PIRAPORA: ONDE O PEIXE SALTA!

Pirapora, de origem tupi, conjuga pira (peixe) e poré (salto). A cachoeira onde o peixe salta. Isso nos lembra batalhas antigas. Os índios Cariris, aqui abrigados das lutas na costa atlântica, duelaram com os bandeirantes Salmeron e Soeiros em 1687. A bandeira de Fernão Dias Paes Leme desceu o Rio das Velhas, na altura das corredeiras de Pirapora, deparando com os indígenas que habitavam as margens do Rio São Francisco. Travaram uma batalha sangrenta, mas, os nativos venceram os invasores.

Em tempos das capitanias, das sesmarias, das entradas e bandeiras, do século XVI ao século XVII, o grande sertão sofreu inúmeros embates. Afinal, o que seria dos exploradores do interior do continente sem os leitos dos rios? Quando, no século XVIII, trilhas e picadas abrem caminhos para o ciclo do gado e do ouro, sertanistas percorriam o Brasil.

Em “Pirapora, um porto na história de Minas”, a imaginação dos escritores piraporenses: Domingos Diniz, Brenno Álvares e Ivan Passos da Bandeira da Mota retrata com maestria esse momento: “(...) nos primeiros séculos do descobrimento do Brasil, os principais componentes do nosso Grande Sertão: branco, negro, índio, terra, ouro e gado. E, abraçando a todos, o rio São Francisco. Imponente, o grande rio fazia rolar as águas, ora cristalinas, ora turvas, às vezes serenas, às vezes intrépidas”.

Quem chega a Pirapora percebe, de repente, a paz do leito, o ímpeto das águas e das cachoeiras. Convidam então o visitante a navegar, pois, como dizia o grande poeta: “Navegar é preciso”. Surge como por encanto, o gaiola a vapor, batizado de Benjamim Guimarães e construído em 1913 nos Estados Unidos, último remanescente desse tipo de embarcação fluvial no mundo. Atualmente faz pequenos passeios, descendo e subindo o rio, intrépido, garboso, carregando em cada viagem, lendas de várias comunidades ribeirinhas, quando então pertencente à Companhia de Navegação do São Francisco – FRANAVE, perfazia o trajeto Pirapora-MG a Juazeiro-Ba, num percurso de aproximadamente 1.371 quilômetros. Tombado pelo IEPHA-MG – Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais, a embarcação resiste ao tempo.

As cidades de Pirapora e Buritizeiro, esta última na margem oposta do rio, estão unidas pela Ponte Marechal Hermes da Fonseca, com 694 metros de extensão, e inaugurada em 1925, tendo sua estrutura toda em metal, foi em tempos áureos da ferrovia, o único elo de união com a outra margem. Tempos de glória! A ponte é tida como um dos atrativos das cidades, devido à engenharia adotada em sua construção. Coisa linda de se ver!

Como município pólo da microrregião do Alto Médio São Francisco e ligado aos grandes centros populacionais, políticos e industriais, através da BR-365 e MG-496, Pirapora conta com um aeroporto de porte médio e um porto fluvial, este último, por muitas décadas foi responsável pelo escoamento de produtos, além de pessoas, em inúmeras embarcações até os Estados da Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas, e de lá para cá.

O artesanato, com destaque as carrancas, figuras mitológicas, em razão da história da navegabilidade do rio, chama a atenção de quem aqui chega. A culinária diversificada, os esportes náuticos e eventos como o Carnaval, o Encontro Nacional de Motociclistas e a Festa do Sol, esta última, infelizmente transformada em micareta (Carnaval fora de época), dentre outros, atraem turistas de diversas regiões do Estado e do país. Esses atrativos constituem pontos culminantes àquelas pessoas que tem a oportunidade de conhecer e desfrutar das maravilhas desse “rincão barranqueiro”.

Pirapora/MG, 24 de agosto de 2008.