QUANTO VALE UMA PRAÇA?

Dona maria tem um sonho, até tirou uma foto e montou o desejo: Um quarteirão de casas em frente a sua casa no bairro Ipiranga foi demolido. O terreno agora desocupado espera a construção de um prédio de alto padrão com muitos apartamentos. Mas, dona Maria tirou uma foto do espaço e imprimiu. Sobre a foto colocou uma linda praça e muitas árvores. Tem jacarandá, pinheiros, ipês de várias cores, um lindo gramado, flores e uma fonte de água cristalina. Pronto, esta é a visão que deseja ter de sua janela e a oportunidade de ouvir pássaros cantando quando acorda pela manhã. O ar do bairro até melhorou, ficou mais fresco e mais úmido. A visão do verde mudou o humor dos vizinhos, sorriem mais. As pessoas fequentam a praça, se comunicam e ficam mais solidárias, mais amigas, conhecem seus vizinhos. As crianças têm espaço para correr e brincar. Os jovens para namorar e os idosos para o convívio social. Isto é quanto vale uma praça, não tem preço!

Ah, e quanto ao prédio que ia ser construído? Os moradores do bairro se uniram e conseguiram provar para a subprefeitura que mais necessário seria a praça do que qualquer empreendimento imobiliário. Helen keller, homenageada com o nome de uma rua do bairro disse certa vez: "Sozinhos podemos aspirar a tão pouco, juntos podemos alcançar tanto!". É isto, dona Maria estava no início desanimada, imaginando que nada poderia fazer contra aquele gigante imobiliário, de olho na valorização do terreno com a chegada do metrô, mas ao se mobilizar junto com seus vizinhos, viu que todos queriam o mesmo e lutaram pelo objetivo. Enfrentaram e eliminaram a ameça. Além disso, encarando essa batalha, são um exemplo para que gerações futuras, continuem lutando por uma melhora em seu ambiente. Afinal, nada pagaria o bem estar adquirido com este lazer, nem mesmo os altos lucros adquiridos com a venda dos apartamentos. O grande número de pessoas que viriam, iria prejudicar o já caótico trânsito local, com alto padrão de emissão de gases com efeito de estufa, que já suporta a marca de um dos piores da cidade, sem contar o aumento de doenças respiratórias provocados pela poluição. Sabemos que não só as indústrias, mas também os donos de automóveis devem se responsabilizar por manter abaixo de 450 ppm CO2 na atmosfera. É importante que a política municipal concorde com os objetivos mundiais, principalmente com os governos internacionais a negociar o programa pós-2012 para o protocolo de Quioto.

As crianças da escola local seriam prejudicadas pelo auto índice de ruído provocado pelo trânsito, pois de nada adianta a velocidade com que podemos construir novas moradias se elas irão prejudicar os atuais habitantes, é correr para o lado errado e marcar gol contra.A rede de esgoto não suportaria tal carga. O rio logo abaixo iria se transbordar e a Organização Mundial de Saúde, junto com a Secretaria do Meio Ambiente vetaram o projeto. Vitória do verde!!

"Devemos adotar um modo substancialmente diferente de pensar se quisermos que a sociedade sobreviva." Albert Einstein

A organização mundial de saúde atesta como saudável que cada cidadão tenha acesso a (discute-se se este foi estabelecido pela ONU, ou não) 12 metros quadrados de área verde por habitante para que haja equilíbrio entre a quantidade de oxigênio e gás carbônico. Se incluirmos todas as atividades antrópicas com combustão (indústria, tráfego, atividades domésticas) este índice se eleva para 75 metros quadrados por habitante. O bairro de dona Maria possuía, em 2000 apenas 14,11 metros quadrados de área verde por habitante. Passados 8 anos, a subprefeitura não tem dados atuais para mostrar, estima-se no entanto que após a explosão demográfica este número esteja em apenas 5 metros quadados. Em Curitiba, considerada exemplo do tipo de planejamento urbano aclamado pelo relatório State of World Population: Unleashing the Potential of Urban Growth, de 2007, existem hoje 51 metros quadrados (550 pés quadrados) de área verde para cada cidadão. Que tal buscar esta meta?

Outro dia, discutindo com um político sobre a falta de praças em nossa cidade dona Maria ouviu como desculpa: "Ah mas se tivesse mais praças, seriam mais lugares para os bandidos se esconderem e também ponto de viciados."

Mas espere uma pouco... E onde fica o papel do governo municipal de manter a ordem e manutenção das praças? E não são elas também espaço de lazer tão necessário ao bem estar socal? Não são elas também um ponto positivo onde crianças, jovens e adultos podem se encontrar e viver seu lazer, deixando-os mais saudáveis pelo contato com a natureza e ar puro proporcionado por árvores? Ou seja, as praças são espaços públicos para melhorar a qualidade de vida, e não o contrário. Áreas sem espaço de lazer como parques e praças são comprovadamente mais violentos.

Para ela ,isso se deve, sobretudo, ao recuo do papel do Estado em relação às políticas públicas de bem-estar social.

Praticamente todas as cidades brasileiras acusam menos de 5 metros quadrado por habitante, portanto, elas são deficientes em áreas verdes, fato que se explica pela falta de conhecimentos da importância das áreas verdes por parte das autoridades e também pelo alto custo de preparação e aquisição de mudas, podas, limpeza, combate às pragas, estragos em tubulações e fiação elétrica.

Sabemos que áreas verdes não precisam ser necessariamente extensas, ao contrário, podem ser pequenas em área, mas numerosas. São cidades verdes as que possuem cobertura vegetal, especialmente arbórea em todo o espaço urbano: parques, jardins, quintais, ruas e avenidas e ao longo de rios e lagos.

As vantagens da existência de áreas verdes são inúmeras:

a) Criação de microclima mais ameno que exerce função de centro de alta pressão e se reflete de forma marcante sobre a dinâmica da ilha de calor e do domo de poluição;

b) Despoluição do ar de partículas sólidas e gasosas, dependendo do aparelho foliar, rugosidade da casca, porte e idade das espécies arbóreas;

c)Redução da poluição sonora, especialmente por espécies aciculiformes (pinheiros) que podem acusar redução de 6 a 8 decibéis;

d)Purificação do ar pela redução de microorganismos. Foram medidos 50 microorganismos por metro cúbico de ar de mata e até 4.000.000 por metro cúbico em shopping centers;

e)Redução da intensidade do vento canalizado em avenidas cercadas por prédios;

f)Vegetação como moldura e composição da paisagem junto a monumentos e edificações históricas.

Razões para criar parques e espaços verdes: evitam a ocupação ilegal, permitem a drenagem e transbordamento dos rios que passam pela cidade; e fornecem espaço para atividades culturais e recreativas. CIDADE SEM ÁRVORES = CASA SEM JARDIM.(Helmut Troppmair e Márcia Helena Galina)

Fonte:

http://hdr.undp.org/en/media/HDR_20072008_PT_chapter32.pdf

http://mercadoetico.terra.com.br/noticias.view.php?id=632

http://www.rc.unesp.br/igce/planejamento/territorioecidadania/Artigos/helmut%201.htm

http://www.nossasaopaulo.org.br/observatorio/analises.php?tema=8&indicador=56&ano=2000#info