A Estrada Real de Mário Lúcio Quintão

Você já leu as poesias de Mário Lúcio? Não! Carece ler.

Nascido no município de Ibiraci, o Professor e Advogado Mário Lúcio Quintão Soares, respeitado autor de livros jurídicos, oferece ao leitor “Viagem através de Minas” (136 páginas), publicado pelas editoras Libertas e O Lutador. Ideário temático-cotidiano em que o jurista-poeta participa das Minas Gerais e das cidades onde viveu, contando os sofrimentos, as inquietudes e, ainda, o jeito mineiro de ser.

“Retratos e auto-retratos de Minas’ é o título da parte inicial, a revelar a paisagem, traduzida através da essência do mineiro: “Meus versos,/ lacônicos,/ insculpidos/ em frias lajes mineiras,/ tratam de breves narrativas,/ Cada sobrado/ conta sua história./ cada rua,/ seu instigante mistério./ E cada ladeira esconde/ pedras escorregadias,/ mas silenciosas”.

“Montes Claros, terra morena”. Nesse segmento, o poeta evidencia fatos e fotos de cidades gravadas em lápides mineiras: “Ah, que cheiro bom!/ De pequi, macaxeira, mercado central,/ carne-de-sol e manteiga de garrafa”.

Acrescente-se que Mário Lúcio permite ao leitor entrar na intimidade dos lares mineiros, especialmente o dele, ao dizer: “Lá no meu canto,/ ao sussurro de cachoeira,/ sob a proteção/ de pequenas palmeiras oscilantes/ do céu de janeiro,/ entrego-me,/ silenciosamente,/ ao ócio,/ um dos meus direitos./ Lá, no vale do Ipê Amarelo,/ aos gorjeios de pássaros soltos...”.

A crítica social abarca vários títulos da obra. Em “Profetas de Congonhas”, para ilustrar, denuncia o autor o descaso com as imagens insculpidas por Aleijadinho. O golpe de 1964 também é lembrado, com certa ironia, nos seguintes versos: “Após o 1º de abril de 64,/ presenciei/ a invasão do hotel/ e a prisão do Zazá/ por soldados do exército,/ que não gostavam de jabuticabas,/ munidos de metralhadoras/ e lista do grupo dos onze”.

Por outro lado, evidencia a beleza das cidades que compõem a Estrada Real em “Maria Fumaça”, nos versos “A Maria Fumaça/ abandona Tiradentes,/ e, toda cheia de graxa,/ vai bufando/ e rebolando,/ ao encontro/ dos labirintos/ da sorumbática São João”.

Há exemplo de gratidão, sentimento pessoal e de respeito à família, em “Entre o sol e a lua”, homenageia Alice e Cecília, “carinhosas, essas meninas são minhas filhas”.

Entre os versos, eis que surge evidentes sinais do homem de fé: “Aos meus cinco anos,/ fascinado pela batina/ de meu tio/ padre Vidigal,/ dizia/ para todo mundo:/ Quero ser padre,/ e casar-me com a Matha Rocha!”.

A política, tema constantemente discutido entre os mineiros, regado a café torrado e biscoito de goma, sempre ao lado do fogão a lenha, não poderia faltar nos poemas de Mário Lúcio. A influência das famílias tradicionais é contada em detalhes, sobretudo quando se tratava de escolher os nomes das cidades onde aquelas comandavam. A história de Calambau é explicada pelo poeta: “Chamá-la/ de Presidente Bernardes,/ seu nome oficial,/ tornou-se afronta/ de deputado de Piranga/ às tradicionais famílias locais./ Cercada por casarões,/ praça típica de interior,/ cachaça com torresmo,/ artes sacras e boa viola,/ essa aldeia mineira/ só pode ser Calambau.”.

“Viagem através de Minas”, de Mário Lúcio, comprova que a poesia revela o sentimento do homem, às vezes compensando a angústia e às vezes bastando à alegria para as coisas e fatos se transformarem.

Doutor Mário Lúcio, como é chamado pelos clientes e alguns alunos, inclusive eu, começa a se destacar, todavia, no meio literário, através da poesia de Minas. Parafraseando o também Professor Lucas Abreu Barroso “é a primeira obra literária de um entusiasta da cultura”.

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Adriano da Silva Ribeiro, 26, graduado em Letras e Literaturas e graduando em Direito pela PUC Minas Betim.

Adriano Ribeiro
Enviado por Adriano Ribeiro em 22/02/2006
Código do texto: T115121