mercê então de maus hábitos higiênicos, de pessoas que não se dedicam a seus afazeres, de trabalhadores que levam os problemas seus problemas para a empresa, da utilização de produtos altamente tóxicos, e por aí vai. Temos de confiar... Ou como relatei lá no topo: fazer com as próprias mãos. Porém não temos mais tempo, a vida nos permitiu ao longo dos anos descobrir nossos afazeres, e a cada novo dia, adquirimos atribuições diferentes. Lembre-se das coisas que fazia na infância. Era todas muito boas, e continuam sendo... Embora as crianças de hoje não as façam mais, aquelas coisas continuam sendo maravilhosas, o problema é que você cresceu, e se continuar a fazer aquelas coisas vai ser tachado como no mínimo louco. E nestas atribuições diárias, obrigatórias não encontram-se soltar pipa, jogar pião, brincar de ‘stop’, porque não têm o mesmo grau de importância que a reunião com a secretária, o envio do material até determinada hora, o e-mail para aquela pessoa. Não significa que não tem o mesmo grau de importância, trata-se apenas de uma espécie de importância diferente... Que vai lhe entreter, e nostalgiar, abrir involuntários e lacrimosos sorrisos. Então antes que seja tarde, reúna algumas pessoas e simplesmente ‘brinquem’, seja o que for, mas que não seja a sério, porque a vida precisa de momentos que não sejam levados tão a ´serio... O ser humano é uma máquina, e toda máquina quando age de alguma forma em exacerbo, acaba pifando, é preciso então folgas e válvulas de escape... Recordar e materializar a recordação é uma excelente válvula de escape... É ridículo. Nós precisamos conhecer melhor o significado das palavras, porque ridículo é viver sem fazer estas coisas. Todos nós queremos de vez em quando, ou sempre comer um delicioso pão com geléia. Mas talvez eu não goste da mesma geléia que você, nem do mesmo pão, por isso existem as diferenças, por isso existe a confiança nos outros. E o pão precisa ser feito, a geléia também... E não só do tipo que eu gosto, mas de todos os tipos, para que todos que gostam de pão com geléia possam apreciar. E para isso precisamos continuar fazendo o que fazemos, deixar de vez em quando a válvula de escape agir, e além disso, ainda lutar por pães e geléias cada vez melhores, para que mais pessoas tomem gosto pelo prato, e então as coisas se aperfeiçoem ainda mais... Porque eu não quero qualquer pão, tem de ser um pão de manteiga, macio, novo, com uma bonita embalagem, e a geléia da fruta mais pura, e do açúcar mais refinado. Mas para isso, eu tenho de contribuir a meu modo para que tudo saia bem, e para que todos que gostam possam comer também, e um único passo em falso, um ingrediente errado, de qualquer parte, altera o sabor e muda a receita, muda toda uma vida.

Douglas Tedesco
Enviado por Douglas Tedesco em 10/09/2008
Reeditado em 29/09/2010
Código do texto: T1170803
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