As Quimeras da Auto-Ajuda
O ser humano costuma ser muito rigoroso quando julga os semelhantes e muito complacente quando deve julgar-se. Culpa os demais por seus infortúnios. Os outros são sempre os responsáveis por tudo: familiares, amigos, o governo, o sócio, o patrão, o empregado. Dificilmente reclama de si mesmo e se coloca como alvo das próprias críticas. Assim, é muito difícil encontrar a força necessária para ajudar-se. A força existe, a possibilidade está latente; para despertá-la, será necessário mudar a conduta no dia-a-dia. A tarefa exige sinceridade, humildade, desprendimento, certa dose de coragem e perseverança.
Há pessoas que não querem mudar sua maneira de ser, querem continuar seguindo como são, estão satisfeitas. Há as que querem mudar, transformar-se, melhorar. E se é para mudar para melhor, então é melhor mudar. Uns querem deixar de ser impacientes, irritadiços, intolerantes; outros, conviver melhor com parentes e amigos, encarar com sucesso os assuntos sociais e profissionais, deixar de experimentar a tristeza e a depressão, abandonar a timidez que impede a exposição clara do pensamento e ser úteis a si mesmos e aos semelhantes, encontrando um sentido maior para a vida.
Há sempre uma melhor maneira de executar as tarefas diárias. A idéia de fazer melhor é uma forma de sair da rotina. Fazer tudo sempre do mesmo jeito, sem nenhuma variação, faz fracassar a capacidade de iniciativa submergindo a pessoa no marasmo do tédio e na desconfortável sensação de inutilidade. Fugir da rotina é uma forma de renovação e de aproveitamento do tempo, pois ganhar tempo é ganhar vida criando novas atividades, novos pensamentos, aperfeiçoando o que se vem fazendo. Ao procurar fazer melhor, aprende-se a gostar do que se faz, que é uma das maneiras de viver bem e ser feliz.
Os manuais de auto-ajuda amplamente comercializados na atualidade, apesar de sua ineficácia, demonstram que existe nas pessoas uma necessidade reprimida nesse sentido; já se compreende que nenhum mago ou guru poderá ajudá-las, senão elas próprias; que a auto-ajuda é possível quando se decide caminhar com as próprias pernas, sem nenhuma muleta, libertas dos preconceitos seculares que têm impedido o homem de conhecer-se e construir um destino melhor.
Todo o ser humano, independente de seu avanço evolutivo, tem a possibilidade de melhorar, de superar o estágio em que se encontre. Mas será necessário conhecer-se e ir transformando a maneira de ser, pensar e sentir.
Ajudar-se é possível para os que têm a coragem de se reconhecer tal como são, sem nenhuma ilusão. A partir daí, abre-se um vastíssimo campo de experiência pessoal no qual podem transformar a vida pelo autoconhecimento e aperfeiçoamento das qualidades pessoais.
Quem quiser chegar a ser o que não é deverá principiar por deixar de ser o que é, afirmou o pensador González Pecotche. Cada ser humano carrega dentro de si o segredo do êxito em todas as ordens da atividade individual; a dificuldade consiste em vislumbrá-lo e acioná-lo. E tudo se inicia com a humildade e a sinceridade no juízo que se faça sobre si aliadas à postura inteligente do aprendiz diante de tudo que lhe possa ser transmitido como ensinamento para o seu aperfeiçoamento individual.
Nagib Anderáos Neto
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