CRUTAC

Fiquei impressionado com o fato da nova geração não saber o que significa CRUTAC e o que representou para a cidade de Santa Cruz (RN).

CRUTAC – Centro Rural Universitário de Treinamento e Ação Comunitária é um programa pioneiro de extensão universitária, criado e implantado por Onofre Lopes, primeiro reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, em 1966. Para informação do leitor, postarei uma série de artigos sobre o tema.

Lembro-me bem – tinha 14 anos – da grande movimentação na cidade de Santa Cruz (RN) que foi a grande beneficiada com a ação da UFRN.

A Maternidade Ana Bezerra, que há oito anos estava fechada foi reaberta sob os auspícios do programa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e que foi modelo para o resto do país.

No programa “Memória Viva” da TV Universitária, de março de 1981, o Dr. Onofre Lopes fala sobre a criação do CRUTAC: “Eu me encontrava na reitoria quando chegou uma senhora de Santa Cruz me pedindo para fazer funcionar a maternidade de lá, que estava fechada há seis anos, porque não tinha médico. Respondi-lhe que isso não era possível. Tratava-se de uma instituição do interior do Estado, nós tínhamos aqui na sede uma maternidade, um hospital, campo bastante para a prática dos estudantes e que, portanto, não tínhamos condições de fazer funcionar uma maternidade no interior do Estado. Não era da nossa obrigação. Não era dos nossos projetos. Não era uma missão da Universidade.

A Moça ficou muito triste, muito decepcionada e vi que ela queria chorar. Mas naquele tempo – e ainda sou hoje, quem sabe! – era muito sensível à lágrima de uma mulher (risos). Então eu disse, para consolá-la, que iria estudar o problema e ela saiu com uma certa esperança. E eu, efetivamente, naquele tempo, já sofria daquela doença terrível que se chama velhice, que tira o sono do indivíduo.

Então comecei a pensar que os estudantes da última série, os doutorandos de medicina poderiam fazer um estágio naquela maternidade, supervisionado pelo corpo docente. Assim como os estudantes faziam o estágio na maternidade, poderiam fazê-lo no interior, acompanhado de um assistente, de um auxiliar de ensino, ou até mesmo pelo titular. E fiquei pensando que isso seria viável.

Mas aí fiquei pensando, também, que no interior o problema não é somente de mulher que vai ter criança. Há crianças abandonadas e há adultos que precisam. E fiquei pensando: mas o problema não é só de saúde, não é somente de clínica médica, não é somente de meninos que estão precisando receber uma medicação para uma verminose; o problema não é, somente, conselhos de puericultura, é preciso uma coisa maior. É o problema, inclusive de odontologia. Aquela gente de dentes estragados que é, muitas vezes, o ponto de partida para outros estados patológicos.

Aí fiquei pensando, também, que o problema não era apenas de saúde. Aquela gente, também, não tinha educação cívica, aquela gente também não tinha educação sanitária, não tinha orientação para alfabetização bem segura, que o trabalho era rotineiro, que o trabalho não dava rendimento para a manutenção de sua própria casa, para as necessidades alimentares; não tinha dinheiro para a compra de roupas e sapatos para o menino ir à escola, e isto condicionaria, naturalmente, o aumento do analfabetismo.

Também aquelas cidades do interior, aquelas povoações cresciam desordenadamente. E se aquelas comunidades passassem a ter uma assistência da Escola de Engenharia, haveria um crescimento já planejado, já convenientemente orientado.

Então eu fiquei pensando. É a universidade toda. E por que não a Universidade toda? Por que todos os estudantes não podem fazer estágio de Medicina, de Farmácia, de Odontologia, de Serviço Social, de Educação, de todas as unidades que fizerem a Universidade? Por que não se pode fazer uma equipe de estudantes, convenientemente supervisionados pelo corpo docente para prestação de serviços e para educar o povo? Por que não se pode fazer isto?

Então, daí nasceu a ideia de transportar a Universidade, com os seus conhecimentos, com a sua prestação de serviços para o interior”.

DJAHY LIMA
Enviado por DJAHY LIMA em 22/08/2008
Reeditado em 13/12/2017
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