O advogado quântico
(Em busca de um novo cidadão para esses nossos novos tempos)
Pra que serve essa rede de bons fluidos de comunicações entre irmãos? São duas, penso eu, as funções precípuas de um veículo como esse, tanto mais quando se há, como in casu, um direcionamento para novos cidadãos em formação, que aspiram a uma vida em união, sob o signo da luz.
De início, saliente-se a função refletora, que tal como um espelho, devolve à comunidade a imagem que, sem se desgarrar do seu conteúdo, informa a quantas anda sua irmandade: quem são e como estão os nossos conterrâneos e contemporâneos. Os D’Broda, nossuzirmão. Mas além de refletir, há o aspecto catalizador. O canal constituído por uma tal rede tem também o caráter e mais do que isso, o dever, de instrumentalizar ou de viabilizar a formação substancial dessas novas pessoas empenhados em sua formação ética, moral e até mesmo, porque não? (ou sobretudo?) espiritual. Formar e informar e ainda, en-formar, ou seja, adequar a pessoa a um padrão requerido para o exercício da missão a que se propõe, e contudo, des-en-formar, isto é, dentro do padrão necessário, preservar a individualidade de cada um, não podando e mesmo cultivando, aquilo que é essencial.
Mal comparando, a conduta de algumas pessoas nesse nosso planeta, traz à memória os pardais, ratos, baratas e porcos, que vão levando a sua vida não importa qual seja o estágio evolutivo da comunidade que freqüentam, extraindo do lixo social e das sobras, o seu alimento, crescendo e engordando às custas da sujeira e do desleixo, do desrespeito mesmo, em que vivem os povos – vivemos nós.
Já se sabe impressionante a capacidade de adaptação, sobrevivência e proliferação dos seres humanos, em uma sociedade pasma com o estarrecedor número de novos acontecimentos negativos e decrescentes, verificados no dia a dia de uma cidade do porte da nossa capital, quase que inversamente proporcional à qualidade do produto final de um sem número de vidas, tenha ou não o aval do poder competente (?). Aos Bons Fluídos cumpre diferenciar.
Sabe-se que a humanidade passa por uma fase de transição, na qual os velhos valores já não valem mais, os velhos ídolos já estão mortos e sepultados. Os novos princípios não estão claramente delineados e as novas referências humanas ainda não surgiram no horizonte do cotidiano. Teima-se em largar o que já não mais nos serve e resiste-se a assimilar o que nos é estranhamente novo. E assim vai-se vivendo aos trompaços. Sem saber para onde se vai, qualquer caminho serve. Sem saber como se vai, qualquer maneira é válida.
De todo esse emaranhado, de todo esse caos, como fazer surgir a nova ordem, o novo ordenamento ético, jurídico, social, vivencial em suma? O que importa realmente?
A física quântica nos trás descobertas que, lenta e gradativamente, vão sendo assimiladas pelas demais áreas de conhecimento, subvertendo velhas formas de pensar a ciência e, por via de extensão, a vida. Assim, é interessante ver, por exemplo, que um átomo pode fazer duas coisas ao mesmo tempo. Não se dividir, não fazer as duas coisas em culhonésimos de segundo. Mas as duas simultaneamente. Por exemplo, se existem dois buracos em um muro, um na extremidade A e outro na extremidade B, o átomo pode passar pelos dois buracos ao mesmo tempo. E o quico? Importa daí que, uma pessoa próxima do ponto A terá a impressão de que o átomo passou primeiro pelo ponto A e imediatamente a seguir pelo B. Já para quem estiver próximo do B, que estará vendo o mesmo acontecimento, a impressão será oposta, tendo aparentemente o átomo passado pelo ponto B e a seguir, pelo A. Ou seja, os dois estarão vendo o mesmo acontecimento, tirando suas conclusões, acertadamente, com base nas percepções que estarão tendo, mas em uma eventual discussão estarão em lados opostos, ferrenhos adversários. Igualmente certos e igualmente equivocados.
Mas, insiste-se, e o quico? De uma referencia que não mais nos serve, a uma outra que ainda não se desvelou, surge o paradoxo: a que seguir ? o que me guia? qual é a de tudo?. Ylia Prigogine escreveu “O fim da certeza”. O físico Heisenberg formulou o princípio da incerteza já assimilado pelo até mesmo pelo direito penal, bem traduzido nas aulas/palestras do Juiz do Alçada de Minas Gerais, Alexandre Carvalho.
Daí que é preciso subir o grau, o grau de compreensão, o grau de conhecimento, tanto da matéria em si, quanto da vida como um todo. Do paradoxo a um novo paradigma.
Ver que um ponto de vista é apenas a vista a partir de um ponto. Mas que existem outros. Ao subir o grau, passa-se a ver de uma forma mais global, mais inteira, surgindo daí a devida consideração pela via do outro.
É um novo mandamento, um novo comando, “evitar a velha forma de raciocinar, cartesiana, linear e excludente” e pensar, agora sem as viseiras burrificantes da especialização pura e simples. Ser inclusivo, global. Afinal, não é à toa que se define o especialista como aquele que sabe quase tudo a respeito de quase nada. Há que se aprofundar o estudo na matéria, mas sem deixar de estudar outras disciplinas, outras ciências, outros povos, outras formas de pensar, de sentir e de ver.
Importa anular o poder do ‘mau olhado’, não apenas aquele que vem de fora, do invejoso, mas o nosso próprio mau modo de olhar o mundo. O nosso mau olhado para o mundo em que vivemos constrói, muitas vezes, a realidade que nos circunda. Preciso é re-ver. Olhar ‘bem’ o mundo. Olhar e ver as coisas boas das pessoas boas e más, pois que somos ambos. E ver bem, isto é, de um jeito bom, positivo, crescente, orientador, se pudermos, para as coisas más das pessoas más e boas, que somos nós. Somos nós e nos desfazendo dos nós, não de nós, seremos cada vez mais nós.
Importa também que, ao acessar a porta, que aberta nos transporta para um nível de maior intensidade de vida, saibamos trazer mais luz-paz-amor ao nosso dia-a-dia, noite-a-noite, em harmônica com-vivência com nossa família, nossos vizinhos, amigos, colegas de trabalho, o mundo. Clarificar o network. Enfim, o início de uma vida boa a cada instante, pois que “o novo amanhece”.
A palavra, instrumento importante e, às vezes letal, é, no mais das vezes, redutora, linear e excludente, por excelência. E, não poucas vezes, um instrumento perfuro-cortante, se não da matéria, certamente do psíquico, do emocional. Deve ser usada com sabedoria, de uma forma inclusiva, portadora de luz, de esclarecimento, e não de trevas, feitora de união e não semeadora de discórdias. Solucionando conflitos e desavenças sem, no entanto, desagregar irreconciliavelmente as pessoas. Legítima pá-lavrando o campo do ser.
Já Gandhi, o Mahatma, quando encarnado, ensinava “seja você a diferença que você quer ver no mundo”. Em Redescobrir, cantava Elis que “tudo principia na própria pessoa”. Ou seja, os sinais estão no ar e nós nos orientamos de acordo com o que queremos. Com o que queremos ver no mundo, ter em nossas vidas, ser para nossos filhos. Vivemos como que imersos em uma bolha das nossas percepções, mas podemos – e devemos - pela mudança de atitude interna, ser os artífices de um novo arcabouço conceitual sócio-econômico-cultural-jurídico. Mais inclusivo, mais leve, mais justo, mais dignificante, mais luminoso. Conforme en-canta o Beto, “A lição sabemos de cor, só nos resta aprender”.
(Pedro Antônio)