Quando só as máquinas evoluem...
A indústria pequena crescia em velocidade vertiginosa. Os maquinários antigos, lentos e sem qualquer tecnologia cederam todos de uma só vez espaço à máquinas super potentes, velozes e informatizadas. O esforço físico já não era necessário, agora apenas o intelecto valia. Para operar as novas máquinas dominar o idioma inglês era requisito básico. Uma beleza! Máquinas potentes, bonitas, velozes.... a produção aumentaria em cerca de 30%, tornando a lucratividade ainda maior, iriam exportar, e, quem sabe, em alguns anos liderar o mercado em seu segmento.
Os donos da indústria sorriam de orelha a orelha, mas, após a instalação das novas máquinas foi constatado que nenhum funcionário estava capacitado para operá-las. Há anos a empresa não investia em seu capital humano, que estava totalmente defasado. Não se preocuparam em qualificar seus profissionais por isso sofreriam as conseqüências dessa negligência. Acompanhando o patamar de pouca valorização humana vigente na empresa os profissionais também não se reciclaram, ficaram acomodados; profissionais e empresa. Resultado: máquinas paradas por um bom tempo até que todos tivessem condições técnicas de operá-las. Difícil mensurar os prejuízos advindos desse descuido, mas podemos afirmar que foram de grande monta atrasando bastante o desenvolvimento da indústria que sonhava dominar o mercado.
O abismo tecnológico que se monta é uma realidade não apenas das empresas, mas de toda a sociedade brasileira. Existe uma grande carência de investimento no capital humano. São dois pontos que geram essa discrepância entre a evolução tecnológica e a pouca capacitação humana:
1º A pouquíssima importância que as empresas, principalmente as de pequeno e médio porte, dão à qualificação de seus profissionais.
2º A acomodação que costumeiramente domina as pessoas, mostrando o enganoso caminho de que tudo está bem porque estão empregadas.
Na Era do conhecimento, a tecnologia atingiu patamares altíssimos, no entanto, as pessoas não acompanharam esse processo de evolução. Por isso em muitos segmentos faltam candidatos para as vagas de trabalho; há vagas, mas não pessoas qualificadas para ocupá-las. Este é um dos grandes problemas enfrentados pelo Brasil, que vem gradativamente caindo pelas tabelas quando o assunto é concernente à criatividade e, por conseqüência, qualificação do capital humano. No ranking de idéias e de pedidos de patentes o Brasil ocupa uma posição inferior a outros países em desenvolvimento, como China, Índia e Coréia do Sul. Só para citar um exemplo, enquanto a China no ano de 2003 teve 424 pedidos de patente o Brasil teve míseros 180, a situação torna-se ainda pior se formos analisar a atualidade, em 2007 a China teve 1.235 pedidos de patentes, enquanto o Brasil regrediu dos 180 pedidos de 2003 para 118 no ano de 2007.
Nosso Brasil padece pela falta de criatividade e conhecimento, muitos países estão deixando de ter uma cultura industrial para tornarem-se economias do conhecimento, e nós, brasileiros ainda estamos longe disto. Cabe, pois, a pergunta: Por quê? Será que falta capacidade aos brasileiros? Não, a resposta é bem outra, o que falta é mesmo o investimento no desenvolvimento humano, acreditar nas pessoas e dar-lhes oportunidades, qualificá-las e estimulá-las ao progresso e enriquecimento de sua intelectualidade. Mas infelizmente vivemos num mundo de superficialidades, condicionando nosso povo a acreditar que somos meros sorridentes que não reclamam de nada e aceitam todas as imposições. Tá tudo muito bom, tudo muito bem... Uma pena! Afinal, temos um país lindo, tropical, abençoado por Deus. Temos a mulher melancia e moranguinho, temos o carnaval, o Big Brother e as CPI’s. O que mais podemos querer? Somos olhados com desconfiança pelo resto do mundo, tanta sensualidade exalada pela mulher brasileira transforma-nos em produtores de fêmeas e não de seres humanos capazes de se destacar pelos seus dotes de virtude e inteligência. Falta-nos, pois, coragem para investir em nós mesmos, falta-nos ousadia para mostrar que temos capacidade de tornarmo-nos uma sociedade do conhecimento que não fica à margem da evolução tecnológica. Falta-nos, pois, acreditar no poder da educação, da leitura e levantar a bandeira de que somos um país capaz de acompanhar o resto do mundo na marcha da ascensão e do progresso.
Pensemos nisso.