VERDADE TROPICAL - Caetano Veloso
VERDADE TROPICAL, de Caetano Veloso é uma obra interessante, ao mesmo tempo de memórias do autor e dos grupos baianos que migraram para São Paulo e Rio de Janeiro nos anos 1960, participando de festivais e mudando a face da mpb com o Movimento Tropicalista, inspirado numa tela de Hélio Oiticica, Tropicália, cujo movimento sucedeu a Bossa Nova.
Caetano fala o tempo todo em dois Gilbertos.
Um é João Gilberto, que ele tem na conta de gênio e chegou a ouví-lo inúmeras vezes para tomar decisões. Enquanto Gilberto Gil Caetano vê como o grande músico, grande instrumentista, criador do Tropicalismo.
Como no livro lançado por Gil, anos antes ter registro vago da presença de Caetano, quem sabe, consciente ou inconscientemente o compositor de Alegria, Alegria não lhe tenha dado o troco, como aliás já vimos em outras oportunidades.
As presenças marcantes de Maria Bethãnia, Gal Costa, Tomzé, John Alf e muitos outros ficam evidenciadas ao longo da narração muito bem composta por Caetano que tem muita facilidade de se expressar.
A sua prisão e a prisão de Gil ele descreve com maestria.
Os dias que passou preso no DEOPS e na Aeronáutica, são contados com muita emoção, depois de quase quarenta anos e revelam o lado podre da Ditadura Militar!
Depois o relato do exílio em Londres, a aversão que ele sente pelos Estados Unidos, as músicas que compôs em Londres, a volta para o Brasil, e a sensação de Liberdade na sua chegada ao Brasil que reecebe uma carga emocional de rara felicidade no livro, dão para encantar o leitor.
Quem sabe, Caetano possa escrever sobre outros temas em outros livros ou este seja seu único registro que fica para a história das Artes e da Política Nacional. Ele leva jeito para escrever. É um contador de histórias e sabe guardar detalhes importantes em sua privilegiada memória.
Quem tiver acesso terá a sensação de estudar a Ditadura sem tê-la vivido. E se o leitor viveu aqueles anos negros de Censura e falta de Liberdade de Expressão, vai-se identificar mais ainda com o livro. Vale a pena a leitura.
O Brasil agradece.