O futuro do trabalho em supermercados...

O futuro do trabalho em supermercados...

Tenho acompanhado a rotatividade excessiva de empregados em supermercados da minha região. É notório que esses estabelecimentos sempre apresentaram altos índices neste item, inclusive pelo grande volume de empregabilidade que proporcionam, mas isso tem se agravado de maneira realmente preocupante.

Podemos tentar identificar os motivos que dificultam a permanência dos empregados nessas empresas e certamente um dos principais fatores é a carga horária excessiva, que faz com que determinadas lojas permaneçam abertas por mais de 80 horas por semana, contra uma carga horária de 44 horas de outras atividades. Alguns supermercados extrapolam seus horários sem qualquer fiscalização e outros, ainda abrem suas lojas aos domingos e feriados, penalizando ainda mais seus empregados, que não recebem as horas extras feitas nesses dias, contando apenas com uma folga semanal, tirando do trabalhador a possibilidade de melhoria das condições de vida de suas famílias.

Outro ponto a ser levado em consideração é que os supermercados estão servindo como porta de entrada de jovens no mercado de trabalho, que procuram nestes estabelecimentos o seu primeiro emprego e acabam tendo aí a unica oportunidade, já que para os cargos iniciais, não são exigidas maiores qualificações, seja na questão profissional ou na escolaridade. Esses jovens que iniciam sua vida profissional em um supermercado, até tem seus sonhos de seguirem uma carreira dentro dessas empresas, mas em oito ou dez meses, com pouca atratividade salarial, uma carga horária desumana e condições pouco favoráveis, acabam por abreviarem suas carreiras nesse segmento e buscam em outras frentes, as oportunidades de melhoria das condições de vida a que cada um se propõe.

Quando se cogitou a possibilidade da abertura dos estabelecimentos de supermercados aos domingos, a proposta era outra, consistia em aumento de numero de postos de trabalho, em aumento de renda para os empregados, em melhoria nas condições de trabalho, mas isso como sempre ficou só no discurso.

O que quero questionar é que o trabalho em Supermercados está se tornando apenas o primeiro emprego, uma "casa de passagem", não há mais o interesse em formar uma carreira dentro de um supermercado, em virtude da carga horária e salários pouco atraentes. Portanto cabe a reflexão: quem gerenciará um supermercado no futuro? Digo isso, com conhecimento de causa, dediquei muitos anos de minha vida ao trabalho em supermercados, fui de empacotador a gerente de loja, mas hoje em dia isso já está se tornando raro e tende a piorar, talvez esteja na hora dos proprietários desses estabelecimentos se voltarem para o lado humano da questão, afinal muitos de seus funcionários tem filhos pequenos, querem estudar, ou ainda poderiam se especializar em seus próprios afazeres, mas sem tempo, cansados e sem recursos, isso acaba sendo deixado de lado.

Sempre é tempo de reflexão, as vezes um passo atrás, no meio do combate pode resultar na vitória da batalha, quem sabe não esteja na hora disso acontecer, dos empresários do setor de supermercados reverem alguns pontos para que se torne novamente um segmento atrativo aos olhos de muitos trabalhadores que buscam nesse setor o início de sua vida profissional. Proporcionar aos empregados uma remuneração mais justa, adotar um turno de trabalho de 06 horas e reavaliar a questão dos domingos e feriados trabalhados, são pontos primordiais na melhoria das condições de trabalho dessa classe tão esquecida.

Adilson R. Peppes.

Adilson R Peppes
Enviado por Adilson R Peppes em 28/08/2008
Reeditado em 16/11/2021
Código do texto: T1150030
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