Cem dias de mim sem o meu eu!

Enfim tomei coragem de escrever esta história! Não à coragem de revelar fatos novos, mas a coragem atribuída à disposição física. A história é longa vou cortar detalhes, os mais importantes permanecerão e darão ao leitor a perfeita noção do por que no passado confiava em médicos de olhos fechados, hoje não! Principalmente dos que estão a serviço do SUS em hospitais escolas e públicos.

Há um pouco mais de uma semana, felizmente antes de morrer, que me conscientizei de quantos somos mercadoria sem valor nas mãos de alguns médicos. Existem os bons médicos, mas certos comportamentos que afloraram na mídia nacional, nos últimos dias, mostram que não estou sozinho nestas lamúrias!

Sou diabético tipo dois e sei disto há cerca de dez anos e de lá para cá, dentro das minhas possibilidades econômicas, tenho procurado manter uma dieta correta, comprar meias para estar com elas às vinte quatro horas por dia, sapatos para os portadores do diabético, etc. Tudo muito caro, pois ao que parece o que é oferecido para consumo dos diabéticos é no mercado o mais caro!

A doença não me fez desistir de viver, de lutar pela vida, ter o sorriso e o amor para criar os meus filhos dentro do padrão que me é possível, e tratar as pessoas com normalidade! Estou com 60 anos, e as minhas filhas, as que são ainda dependentes mim, são duas; uma de onze e outra de sete anos.

No dia 27 de setembro de 2005, sendo necessário, fui submetido a uma delicada cirurgia de coração, para a colocação de uma válvula metálica, pois estenosada a válvula natural, já comprometida em mais de 45% de sua eficiência, poderia inesperadamente me levar à morte. Preparado para morrer? Desde que me conheço com cristão estou!

A minha operação, como os próprios médicos reconheceram, foi absoluto sucesso graças ao meu comportamento como paciente extremamente paciente, que soube fazer a entrega do corpo a Deus e as abençoadas mãos do jovem cirurgião, de 26 anos, e que pela segunda vez manuseava o bisturi como líder de uma equipe médica. Não resta duvida que ali havia a presença do cirurgião professor!

Meu controle pessoal, do que me orgulho, fez com que a minha operação tivesse tempo recorde comparada as mesma intervenções em outros pacientes, nem a insulina colocada preventivamente à disposição foi utilizada! Com 20 horas de UTI fui dado em bom estado e assim liberar o leito retornar a enfermaria. Daí à frente foram os procedimentos do pós-operatório, fotografias com médicos, enfermeiros, atendentes, e não posso esquecer da minha linda negra, servente, que um ano mais nova a passei considerar uma grande irmã, tão atenciosa que me foi Alô Tereza, um anjo nos corredores!

Todos foram importantes para mim naquela hora! Rendeu-me uma crônica que escrevi especialmente sobre este assunto, publicada na página especial sobre o hospital, no meu pequenino jornal Vanguarda, em alguns outros jornais e até no jornal interno do hospital, sob título: “O paciente deve ser paciente!”. Tudo isto, como não deveria ser diferente, fiz gratificado e agradecido pela atenção (ao tipo SUS), mas que julguei seria o padrão de tos os médicos.

Esta década convivendo com este diabete também foi premiada com uma hérnia de umbigo que, felizmente, apenas no lado estético me incomoda, pois ela não está “laçada” não havendo o perigo de causar alguma surpresa. Mas estimulado pelos cirurgiões que me operaram do coração fui buscar, há quase dois anos peregrinando entre a minha casa e hospital, que se distanciam “apenas” em 860 quilômetros. Não digitei errado, são oitocentos e sessenta quilômetros!

O Hospital Universitário Professor Edgar Santos - HUPES, não foi criado apenas para atender a Saúde Púbica de Salvador, é um hospital ao mínimo estadual, e não são poucos os que se arrastam longas distâncias na tentativa, mais do que justa, de alcançar um atendimento não conseguido, pelo menos dentro do que sugere o Departamento de Recursos Humanos da instituição, criado em 1994, com o pomposo nome de Núcleo de Desenvolvimento de Recursos Humanos e Respeito Humano, que em 1999, fundiu-se com o Escritório de Qualidade e passou a chamar Núcleo de Desenvolvimento de Recursos Humanos e Qualidade Hospitalar.

Agora, em uma das “consultas” marcadas para a revisão, que se limitam à visão do estudante, pois nenhum exame mais rigoroso é feito, a exemplo de um ecocardiograma, teste respiratório, variação de pressão, e outras investigações médicas mais apuradas, como razão das manchas e pintas que aparecem no corpo, o que indica má circulação! As “revisões” se limitam à entrevista com um dos alunos e o concordar do professor, que na maioria das vezes nem uma palavra de sensibilização ou otimismo dirigem ao paciente!

Parece tudo mecânico, parecem robôs! Por que não imitam as companhias telefônicas? “Se sua dor é nas costas, escolha a opção dois, se seu coco está de boa aparência aperte a tecla seis, se estiver fedorento aperte a tecla asterisco” Pelo menos me economizaria a passagem dos ônibus, hotel e outras despesas. Resolveria tudo com uma “revisada” a longa distância!

E o que mais me ruboriza neste atendimento a lá qualquer, é que as prestimosas assistentes sociais de tal hospital, certamente ganhando bons salários, estão em um departamento que não serve para nada. Ali não marcam uma consulta para paciente do interior, e nem da capital, não exigem do SUS o que elas dizem ser obrigação, a exemplo transporte para o Tratamento Fora de Domicílio - TFD, diárias do paciente, com ajuda para hotel, restaurante e transporte urbano. Elas dizem, mas sabem que o Sistema Único de Saúde para pacientes de tratamento do coração, cortou contrariando a legislação estes transportes!

Se o SUS está negando o transporte, quanto mais às demais despesas? O fio da meada, no entanto, que causou minha indignação, começa há cerca de cem dias, quando fui “marcar” a operação da minha hérnia, que exigem seja no mesmo hospital, uma vez que necessito do acompanhamento de um cardiologista, devido à transição do medicamento Mareavam de via oral, para um subcutâneo durante o um período durante o pire e o pós-operatório. Surpresa! Tive que marcar uma consulta, para este dia 15 de setembro, quatro meses depois, para o departamento de cardiologia dizer que dia poderá marcar para acompanhar a operação, que tomara não seja marcada para o ano que vem!

Os exames de laboratório, uns vinte, alguns não cobertos pelo SUS, já na valem mais, estão velhos!

E para terminar, e para que fizesse isto, me queixei de formigamento nas pontas dos dedos das mãos e dos pés no final do ano de 2007, Logrei marcar para o mesmo dia em que teria consulta com a turma de cirurgia, uma consulta com a equipe de angiologia. No dia certo, horas depois de ter enfrentado em pé uma ante-sala repleta, uma voz apressada grita: “Seu Pedro”, era eu. Um médico com ares de poucos amigos, e que parece ter aberto e lido somente a primeira página de meu prontuário.

Mandou que eu tirasse os sapatos, me falou tudo que um diabético de uma década sabe. Calcei o sapato, enquanto ele preenchia o receituário: “Cloridrato de Amitriptilina 25 gramas”, noventa comprimidos, um por dia. “E depois?” perguntei, e ai veio à recomendação. “Ai é sua endocrinologista que decide”. Contudo, como com médico dizem que leigo não discute, sai do Ambulatório Magalhães Neto, onde o paciente tem um dos desatenciosos dos atendimentos por funcionários, e na primeira farmácia outra surpresa.

Alguém acredita que um médico que receita um medicamento tarja amarela desconheça que a receita ficará retida na farmácia? E que as embalagens de todas as marcas, genérico ou não, têm 20 comprimidos? Que neste caso o paciente só poderá comprar quatro caixas? Bem, esta foi à primeira confusão e lá fui eu procurar um médico amigo para pedir uma receita para compra de uma caixa, da qual sobraram dez. Mas médico é médico!

Depois da consulta nem sei quem é o “diabo” do médico, pois a receita ficou na farmácia, e ele na me forneceu uma segunda via. O tal remédio controlado é, principalmente, utilizado no tratamento de depressão. Não sou depressivo, sou diabético, ainda o direi!

Resultado: Na segunda-feira dia 25 de agosto, quando eu preparo para enviar em PDF pela Internet, para gráfica, o meu jornal Vanguarda que neste estágio faltava apenas à impressão, que é feita na rotativa do jornal À Tarde, fui surpreendido com um potente “vírus” que me embaralhou todo, travou programas, foi uma bagunça! E o que a medicina tem a ver com isto? Meu diabete emocional se elevou assustadoramente.

De segunda a quinta trabalhei sob tensão para recuperar arquivos. É bom que se diga que jornais pequenos, do interior, a exemplo do meu, sobrevivem de “euquipe”. O dono é o faz tudo, caso contrário fecha as portas! Quinta-feira, confuso, minha esposa já me havia dado o comprimido tarja amarela antes de dormir, tomei e fui ao banheiro, na volta esquecido tomei outro comprimido. Dormi de quinta para sexta, como nunca um diabético dorme. Sem interrupção!

Na sexta-feira dia 29 de agosto não acordei cedo, como rotina. A minha mulher, meu anjo da guarda, saiu aos afazeres de rua retornando por volta de onze horas. Encontrou-me sentado no meio da sala, com xixi dos pés a cabeça, literalmente me arrastou para um banho eu tremendo como se estivesse com a doença da vaca louca. Ligou por interurbano ao HUPES, inutilmente, procurando algum médico que a orientasse o que fazer. Lá. Dizem as assessoras de Dr. Hugo, o diretor, não atendem pacientes do interior por telefone. E nem as consultas fazem marcação; penso que deveria fazê-lo? Talvez, até por Internet!

Como efeito colateral no sábado, dia 30 de agosto, me apareceu um enfisema subcutâneo no membro inferior direito, que só hoje uma semana após deu sinais de melhora. Fico a pensar, por que tal médico, de cara de poucos amigos, me receitou o tal medicamento? No período em que usei o “tarja amarela”, continuei com os formigamentos. A diferença é que os alimentos pareciam buchas, desciam na marra! Andei de mau humor e com preguiça de escrever, o que é a minha profissão! Deixei de dar atenção aos sites com quais tenho compromissos de enviar crônicas semanais. Enfim, virei um traste, por que razão?

Espero que neste dia 15 de setembro, quando eu lá em Salvador eu estiver, me atendam com dignidade e que as assistentes sociais na me venham com a história que o SUS paga todas as despesas! É querer menosprezar minha capacidade de pensar! Foram cem dias de mim sem o meu eu... Felizmente voltei!