A INFELIZ CONIVÊNCIA DOS BATALHÕES DE ÁREA
A INFELIZ CONIVÊNCIA DOS BATALHÕES DE ÁREA
Ninguém é tão árdua defensora da Polícia Militar como eu. Assídua freqüentadora das comunidades do Orkut relacionadas à Corporação Bandeirante, sempre pronta para orientar, inclusive, os menos esclarecidos sobre o funcionamento, regimes de trabalho, faltas disciplinares, crimes, etc... Quando fundei a ONG “Massacre das Minorias” foi, justamente para tal mister, ou seja, auxiliar os policiais em seus mais diversos problemas, tendo conseguido alcançar meu objetivo na grande maioria dos casos, recebendo como agradecimento a amizade desses milicianos, tudo isso face ao orgulho de presidir uma Fundação onde nada recebo, financeiramente falando. O ônus é somente meu.
Assim, qualquer crítica, seja positiva ou negativa, também será de minha inteira e total responsabilidade.
Esse preâmbulo faz-se necessário, tendo em vista que abordarei os Batalhões e suas Companhias de Áreas, apenas e, como disse no início, infelizmente, a parte “podre” do “Sistema” quando o mesmo se torna corrompido e de fácil manipulação por pessoas inescrupulosas e má intencionadas, usando ou explorando a farda para angariar benefícios escusos e impróprios que tanto combatemos no nosso dia-a-dia na luta contra a má-conduta e, inclusive o crime do Policial Militar.
Não entrarei em explicações técnicas ou didáticas. Só quero dizer que há a necessidade desses Batalhões divididos em regiões (bairros, cidades) para atender a população em todos os locais do Estado de São Paulo com seu policiamento ostensivo fardado, visando à proteção da sociedade contra todo o tipo de criminalidade e seus agentes causadores.
Até aí tudo bem...mas...
Qual não foi a surpresa ao assistir, pessoalmente, a atuação negativa de um pequeno grupo de policiais coniventes com a desordem, as irregularidades e, quiçá, o ilícito penal !!!...
Precisamente, na madrugada de 6 de setembro desse ano, no bairro da Móoca, onde resido, deparei-me com uma cena animalesca, digna de filmes americanos, onde dois policiais militares à paisana, fazendo “bico” de segurança (não sou contra o trabalho extra-policial, desde que digno) em uma casa noturna, covardemente, passam a agredir um rapaz no meio da rua. E, não satisfeitos, colocam-no e continuam a agredi-lo dentro do carro, chutando a lataria do automóvel e, pasmem, atiram duas vezes com suas armas de fogo na direção do mesmo, levando aquele cidadão a dirigir contra-mão em plena Avenida, devido ao estado de pânico em que se encontrava.
Presenciei tal cena dantesca da minha janela do apartamento, juntamente com meu namorado à época e, imediatamente liguei para o 190, onde me identifiquei como juíza, relatando os fatos, solicitando providências imediatas, tendo em vista o total desequilíbrio daqueles homens armados na calçada continuando com arruaças.
Continuei na janela e, após 5 minutos avistei a viatura vindo em direção à Avenida, devagarinho, olhando na direção daquela Boite ou sei lá o quê e, MAIS uma supresa, a viatura, simplesmente pegou a direção contrária onde cheguei a perder a visão da mesma. E, para minha surpresa, percebi, nítida e claramente um dos policiais receber um telefonema e, em seguida, esse mesmo falou com os demais. Imediatamente, guardaram tudo, inclusive a arma num carro que estava ali estacionado e deixaram o local. O óbvio, quando a viatura chegou, ou seja, vinte e cinco minutos após, não havia mais nada e eu, é claro, ainda tive que ouvir do Tenente que me atendeu no COPOM que deveria ter sido um equívoco de minha parte (servi o Tribunal Militar por mais de 28 anos e me enganei. É mole?).
Continuando. Expliquei, minuciosamente, tudo o que havia presenciado àquele Oficial que, após o relato, também admitiu a “manobra” da Companhia ao avisar (chamaria isso de delatar) da ocorrência àqueles Policiais Militares à paisana, dando tempo para que os mesmos fugissem do local.
Eu e tampouco aquele gentil Tenente nada mais pudemos fazer, apenas lamentar que o Corporativismo existente nas Companhias ou Batalhões sirva para acobertar tamanho descalabro, servindo de um péssimo exemplo de atuação da Polícia Militar, perante toda uma parcela da sociedade que assistiu aquela cena e viu a impunidade vencer, mais uma vez, à custa de favores trocados entre policiais. Com certeza, no dia seguinte, devem ter rido muito à custa dessa cidadã e magistrada que fez papel de idiota.
Diante do acontecido, vou me atrever a dar minha singela sugestão.
O policial pertence ao quadro da Polícia Militar, onde a mesma abrange todo o Estado, dividindo e subdividindo-se em vários ramos de atividades, tais como Rota, Tático, Canil, Bombeiro (no caso do Estado de São Paulo), Choque, Diretorias Administrativas, Escolas e por aí vai...Porque não fazer um rodízio desses mesmos milicianos, deixando-os, no máximo dois anos em cada unidade, assim, não daria tempo para gerar vínculos quaisquer que sejam com aquele local em que estivessem lotados, tendo em vista que teria ciência que sua estada naquele lugar seria apenas temporária? Já pensaram que até a corrupção diminuiria, porque não mais haveria as tais “cobranças de segurança” e tantas coisas mais que sabemos que acontece quando o policial adquire estabilidade naquele quartel determinado (sem falar em lanches em padarias, paqueras, “vistas grossas” para um conhecido que pratica uma irregularidade). Os policiais militares sabem que não serão deslocados e, ainda por cima têm os companheiros de farda para os auxiliarem, caso se metam em confusão, como foi o caso citado acima.
Enfim, muitos outros fatos poderia aqui citar, mas prefiro me ater a esse para demonstrar que na prática o problema é um só, a certeza da impunidade porque todos se conhecem, fortalecendo a cada dia o vínculo de amizade e conivência entre os milicianos. Portanto, fica aqui registrada a minha singela opinião para resolver o problema que aflige toda uma sociedade, manchando a respeitosa Corporação Bandeirante.
Se o leitor oficial-militar não gostar da minha humilde proposta, delete o texto e continue fingindo que nada acontece nos seus quartéis.
A minha parte está feita!!!!
São Paulo, 7 de setembro de 2007
Roseane Pinheiro de Castro, Juíza Militar aposentada
Presidente da ONG - www.massacredasminorias.com