Falácias sobre educação
É delicado tratar de um assunto como educação em um país cuja economia está estagnada e o número de diplomados perpassa quaisquer índices de emprego. A miríade de canudos em busca de uma colocação profissional revela que esse já não é o único caminho para a independência econômica. Até aí, tudo bem, só que acredito que o cerne da questão vai aquém do fato de haver discrepâncias entre índices de emprego e desempregados graduados. Será que a verdade é que nossos jovens saídos da academia não encontram emprego por “falta de competência”?
A falácia de que estudo garante futuro não cola mais. No entanto, abro espaço para uma discussão tão polêmica quanto essa, e que toca mais fundo quanto à educação, referindo-se à competência profissional. Como professora do estado, trabalhando com alunos de ensino médio, observo que o diferencial na hora de uma colocação profissional, com ou sem diploma universitário, está na capacidade e na boa vontade do futuro candidato ao emprego. Ganha uma vaga aquele que consegue ser cosmopolita dentro de seu emprego, de sua empresa.
Nesse contexto, alguém pode questionar que competência é algo que se adquire com o tempo, com a experiência. Outra falácia. Competência é algo que se aprende desde criança, não só através da escola, mas também através da família. Como? Através do exemplo e do incentivo às crianças a estudar, a aprender. Estudo não é sinônimo de emprego, pode ser, mas transformar isso em norma, fazendo com que nossos jovens percam o sonho de um diploma e uma carreira profissional é chafurdar a esperança de milhares de crianças humildes que querem ser alguém na vida. Como professora, necessito incutir essa idéia em minhas aulas, mostrando a importância do estudo, não com o intuito hipócrita de somente defender minha profissão, mas com a missão de, também, mostrar-lhes a importância do saber com competência. Do saber fazer e fazer por saber, se me perdoe o trocadilho.
Por essa razão, urge, sim, uma reforma no ensino, mas não em bases curriculares, mas em bases formativas. Dizer a um jovem que deseja fazer Direito, por exemplo, que não vai conseguir emprego depois de formado porque o mercado já está saturado de advogados é um crime inafiançável, capaz até sugerir a esse jovem o crime organizado (quer jeito melhor de se ganhar dinheiro fácil?). Ao contrário, devemos incentivá-lo a estudar bastante para ser um bom profissional, independente da profissão que escolher, pois não será o seu diploma que o fará vencer, mas a sua vontade, o seu desejo, a sua capacidade em querer fazer as coisas bem feitas. Aí está o segredo: fazer bem feito. O segredo é reativar o gosto, a tão esquecida vocação. Quando se faz o que gosta, se faz bem feito. E como se vê gente fazendo o que não gosta por aí. Não seriam esses os que mais aumentam a fila do desemprego, ou, ao contrário, tiram a vaga do jovem formado, ávido por mostrar que sabe?
Falácias na educação existem inúmeras, contudo, a meu ver, isso só se reverterá quando toda a sociedade, isto é, nós, começarmos a mostrar outra visão de mundo às nossas crianças, cujo objetivo seja amar aquilo em que se trabalha e trabalhar naquilo que se ama. Se isso acontecer, as gerações futuras voltarão a realizar cerimônias de colação de grau otimistas e com garantia de um futuro promissor.