Revolução Branca

Uma revolução branca toma as ruas das cidades todo ano, principalmente no mês de maio. Belas moçoilas andam de um lado para o outro a procura de um vestido, prefere-se a cor branca, e as roupas dos demais convidados cerimoniais. O véu e grinalda são indispensáveis para a realização do sonho de muitas casadoiras por aí. Durante meses os preparativos avolumam-se na vida do casal e acaba se tornando o melhor assunto para se discutir. A benção da religião ou da justiça é o antepenúltimo degrau para a felicidade eterna, na saúde e na doença. Com o salão atopetado de criaturas dançantes e risonhas (quase) fecham a noite nupcial. Após a festa e a valsa, enfim sós, os recém-casados se entregam ao momento mais esperado: núpcias. Depois da noite de prazer acontece, nem sempre, a lua-de-mel (tradição que depende das finanças da nova família): se forem ricos viajam por uma semana; se forem desfavorecidos finançeiramente hão de se contentar com um cineminha, ou ainda uma segunda noite de núpcias.

Após o cerimonial vem a realidade: vida a dois. Escovas compartilhadas, toalhas juntas, mesmo quarto, mesma vida. Uma cama dupla, sono conjugado. O amanhecer é a certidão de óbito matrimonial que têm seus parágrafos preenchidos todos os dias. Como dizem: quem não nos conhece que nos compre. Os defeitos são os espelhos da alma e também os mais importantes para uma rusga de vez em quando. Aquela velha história de que seja infinito enquanto dure são as palavras mais sábias escritas por um ser vivo, pode ser que o infinito se torne uma finidade de dias juntos. O casamento marca a neo-escravidão de pequenas criaturas indecisas no amor, para algumas o matrimônio é forma de ganhar dinheiro e ainda alforria das garras da família.

Uma coisa fica em fuso com o verdadeiro sentido da festa esbranquiçada: o sexo. Amor é poesia, carinho, amizade, paixão, beijos, toque. Sexo é instinto, prazer, luxúria, momento. O leitor pode discordar do ponto anterior, mas exponho fatos comprovados cientificamente. Então um saltinho de cerca de vez em quando pode ser considerado apenas um instinto incontrolável, ora, como? Se isso for verdade, a sim uma justificativa para traição. Kubrick em seu “De Olhos Bem Fechados” nos mostrou um casamento superficial e desprovido de ideologias. Aterrissando hoje percebemos que a verdade não é essa: traição é causa de oitenta e três por cento dos divórcios, segundo pesquisa do IBGE.

“Prometo ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença... até que a morte nos separe”, uma promessa feita dentro de âmbitos judiciais e religiosos que não deve ser descumprida. Os antigos diziam que promessa é dívida, se fosse levado ao pé da letra o inferno (se é que existe) iria ficar cheio de animais racionais com cara de choro. As bodas são noticiadas quando atingem uma quantidade significativa de anos, há uma festa para as de ouro, diamante e mais algumas pedras preciosas, geralmente quem comemora são os nossos avôs e avós cansados de viverem juntos tantos anos. Quando não se separam, procuram uma enfermidade para ocupar o tempo.

Não existe perfeição no casamento e nem príncipe ou princesa em um castelo brilhante esperando nós (os românticos incuráveis), uma relação deve ser construída a cada dia e cada obstáculo discutido nos períodos anteriores deve ser vencido e festejado com uma boa noite a dois. Não procure um manual de instruções no matrimônio, viva a vida a dois da melhor forma possível procurando extrair as qualidades da pessoa ao seu lado. A metade da laranja será encontrada raramente, então temos de nos contentar com os bagaços dela para vivermos felizes. .