A CONSTRUÇÃO DO AUTO CONCEITO POSITIVO E SUA IMPORTÂNCIA NA RELAÇÃO PEDAGÓGICA
A CONSTRUÇÃO DO AUTO CONCEITO POSITIVO E SUA IMPORTÂNCIA NA RELAÇÃO PEDAGÓGICA
( Flávia Sampaio )
Grande parte das escolas e dos professores, apesar de conhecer e dissertar sobre afetividade, desconhece ou desconsidera o papel que ela desempenha no desenvolvimento da inteligência e na construção do conhecimento.
Na relação professor-aluno, o vínculo estabelecido entre ambos provoca, influencia, motiva a relação e interfere significativamente na formação do sujeito, facilitando a troca de saberes e o desejo de aprender.
E, como vínculo, os gestos, mesmo que pequenos por parte do professor, apresentam um caráter afetivo que o une ao aluno. Os gestos do professor, consciente ou inconscientemente, fornecem ao aluno subsídios afetivos que irão ajudá-lo a construir seu auto-conceito positivo.
Diante das inúmeras situações afetivas presentes no ambiente escolar, o olhar ocupa um lugar de primeira grandeza, pois além de captar imagens, ele se abre para receber o que o outro transmite, e o “outro” é o professor que “falará” e refletirá no aluno seu conceito, seus valores e seus significados.
O olhar ( não o olho, físico, biológico) transmite energia. O olhar “fala”, capta e motiva, conforme cantava Tom Jobim: “Esse teu olhar, quando encontra o meu, fala de umas coisas que eu não posso acreditar... Doce é sonhar, é pensar que você gosta de mim, como eu de você!(...)”
Dentro do espaço escolar, o olhar se abre para receber o que o outro sente, fala, transmite... É através dele que o aluno se percebe amado, respeitado, valorizado, acreditado ou, de outra forma, desvalorizado e inseguro.
O olhar demonstra impressões e significados, promove um intercâmbio de sensações, emoções e sentidos.
Lacan ( 1941 ), psicanalista pós-freudiano, introduziu a noção do “Reflexo ou Estágio do Espelho”, que é a pessoa se ver refletida no olhar (espelho) da outra e receber toda a gama de atribuições, investimentos e expectativas que este transmite.
Desta forma, o espelho (olho) transmite as percepções que o professor apresenta a respeito de quem se olha nele ( o aluno ). E, conforme o que estiver refletido, influenciará positiva ou negativamente no aluno, pois este percebendo-se respeitado, admirado e seguro, acaba por vestir-se destes sentimentos e credita a si próprio o mérito de tais, reforçando sua auto-estima, impulsionando sua curiosidade e seu sentimento de competência.
E, ao fornecer olhares, gestos e toques, não de uma forma mecânica, mas com afeto e bem querer, o professor permite que sentimentos de segurança e de coragem sejam construídos pelo aluno, que desenvolve uma postura e um olhar diferente sobre si mesmo: um olhar de respeito.
Também o diálogo, sincero, respeitoso e horizontal, aproxima e fortalece a relação dos sujeitos participantes dela. O diálogo abre portas à confiança, e o aluno sentindo-se confiante, valorizado e respeitado, assume o respeito por si próprio, com ajuizamento de valor positivo.
Os gestos significativos de respeito e consideração que ocorrem cotidianamente no espaço escolar impulsionam, provocam e contribuem para o desenvolvimento da segurança e autonomia do educando, assumindo-se.
O reconhecimento do valor das emoções e da afetividade no ambiente escolar, em oposição aos conteúdos curriculares transmitidos numa “educação bancária”, em que o aluno somente recebe, escuta, de forma passiva; fornece elementos para a construção de vínculos afetivos na relação.
O professor, de posse desse reconhecimento, propiciará ao aluno uma intervenção positiva sobre seu auto-conceito, oferecendo confiança, escuta e segurança.
Ou, de outra forma, o educador que não reconhece que a afetividade e as emoções apresentam um papel extremamente relevante em sua relação com o educando e, este na construção de seu conhecimento, acaba por prejudicar todo o processo de aprendizagem em que o aluno está envolvido, pois gera neste insegurança, impotência e sentimento de incapacidade frente à perspectiva de novas aprendizagens.
Assim sendo, o educador que rompe os vínculos afetivos com seus alunos impondo-lhes sua autoridade, renegando e desconsiderando o conhecimento de mundo que o aluno traz para o espaço escolar, acaba por feri-lo.
O respeito ao aluno e à sua leitura de mundo se torna imprescindível para a construção de seu conhecimento, pois a comunicação, verdadeira e sincera, se inicia, dando estímulos para o sentimento de competência.
FLÁVIA DE OLIVEIRA SAMPAIO SILVA
( Pedagoga, Pós-graduanda em Gestão Escolar Administrativa e Pedagógica e Professora da Rede Municipal de Ensino de Volta Redonda )