O BRASILEIRO É UM POVO APÁTICO

Lorena S.Ousar

O brasileiro é um povo apático, sem reação. Os povos de outras nações são motivados pela religião, pátria, revolução ou violência. Não importa. No que incomoda, agride ou interessa existe uma reação.

No Brasil, desde o início do ano, os jornais notificam casos marcantes de violência contra crianças e jovens. Isabella Nardoni, 6 anos, foi estrangulada e jogada do sexto andar. Daniel Duque, 18 anos, foi baleado por um segurança de uma promotora ao sair de uma boate. Marcos, Wellington e David foram mortos após terem sido entregues pelo Exército à traficantes rivais da favela que moravam. João Roberto, 3 anos, levou um tiro na cabeça quando policiais metralharam o carro que ele e sua mãe estavam (o veículo foi confundido com de ladrões). E o brasileiro lá… Sossegado… Paradão… em frente à televisão pensando como seria bom ter a mulher-melancia na cama e o seu time na 1° divisão.

Aliás, como reagir a um governo que primeiro hipnotizou e depois anestesiou uma população. Para os pobres, o governo dá um beneficio mensal para todo mundo ficar quietinho. A elite, de cortesia, embolsou a floresta Amazônica, cartões corporativos, mensalinhos e mensalões. E a classe média cada vez mais mediana (=medíocre) ganhou carros financiados até a 10° geração.

Voltemos à violência. A morte da menina jogada do sexto andar revela que casos de violência à criança não são mais fatos isolados e revela um lado sombrio na nova constituição familiar. O secretário de segurança do Rio de janeiro, João Roberto Marinho Soares, disse que faltou “critério na hora de agir” por parte dos policiais no caso do menino de 3 anos. Imagine uma mãe que teve o carro metralhado com seu filho dentro ouvir que faltou “critério”. Realmente, como neste país não se sabe mais quem são os bandidos ou não, confundir uma criança e sua mãe com ladrões é justificável. Daniel Duque, morto por um segurança não foi apenas um caso de desvio de um policial despreparado e displicente. E ao jogar três rapazes no lixo, os traficantes do morro da Marineira estavam fazendo nada mais do que pôr esses jovens aonde a sociedade brasileira quer: no lixo. Vinícius Ghidetti, quem levou os jovens aos traficantes, desrespeitando ordens de superiores de saltá-los, disse em seu julgamento que queria apenas dar-lhes um “susto”. Sim, é óbvio, porque tomar um “susto” faz parte da vida cotidiana dessa população abafada na agressão física e moral.

Porém, uma notícia boa: o ministro da Defesa, Nelson Jobim, anunciou que as famílias dos jovens podem receber um salário mínimo (R$ 415) de indenização. A vida de Isabella não valeu nada para seu pai e madrasta, mas valeu muito para mídia que cobriu o caso e angariou alguns pontos no Ibope. A vida de João Roberto e Daniel Duque somente valerão algumas demissões, trocas de cargos e omissões.

E para os brasileiros… sossegados… paradões… essas vidas só valem alguma coisa se tiverem a mulher-melancia na cama e o seu time na 1° divisão.

Lorena Sousar
Enviado por Lorena Sousar em 01/09/2008
Reeditado em 01/09/2008
Código do texto: T1156573