O Brasil de ouro

Por ROBERTO VIEIRA

“Agora que os Jogos chegam ao seu final; agora que o sonho de ouro transforma-se em realidade, uma constatação: A Olimpíada é profundamente injusta.

Porque nas Olimpíadas o Brasil não pode levar o que tem de imbatível.

Você pensou em Futsal e Corrida de Jerico?

Também.

Mas a gente não pode esquecer nossas outras modalidades de ponta.

Na categoria políticos corruptos não teria pra ninguém.

Ainda mais em ano de eleição.

Seríamos ouro, prata e bronze, embora político corrupto exista em cada um dos 204 países membros do COI. Mas nenhum com nosso know how.

Menor abandonado? Campeões.

Favelas? Nós somos o Bolt das favelas.

Os Michael Phelps do desmatamento.

Prostituição infantil? Recorde em cima de recorde nas estradas deste país varonil.

Sofrimento nas filas dos hospitais? Um duelo de gigantes com o restante do terceiro mundo. Que seriam desclassificados pois a maioria não tem sequer hospital.

CPIs que terminam em pizza? Ouro!

Telefones ilegalmente grampeados? Ouro! Ouro! Ouro!

Pois é.

Não é que o Brasil se prepare mal para os Jogos Olímpicos.

Os Jogos Olímpicos é que insistem em promover a natação, a ginástica, o atletismo.

Quem sabe em 2016 no Brasil a gente vire a mesa.

Com uma ajuda do Caixa 2.”

Agora, o que eu penso:

Muito bom o texto do Roberto Vieira... Mas o que é feito por nós para mudar?

Enquanto nossos telejornais e algumas emissoras dedicavam, no mínimo, 85% de seu tempo para discutir a derrota da seleção masculina de futebol, a queda de Diego Hypolito, a prata do vôlei masculino, o sumiço da vara de Fabiana Murer e tantos outros fatos ocorridos do outro lado do mundo, aqui, “do nosso lado”, uma mulher, grávida de sete meses, era baleada e perdia seu bebê, um padre era esfaqueado após uma tentativa de assalto, criminosos invadiam posto policial e matavam um PM. E estes acontecimentos foram só no último fim de semana, imaginem o que não ocorreu durante os 15 dias de competição. Coisas importantes no nosso país foram deixadas de lado pelo noticiário.

E o que nós – sim, eu me incluo nessa - fazemos quanto a isso? Simples... Sentamos em frente à TV torcendo para o Brasil, passamos madrugadas em claro, e alguns discutem nas mesas de bar sobre os 8 ouros de um, o choro de outros. E o mais importante: a maioria de nós esquece de problemas tão alarmantes acontecendo a nossa volta.

Entendo que parte da imprensa resolva criticar o país agora. Afinal, é como se essa parte – e muitos de nós, também - estivessem acordando de um sonho, o “sonho olímpico”, e voltando a realidade. Realidade esta que não deveria ter deixado de ser prioridade, mas já que o foi, acabou por tornar-se um meio de crítica para o desempenho, abaixo do esperado, da delegação brasileira em Pequim. Afinal, alguns - não preciso citar nomes de empresas - investiram uma quantia bem grande para ter as melhores transmissões, as melhores notícias, e nossos atletas não teriam correspondido à altura.

O Brasil seria ouro, individual e por equipes, em mais uma modalidade: 'crítica após enaltecimento', em dois estilos, 'ao país' e 'aos atletas'.

E, como diria a Xuxa: Beijing, Beijing, tchau, tchau!

(Obs: o texto de Roberto Vieira foi retirado do blog do mesmo.)