FUTEBOL: ODIAR NÃO É O TERMO

Creio que desistimos daquilo em que nos sentimos desenquadrados...

Quando garoto era requisitado para as peladas apenas porque possuía a bola... ainda assim deixavam-me no banco de reserva, diziam que era para não desperdiçar o talento...

Tinha, e tenho, verdadeira dificuldades de memorizar nomes de jogadores e suas respectivas posições em campo, calvário que sofri por ter que acompanhar o meu filho aos estádios ( ele fazia questão de sentar-se na geral, por ser mais vibrante), tomei chuva e sol, ouvi todos os tipos de xingamentos e ainda me mandaram da parte de cima um copo plástico cheio... de urina !!!

Razões para mudar de canal, portanto, não me faltam.

Por ser radical nesses assuntos sofri a solidão por não partilhar entre os colegas de escola de discussões sobre o tema, achava, pernosticamente, o assunto alienante...

Havia o refúgio nos livros e na sensação de que a sociedade brasileira de então se entorpecia exclusivamente com o futebol, pouco, ou nada ligando para coisas importantes como as liberdades democráticas ultrajadas pelos militares ou pelo preço do feijão que comíamos...

Embora continue distante dos jogos, vez ou outra, pela tv, admiro alguns lances e me repreendo por não fazer dessa torcida que, afinal, vibra por um time, rindo ou sofrendo, faz parte da magia da alegria popular, que pena não conseguir participar...

Casmurros não participam, ficam à deriva, na crítica recalcada de quem se excluiu....

TARDES FUTEBOLÍSTICAS

tormentosas tardes de jogos

inundos banheiros imundos

gritarias e brados histéricos

importunado e espremido

espetáculo não apreciava

na massa arquibancadas

(eu queria o conforto das numeradas

mas ele insistia na emoção da galera )

fazia sol logo uma nuvem chovia

roupa molhada no corpo frio calor

levaram-me carteira e documentos

de cima um copo descartável

urina espalhada nas costas

pirraça anônima e covarde

o menino se entretinha em cada lance bradava

eu o acompanhava naquelas toscas aventuras

ônus talvez pela desejada paternidade varão

marionete levantava a cada comemoração

era parcial omitia elogios aos adversários

ali estava eu perdido na multidão

enaltecido abraçado com estranhos

gritando a plenos pulmões afônico

embalo na turma ele sorria sofria

e que alívio eu sentia com o apito final

redenção de sofrimentos fim expiação

se vitória risos ou muda solidariedade

todos saíam ao mesmo tempo

empurrões atropelos confusão

chamuscado lanche na chapa

ele rouco feliz ou triste

eu aliviado

até a próxima jogada ...